Neste espaço apresentamos músicas para reflexão e meditação.
A canção escolhida para hoje é do compositor argentino León Gieco, que ficou eternizada na voz de uma das maiores intérpretes do folclore argentino Mercedes Sosa. A música se tornou o símbolo de uma epoca marcada pelas ditaduras na América do Sul, os chamados “anos de chumbo”.
O compositor argentino León Gieco fez e gravou esta canção quando os ditadores Videla e Pinochet, ao final de 1978, quase arrastaram seus países a uma guerra criminosa, burra e tragicômica, não fosse pelo sofrimento de ambos os povos. A canção ficou ali, dormindo como semente, pois o próprio León pagou uma espécie breve de exílio (incluindo passagem por Porto Alegre). No retorno triunfal de Mercedes Sosa à Argentina após a redemocratrização, o tema foi gravado por ela ao vivo com León nos famosos Concertos do Cine Opera, e assim empalmou com a ressaca da guerra das Malvinas e a alegria do fim da ditadura: sucesso estrondoso. Foi sendo espalhada pelo mundo, hoje tem versões em mais de 50 idiomas.
Nas cinco estrofes, León vai enunciando as grandes ideias dos Direitos Humanos uma a uma, ao reiterar que não quer ficar indiferente à dor, à mentira, ao exílio, à impunidade, à guerra. No disco vinil Gaudério gravei minha versão em português, com arranjo de Jota Moraes e voz de Bebeto Alves. Segundo León, a letra vertida está mais explícita e compreensível que a original, pois tem que recorrer a menos metáforas anticensura, em especial nos versos da “injustiça”. Eu só peço a Deus foi gravada em português por Beth Carvalho e Mercedes Sosa e uma dezena de outros intérpretes, sendo entoada com frequência em eventos de Direitos Civis. (Fonte: Sul21)
Eu só peço a Deus
Eu só peço a Deus
Que a dor não me seja indiferente
Que a morte não me encontre um dia
Solitário sem ter feito o que eu devia
Eu só peço a Deus
Que a injustiça não me seja indiferente
Pois não posso dar a outra face
Se já fui machucado brutalmente
Eu só peço a Deus
Que a mentira não me seja indiferente
Se um só traidor tem mais poder que um povo
Que esse povo não esqueça facilmente
Eu só peço a Deus
Que o futuro não me seja indiferente
Sem ter que fugir desenganado
Pra viver uma cultura diferente
Eu só peço a Deus
Que a guerra não me seja indiferente
É um monstro grande e pisa forte
Toda a pobre inocência dessa gente.
Confira o vídeo da música, na versão com Beth Carvalho:
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Foto de capa: Wikimedia Commons