Nesses dias, aconteceu em Salvador – BA o 3º Encontro Nacional de Juventudes e Espiritualidades Libertadoras (ENJEL) que teve como objetivo reforçar o processo de construção do MEL (Movimento de Juventudes e Espiritualidades Libertadoras) nas diversas regiões e recantos do país. O tema geral do encontro “Sabores, Saberes e Lutas: Territórios do Bem-viver” foi principalmente vivido, como se o próprio encontro fosse um ensaio do que é o Bem-viver.
Trata-se de uma filosofia de vida, oriunda da experiência de vários povos indígenas e que pode ser proposta de organização social para toda a humanidade. A partir do critério de reciprocidade entre as pessoas, da amizade fraterna, da convivência com outros seres da natureza e do profundo respeito pela terra, os povos originários têm construído experiências realmente sustentáveis que podem orientar nossas escolhas futuras e assegurar a existência humana. Nas Constituições da Bolívia e do Equador, se propõe que a promoção do Bem-Viver é dever do Estado e é direito de toda a sociedade. Cada vez mais, tragédias como as inundações atuais no Sul do Brasil revelam as consequências que todos sofrem quando a sociedade toma como paradigma fundamental o lucro e não, em primeiro lugar, a vida.
O paradigma do Bem Viver só é possível na contramão de um modelo de desenvolvimento que considera a terra e a natureza apenas como mercadorias e as pessoas como peças de produção e consumo. Ora, as principais vítimas desse sistema desumano são as juventudes do campo e da cidade. Por isso, os (as) jovens são os primeiros atores do processo do Bem-viver. No Brasil, desde 2014, se começou o processo do Movimento de Juventudes e Espiritualidades Libertadoras (MEL) que, pouco a pouco, se espalha pelas diversas regiões do país e já organizou três encontros nacionais. Esse que ocorreu agora, em Salvador, BA, foi o terceiro. Ocorreu da 5ª feira, 30 de maio ao domingo 2 de junho. Contou com mais de 150 pessoas, entre jovens de diversas tradições religiosas e algumas pessoas mais velhas, convidadas, porque a vivência das espiritualidades libertadoras supõe o diálogo intergeracional, conduzido pelas juventudes, mas com participação de pessoas mais velhas.
Durante esses dias do III ENJEL, as pessoas que participaram do encontro tiveram oportunidade de conhecer e conviver com comunidades remanescentes de Quilombos, assentamentos do MST, grupos de religiões negras e indígenas. Além disso, o encontro aprofundou assuntos e desafios para o Bem-Viver. Todos sabemos que esse processo tem como base uma espiritualidade amorosa e aberta ao diálogo com as diversas culturas.
O próprio encontro foi palco no qual se ensaiou o Bem-viver, pela experiência de comunhão entre diversas culturas e diálogo entre religiões, especialmente, a abertura para os cultos afrodescendentes e espiritualidades dos povos originários. De fato, nesse encontro, as pessoas de Candomblé e Umbanda se sentiram à vontade para cantar, dançar e falar de sua espiritualidade. Quem era de Igreja cristã viveu a fé como acolhida dos irmãos e irmãs dos cultos originários. Não se buscou explicitar elementos próprios da fé e ritos das Igrejas e sim valorizar os outros (as) e comungar com eles e elas. Isso foi excelente ensaio do Bem-viver.
Desde a abertura do encontro até o seu encerramento, imperou uma energia de afeto. Grande onda de carinho dominou cada momento e todos os detalhes do encontro. Foi verdadeiro ensaio do Bem-viver.
Todas as pessoas que participaram saíram dali decididos (as) a reforçar o processo do MEL (Movimento de Juventudes e Espiritualidades Libertadoras) em suas bases e regiões e, assim, seguir juntos e juntas nessa ciranda linda e espiritual da construção em nós e no mundo do Bem-viver que os evangelhos chamam de “reinado divino”.
Autor: Irmão Marcelo Barros