texto de Ígora Dacio para as Blogueiras Feministas*
A resistência começa pelo ato de amar o próprio corpo. Fala-se em resistir ao governo opressor, aos padrões sociais, às diferentes formas de injustiça, mas e nós? Como posicionamos nossos corpos perante a isso?
“Ninguém solta a mão de ninguém”, ok. Isso é lindo! Mas, como vou segurar a mão de alguém, se desprezo a minha própria mão? Como demonstrar meu apoio e respeito a uma mulher diferente de mim, companheira de luta, se nem ao menos aprendi a apoiar e respeitar meu corpo enquanto lugar sagrado?
É muito fácil dar forças, ser o ombro amigo, ter as melhores palavras para dar a alguém que precisa, mas, por que diabos ter empatia consigo é tão difícil? É algo que sempre me questiono. Falo isso por mim, que sempre estou a postos para demonstrar meu apoio a alguém que necessita, mas quando estou me sentindo péssima faço questão de tecer as mais duras críticas a mim, às minhas ações e, principalmente, ao meu corpo.
Que o sistema lucra com as inseguranças femininas não é novidade nenhuma, basta ligar a televisão para ver o shake que garante o corpo do verão, o desodorante que deixa as axilas claras (aliás qual a necessidade disso?), a lâmina que deixa suas pernas lisas e sem pêlos. São tantos os produtos voltados a nos tirar o sono, a ponto de olharmos as modelos das propagandas e perguntarmos: “Por que não Eu?”.
Mas, e se num ato de rebeldia pudéssemos descobrir que não somos só um corpo? Somos luta, somos conquistas, somos muito mais do que a balança/espelho nos mostra.
Em um dos tantos momentos de insegurança com meu corpo, passei a me questionar se o que julgava como defeito realmente seria um defeito ou apenas um detalhe. Mais que isso, um detalhe poderia anular todas as minhas conquistas? Sou uma mulher guerreira que luta para conciliar a vida de mãe e mestranda e isso não é pouco ou irrelevante. Eu posso ser bem maior do que tudo que me perturba se eu começar a olhar para o que tenho me tornado, as batalhas que tenho vencido, como sou especial para as pessoas e boa no que faço ao invés de idealizar um corpo ou uma vida que não me pertence.
Curiosamente, dia após dia tenho tentado mostrar à minha filha a força que ela tem e que ela é linda do seu próprio jeito. Porém, que exemplo eu estaria sendo se enquanto ensino ela sobre amor próprio não pratico essa forma de amor?
Infelizmente não posso voltar no tempo e apagar os anos em que esqueci propositalmente de mim, mas é possível decidir que tipo de mulher serei daqui para frente e espero que essa escrita de alguma forma contribua para o crescimento de outras mulheres. Porque para ter força necessito acreditar acima de tudo em mim e porque nesses tempos sombrios… Resistir é preciso!
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A autora, Ígora Dácio, é paraense, feminista, mãe, pesquisadora e virginiana. “Aprendi que o feminismo é necessário e o quanto posso levantar a mim e à outras mulheres por meio da luta que ele inspira. Resistiremos!”. Publicado originalmente por Blogueiras Feministas.
Livros para aprofundar a leitura: