Reflexão do Evangelho

A Experiência da Transfiguração

Nesta semana meditaremos a passagem bíblica conhecida como sendo da Transfiguração, momento este em que Jesus chama Pedro, Tiago e João para uma experiência cheia de significados, mas que por sua vez oportunizou evidenciar algumas posturas daqueles seguidores de Jesus, ou pelo menos de um, que nos ajuda a refletir sobre nosso próprio seguimento. Há também uma mensagem muito forte que ecoou naquela ocasião e que necessita também hoje reverberar em nós.

Jesus está caminhando fora da Galileia; passa por Tiro, cura a filha de uma siro-fenícia; pela Sidônia, cura um surdo-gago; já em Betsaida, um cego. Neste meio tempo, acontece a segunda multiplicação dos pães e a profissão de fé de Pedro. Ou seja, ‘a essa altura do campeonato’ Jesus já chamou seus discípulos (e por que não dizer discípulas também?), tem conversado com o povo e realizado milagres… já mobiliza multidões.  Contudo o episódio da Transfiguração aparece no meio desta narrativa toda, fazendo algumas conexões com o Primeiro Testamento, como que dando liga a tudo aquilo que estava acontecendo com/por Jesus, mas dentro do fio da história da salvação do povo de Deus.

O texto inicia com Jesus chamando três discípulos para uma alta montanha. Na narrativa bíblica, subir a montanha conota chegar mais perto de Deus. É um jeito de se aprochegar ao céu, como se Deus estivesse apenas lá. Esta postura é típica na Primeira Aliança, basta lembrarmos, por exemplo, que Moisés recebe as tábuas da Lei no alto do Monte Sinai. Aliás, o relato da Transfiguração não tem só o lugar geográfico em comum com o episódio de Moisés no Monte Sinai. Quando Moisés desce com as tábuas, depois de ter falado com Deus, este também fica com o rosto resplandecente (Ex 34, 29-30). Ou seja, o que acontecera ali rememora o que já havia acontecido antes.

A voz em meio a nuvem também lembra uma outra passagem do Êxodo (40,34-38) quando uma nuvem cobriu a Tenda da Reunião, e a glória de Deus encheu a Habitação. Mas esta voz também pode ser associada ao batismo de Jesus, que a comunidade de Marcos (1, 9-11) já havia contado dizendo que na ocasião uma voz veio do céu e proclamou que Aquele era seu Filho amado. A grande diferença, porém, é que se no Batismo, Deus fala diretamente com Jesus, agora na Transfiguração Ele fala para todos/as: “Este é o meu Filho amado” (Mc 9, 7b).

Muito embora Jesus tenha subido a montanha, o fato Dele ser o Filho amado, e de isso ser dito reiteradas vezes nos provoca a cremos numa espiritualidade encarnada, em um Jesus irmão de caminhada.

Agora, na história contada pelos 3 Evangelhos sinóticos[1] há algumas coisas da postura de Pedro que nos chamam a atenção. É comum escutar homilias, pregações e ver estudos que abordam o desejo desse discípulo em fazer tendas para Jesus, Moisés e Elias, depois de sentir que estar ali era bom. Por melhor que seja, não se vive de pleno gozo sempre e a fé é vivida no cotidiano da vida, por isso Jesus não aceita a proposta e mostra que é tempo de “descermos do monte” e atuarmos. Fé e vida caminhando juntas.

Mas gostaria de chamar a atenção para algo que muitas vezes passa batido. Em Mc 9, 6, diz que Pedro falou da construção das tendas, pois ele “não sabia o que dizer”. Será que na falta do que falar, não deveria Pedro ter silenciado? Há um ditado popular que diz que em boca fechada não entra mosquito. Tal ensinamento pode nos inspirar ainda hoje: se não for o correto, o justo, o agradável, o belo, para que dizer? Para aparecer? Para dividir? Há também quem diga que o silêncio em certos momentos vale mais que mil palavras. Tem coisas que devemos mesmo comtemplar… viver a experiência, para depois racionalizar e aí poder compreender e partilhar!

Outro aspecto importante deste texto bíblico é o recado dado por Deus. A voz não apenas diz que Jesus é seu Filho muito amado, mas recomenda “Escutem o que ele diz!” (Mc 9, 7b). Os discípulos receberam uma cutucada da Deus. E percebam: escutar é diferente de ouvir! Escutar é “estar consciente do que está ouvindo”, é “ficar atento para ouvir”;  é “dar atenção a”[2].

Este pedido de Deus aos discípulos é também para nós hoje. Temos escutado o que diz Jesus? Temos seguido seus ensinamentos? Muitos dirão que sim! Mas qual Jesus mesmo temos seguido? O que diz amai-vos, ou aquele que diria armai-vos?

O texto da Transfiguração traz a cena com Jesus, Moisés e Elias… Rememora então a libertação do povo de Deus da escravidão (sim, de uma escravidão como a que os/as africanos/as foram submetidos/as aqui no Brasil!), ou seja, a crença em um Deus libertador, que ouve o sofrimento do seu povo e desce para ajuda-los/as, e os/as inspira a buscar terra boa onde viver e partilhar. Também traz a força da profecia: anunciar, denunciar e como nos provocou dom Pedro Casaldáliga, esperançar.

A transfiguração mais que um momento de êxtase, é um acontecimento pedagógico que nos faz retomar as bases de nossa experiencia de fé e nos provoca a escutar mais atentamente o “divino mistério profundo” para que estando junto do povo, estejamos com o coração ardente e possamos caminhar com eles/as.


Pedro Caixeta, do CEBI Anápolis/GO.


[1] Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas.

[2] Segundo o Dicionário Oxford

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