No caminho da Comunidade Saco do Capitão, Santa Bárbara
– Você tem fome de quê?
– Tenho fome de saciamento
e meu pão não tem tamanho
Guardei a cuia da viúva de Sarepta
que, vejam só, agora faz milagre ao contrário
Eu vou continuar com fome
– Você tem fome de quê?
– Eu tenho fome da fome
E não adianta mandar um pássaro com um pão
no bico como para Elias fugindo no deserto
Deus me livre de viver sem fome de vida
e de buscar esse pão de sal
– Você tem fome de quê?
– Não só de pão vive o homem
e pão, até tenho
me falta um pedaço de sentido
uma colher de horizonte, um copo de sonho
e mais para essa mesa vazia
– Você tem fome de quê?
– Eu tenho fome de paz
e o outro me serviu uma bandeja de correntes
Queria uma terra, lugar, lar
de comer felicidade fresquinha
ao som da Banda da Justiça cantando ao vivo
– Você tem fome de quê?
– Como assim: ‘Fazei isso em memória de mim?’
Qualquer fome à cercania
deixa constrangida a minha eucaristia
pois é sobre comer
Dai-lhes vós mesmos!
– Você tem fome de quê?
– Estive com fome, não me deste de comer
e a multiplicação dos pães não nos alcançou
A fome ianomâni e a fome da rua: ignomínia e horror
Self-service: indignação, resistência, esperança
– Você tem fome de quê?
Marcio L’o
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