Chegamos à semana santa de 2024. Sou chamado a fazer algo em que a minha alma se deita, refletir sobre o Evangelho de Jesus de Nazaré. Nesse diapasão, mais importante do que refletir sobre a páscoa do ocidente cristão, é tentar mergulhar na profundidade do seu significado. A busca desse sentido crístico da festa me leva de volta à Jerusalém do ano 33 da nossa era, onde tudo começou. O nazareno, montado num jumentinho, entrava pela porta principal da cidade, aclamado como um rei. A multidão levantava as folhas de palmeiras cantando “Hosana ao Filho de Davi” enquanto o aclamava como o Messias que finalmente havia chegado para salvá-los do domínio de Roma. Aquela gente palestina, de rostos marcados pelo sofrimento e pelo desencanto com os governantes do mundo, agora se reconhecia naquele Rei, montado num jumento. Enquanto isso, as castas que governavam a cidade destilavam o veneno da inveja, inconformadas com as honrarias concedidas a um galileu campesino, vindo da periferia, morador de Nazaré.
Enquanto era acolhido pela multidão e rejeitado pelas castas do templo, Jesus permanecia sereno, focado no objetivo da sua missão: consolidar os fundamentos do Reino de Deus num mundo dominado pela paz violenta do império! Para isso, o rei periférico, radicalizado em sua humanidade/divindade, sabia que a travessia precisava ser realizada. O sentido profundo da páscoa haveria de ser confirmado afim de permanecer, para sempre, como o registro da participação amorosa da divindade na história humana. Um sentido indelével, cheio de simbolismo libertador, afinal, são os símbolos que dão significado à existência, onde o ser humano protagoniza a história. Por isso, o REI vinha montado num jumentinho, ao invés de conduzido numa carruagem real. Fez assim, para mostrar que seu governo tem a cara, o jeito e o cheiro das pessoas mais simples do povo.
Não canso de me surpreender com o salvador que vem de Nazaré. Ele é o ungido de Deus! Proclamado pelas Escrituras como Rei dos reis e Senhor dos senhores, se revela no carpinteiro periférico de Nazaré, incrivelmente humilde, que deseja estabelecer seu trono no coração humano. Ele deseja que o reconheçamos nas outras pessoas, “nazarenos” como ele, independentemente da camada social, religião, origem étnica, orientação sexual, ou qualquer outra diferença que nos desumanize. Naquele dia, na entrada de Jerusalém, o galileu inaugurou um sentido profundo de pertencimento a um outro tipo de reino, diferente dos reinos humanos, um reino cujo REI se tornou como um de nós!
Agora sim, as palavras da profecia fazem sentido! Olhando para o Rei montado no jumento, celebrando a chegada de uma nova humanidade, inaugurada em sua própria vida, consigo entender as palavras do profeta ditas muito antes de Jesus nascer:
“Alegre-se muito, povo de Sião! Moradores de Jerusalém, cantem de alegria, pois o seu rei está chegando. Ele vem triunfante e vitorioso; mas é humilde, e está montado num jumento, num jumentinho, filho de jumenta.” (Zacarias 9:9).
Convido você que lê estas linhas a viver, uma vez mais, o sentido libertador do Páscoa do Salvador Jesus. Segura na minha mão e acolhamos o Senhor. Ele é um de nós!
** Texto adaptado do livro (do autor) Café Com Esperança – Para deixar a vida mais leve, publicado pelo CEBI.
Lenon Andrade é membro do CEBI /PB e pastor da Comunidade Batista do Caminho (CBC) em Campina – Paraíba.