Partilhas

A diversidade e a Leitura Popular da Bíblia

Em alusão ao dia de combate à LGBTfobia, partilhamos o quarto capítulo do livro “Diversidade e Caridade – CEBI“, de Erivaldo José da Silva, contendo os poemas “Ruah” de Lusmarina Garcia e “Diversidade” de Bráulio Bessa.

Para adquirir o livro, clique no link: https://cebi.org.br/produto/diversidade-e-caridade/


Falar sobre a questão da diversidade em nosso país é um grande desafio, mas, mesmo sendo difícil, é necessário que grupos, organizações, movimentos, igrejas e Ongs não percam a esperança diante dos desafios que são variados.

Creio que a leitura popular da Bíblia e o CEBI tenham muito a contribuir com a reflexão e a promoção de encontros de formação, para que as pessoas possam partilhar suas experiências, anseios, angústias e medos, referente a este tema e também promover espaços de diálogo com as pessoas e grupos que sofrem discriminação.

A leitura popular da Bíblia pode reeducar nossos olhares através da escuta da realidade que nos faz olhar e enxergar as minorias de nossa sociedade que carecem cada vez mais de serem ouvidas, serem escutadas, de sentar-se em círculo para falar sobre seus direitos, pela busca de respeito, empoderamento.

Não é só ler a Bíblia, mas sim sentir que a cada leitura realizada os textos podem ganhar vida, e estes textos que ganham vida muitas vezes podem, também, ser utilizados para gerar violência e ferir as pessoas.

Como textos que correspondem à violência ideológico-política que aparecem nas cenas de saudação maliciosa “Salve rei dos judeus” (Mc 15,18; Mt 27,29; Jo 19,3) e na direta acusação de ineficácia religiosa “Salvou os outros […] Desce da cruz” (Mc 15,29-32; Lc 23,35-37; Mt 27,40-44). Como também em decorrência de estruturas patriarcais em diversos sistemas político-sociais, no contexto familiar que aparece muitas vezes, em formas de violência contra mulheres, crianças e serviçais (Gn 4,1-15; 37; Jz 11,30-40; 2Sm 13; Jr 11,18-23; Sl 22; Cl 3,18-4,1; Ef 5,22-6,9; 1Pe 3,1-7;1Tim 2,8-15) (Richter Reimer, 2006)10.

Como relacionar a Bíblia com a palavra revelada e inspirada por Deus? Como devemos entender, interpretar e reler versículos intolerantes e violentos, de modo a não repetirmos essas intolerâncias e violências, nem aceitarmos que sejam cometidas ainda hoje? E hoje essas violências são cometidas em nome de Jesus! O CEBI, através da metodologia da leitura popular da Bíblia, tem esta tarefa de situar esses textos em seus contextos históricos para encontrar pistas e fornecer elementos que estimulem leituras que combatam a intolerância, a discriminação e as violências feitas em nome de Deus. Infelizmente, a violência em nome de Deus não ficou só lá na Bíblia, num passado distante, mas persiste, de diferentes modos e graus, em muitos grupos, discursos e atos de cristãos hoje. Assim, em cada leitura podemos passar por diferentes experiências de libertação e conhecer dia a dia a face de Deus e ver seu olhar sem discriminação e sem receios de se aprochegar aos seus filhos e filhas e abraçá-los e abraçá-las qual mãe e pai fazem com seus filhos e filhas que tanto amam.

Através deste caminhar a Ruah de Deus se faz presente, tudo é amorosamente acolhido, fecundado, gestado. A Ruah de Deus é palavra sobre

as águas, é ventre cósmico, alento, sopro, vento, respiração, força, fogo, maternidade e ternura11.

Por que falar da Ruh divina?

Porque a diversidade necessita de acolhimento.

Precisamos aprender a acolher o que é diferente, todos, todas e todes somos diferentes uns dos outros, das outras, ninguém é igual a ninguém, e isso é bom demais. Para que possamos acolher o outro é preciso entender bem quais são nossas diferenças e a partir deste entendimento, respeitar. E é preciso conhecer para aprender a respeitar.

