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Uma experiência que anima e gera esperança [Ana Maria Casarotti]

Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, os irmãos Tiago e João, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E se transfigurou diante deles: o seu rosto brilhou como o sol, e as suas roupas ficaram brancas como a luz. Nisso lhes apareceram Moisés e Elias, conversando com Jesus. Então Pedro tomou a palavra, e disse a Jesus: «Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias.» Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra, e da nuvem saiu uma voz que dizia: «Este é o meu Filho amado, que muito me agrada. Escutem o que ele diz.» Quando ouviram isso, os discípulos ficaram muito assustados, e caíram com o rosto por terra. Jesus se aproximou, tocou neles e disse: «Levantem-se, e não tenham medo.» Os discípulos ergueram os olhos, e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus. Ao descerem da montanha, Jesus ordenou-lhes: «Não contem a ninguém essa visão, até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos.»

Leitura do Evangelho de Mateus 17,1-9
(Correspondente ao 2º Domingo de Quaresma, ciclo A do Ano Litúrgico.)

O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.

Uma experiência que anima e gera esperança

O texto que hoje a Igreja é convidada a ler e meditar inicia-se com a breve frase “seis dias depois”. Mas, que aconteceu anteriormente? No final do capítulo 16 lemos que Jesus anuncia a Paixão e a Ressurreição e as dificuldades dos discípulos de aceitar esse tipo de Messianismo. Pedro aparece como opositor a essa imagem do Messias, ele não pode aceitar que seu Mestre seja morto dessa forma, e por isso reage provocando ao mesmo tempo o rechaço de Jesus às suas palavras que procuram afastá-lo da Vontade do Pai.

Todos os/as discípulos/as devem ter a mesma sorte que Jesus, por isso a necessidade de carregar com a cruz e dar a vida como seu Mestre. É a cruz sofrida por tantas e tantas pessoas: a cruz da injustiça, da miséria, dos excluídos, a cruz que gera intolerância, exclusão e miséria.

Seis dias depois Jesus escolhe três discípulos e os leva a um monte alto. Jesus terá uma nova manifestação que fortalecerá a fé e a esperança dos discípulos nele.

O Evangelista recolhe um acontecimento recebido pela tradição (oral e escrita) e preocupa-se também com os discípulos que recebem seu texto. No meio de perseguições é necessário fortalecer sua fé e alentar seu ânimo.

Para entender melhor sua mensagem, deixemos que as palavras nos comuniquem sua riqueza.

Lembremos que no evangelho de Mateus o monte aparece em várias oportunidades: como lemos no domingo passado, Jesus é levado pelo diabo “para um monte muito alto” (4,8-10). Num monte ele pronuncia seu primeiro discurso: “Jesus viu as multidões, subiu à montanha e sentou-se”. ”Os discípulos se aproximaram, e Jesus começou a ensiná-los”.

Depois da multiplicação dos pães e de “despedir as multidões, Jesus subiu sozinho ao monte, para rezar” (14, 23). Depois da ressurreição, quando ele se despede dos discípulos, convida-os para ir a um monte: “Os onze discípulos foram para a Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado (28,16).”

Hoje Jesus escolhe Pedro, Tiago e João e os leva a “uma montanha alta”. Ao longo de toda sua vida Jesus sobe a Jerusalém para ser conduzido, levando uma cruz e suportando os insultos de todas as pessoas que estão ao seu redor. Aí ele deve carregar uma cruz onde será crucificado e morto: no Calvário.

No monte alto “Jesus se transfigurou diante deles: o seu rosto brilhou como o sol, e as suas roupas ficaram brancas como a luz”. E apareceram duas pessoas conversando com Jesus: Moisés e Elias.

Moisés é uma figura muito importante, representa a Lei. Elias simboliza os Profetas. Jesus é o novo Moisés e o novo Elias, a Ele é a quem devem escutar.

Este encontro de Jesus com eles nesse momento particular remete a diferentes momentos de sua vida, onde se escuta a voz de Deus que lhes encomenda uma missão.

O monte é também para eles um espaço de encontro com Deus. Moisés é chamado na montanha de Deus (Ex 19,3) e mais adiante recebe os mandamentos na montanha: Javé disse a Moisés: «Suba até junto de mim na montanha, pois eu estarei aí para lhe dar as tábuas de pedra com a lei e os mandamentos que escrevi, para você os instruir». Moisés se levantou com seu ajudante Josué. E subiram à montanha de Deus. (Ex 24, 12-14). Elias num monte tem seu encontro pessoal com Deus que “passa como uma brisa suave” (1Rs 19,13) e encomenda-lhe uma missão.

Os discípulos experimentam o agrado de ser introduzidos no mistério de Jesus, na luz de sua presença. Uma profunda alegria os inunda. Pedro expressa o desejo de toda pessoa quando experimenta um momento de profunda paz e alegria interior: Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias.

Mas essa experiência não é para ficar assim eternamente. Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra, e da nuvem saiu uma voz que dizia: «Este é o meu Filho amado, que muito me agrada. Escutem o que ele diz.»

Eles recebem uma missão, que é escutar o Filho amado do Pai! Possivelmente esta experiência lhes é oferecida para sustentar sua fé, aqueles que estavam junto a Jesus e também para as comunidades a quem está dirigido o Evangelho. É uma palavra de coragem no meio de diferentes situações difíceis que acontecerão a toda pessoa que siga Jesus: perseguições, dúvidas e desesperança no interno das comunidades, como também acontecem hoje. Podemos ler o texto: “Cristãos em terra do Islã. Bem-aventurados os perseguidos”.

Jesus manifesta-se desde a Vitória sobre a morte, para fortalecer sua fé e confiança nele. Faze-lhes participar de seu alento e a paz que vem de Deus.

Jesus conhece a debilidade de seus amigos, e procura fortalecê-los. Por isso suas primeiras palavras são: não tenham medo. Eles ficaram com um medo sagrado diante da presença de Deus, mas uma vez mais, Jesus apresenta-se como um Deus amigo, que está ao seu lado. Não devemos ter medo. Ele está aí, conhece nossa debilidade e fraqueza e sempre está disposto a fortalecê-la. O texto revela-nos a possibilidade dessa intimidade com Deus, com seu Amor que envolve os discípulos.

Neste domingo de Quaresma somos convidados a deixar-nos iluminar pela presença de Jesus que nos comunica a misericórdia do Pai, como lembra Francisco no seu livro-entrevista: “O nome de Deus é Misericórdia”.

É um tempo de renúncia a nós mesmos para dar espaço ao Amor de Deus que liberta e purifica nossas obscuridades, se as abrimos a serem iluminadas pela sua graça. Dessa forma participaremos mais profundamente na ressurreição de Jesus, deixando-nos transfigurar pela sua Vida.

É um convite pessoal e para contribuir com nossa luz na vida daqueles que nos rodeiam. Assim tinha dito Jesus Vocês são a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte porque uma luz acima de um monte não pode ser ocultada” (Mt 5, 14).

Assim acontece na vida de Francisco, como disse o Pe. Pedro Miguel Lamet numa conferência publicada pelo IHU no dia 05-02-2016 “Arrupe à luz do papa Francisco”.

Fonte: www.ihu.unisinos.br, 10/03/2017.

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