Volto aqui a falar sobre a leitura popular da Bíblia, o ambiente onde ela é refletida e atualizada deve ser um espaço de profundo respeito para com as pessoas que ali chegam. Porque muitas vezes essas pessoas estão cansadas de sofrer com o preconceito, muitas já tentaram até tirar a sua vida ou precisaram se afastar de sua família por não serem aceitas, muitas vivem e moram nas ruas e vão procurar neste espaço colo de mãe, um abraço de pai, ouvir a voz do irmão da irmã, é preciso cuidar carinhosa- mente destas criaturas de Deus.

“Soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo.” (Jo 20,22).

RUAH
Autora: Lusmarina Garcia

Ruah é sopro, vento,
coisa que não se prende nem pode ser contida,
é potência, imbricamento,
estrutura da própria textura da vida.

Ruah é a respiração do mundo,
é Deus em corpo de mulher,
é livre, solta, instigante, sem freio,
vai simplesmente prá onde quer.

O patriarcado trucidante,
que das mulheres e meninas é algoz,
já não pode reter nossa luta e vontade,
nem sequer nosso corpo e nossa voz.

Avante mulheres insubmissas
para enfrentar este tempo de retrocesso,
pois nem fascistas nem crentes sexistas
vão nos tolher de purgar este abscesso.

Vem Ruah!
Contém a pandemia! Cura o nosso povo!
Consola as tuas filhas e os teus filhos;
enxuga-lhes o choro.
Abraça os corpos esmagados e os tantos outros mortos,
Dá impulso, coragem, respiro,
para os nossos novos e singular.

Que a Santa Ruah de Deus que é sopro de vida e que nos une, caminhe conosco. Santa Ruah, realizadora de transformações, possibilitadora de relações, sopro que nos une.

Ruah é Deus em corpo de mulher, nos ajude a estar abertos às diversidades, ao que é diferente aos nossos olhos e acolher como a galinha que acolhe seus pintainhos debaixo de suas asas (cf. Mt 23, 37).

Diversidade
Autor: Bráulio Bessa

Seja menos preconceito,
seja mais amor no peito
Seja amor, seja muito amor.
E se mesmo assim for difícil ser
Não precisa ser perfeito
Se não der pra ser amor, seja pelo menos respeito.

Há quem nasceu pra julgar
E há quem nasceu pra amar
E é tão difícil entender em qual lado a gente está
E o lado certo é amar!

Amar para respeitar
Amar para tolerar
Amar para compreender,
Que ninguém tem o dever de ser igual a você!

O amor meu povo,
O amor é a própria cura,
remédio pra qualquer mal.
Cura o amado e quem ama
O diferente e o igual
Talvez seja essa a verdade
Que é pela anormalidade que todo amor é normal.

Não é estranho ser negro, estranho é ser racista.
Não é estranho ser pobre, estranho é ser elitista.
O índio não é estranho, estranho é o desmatamento.
Estranho é ser rico em grana, e pobre de sentimento.
Não é estranho ser gay, estranho é ser homofóbico.
Nem meu sotaque é estranho, estranho é ser xenofóbico.

Meu corpo não é estranho, estranha é a escravidão,
que aprisiona seus olhos nas grades de um padrão.

Minha fé não é estranha, estranha é a acusação,
que acusa inclusive quem não tem religião.

O mundo sim, é estranho, com tanta diversidade
Ainda não aprendeu a viver em igualdade.
Entender que nós estamos percorrendo a mesma estrada.
Pretos, brancos, coloridos
Em uma só caminhada
Não carece divisão por raça, religião
Nem por sotaque
Oxente!

Sejam homem ou mulher
Você só é o que é
Por também ser diferente.

Por isso minha poesia,
que sai aqui do meu peito
Diz aqui que a diferença nunca foi nenhum defeito.
Eu reforço esse clamor:
Se não der pra ser amor,
que seja ao menos RESPEITO!


Autor:
Erivaldo José da Silva, é Biblista popular , integrante do CEBI em São Paulo onde atua junto a grupos de estudos Bíblicos, grupos de estudo do extensivo e comunidades. Atualmente é Representante da Região Sudeste e integrante do Conselho Nacional do CEBI (Triênio 2021 – 2024) É graduado em Medicina Veterinária.

Referências:

10 REIMER, Haroldo Richter. A maldade dos homens se multiplicou sobre a terra. Rev. Pistis Prax., Teol. Pastor, Curitiba, v. 10, n. 1, 117-143, jan./abr. 2018.
11 Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br:, 02/06/2017. Acesso em: 4 jun. 2022.

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