Na tarde/noite de 14 de março do ano em curso, o CEBI-PE realizou o encontro “Tu és a Ruah Divina que me vê”.
Cerca de 25 pessoas, incluindo jovens, adultas e idosas, pertencentes a diversas tradições cristãs e também pessoas que se declararam sem religião ou não praticantes, uniram-se à teóloga feminista e pastora, mestra em ciências da religião e doutora em educação e história cultural, Valéria Vilhena, com o objetivo de pensar e analisar o momento atual e encontrar formas de construir – desde a perspectiva cristã – relações de paz em meio à violência que nos circunda.
Todavia, o dia escolhido foi de chuva na cidade do Recife e apreensão no coração: seria possível realizar o encontro numa cidade que alaga sempre que chove? Os ventos sopraram a chuva para o mar e a Ruah Divina soprou na direção do encontro, as pessoas que foram se achegando…
O devocional trouxe o grupo para dentro do tema, encontrando no deserto Agar e a Divindade que vê as pessoas excluídas (Gn 16 e 21), aquelas que a sociedade descarta ou rejeita.
Inspiradas, após o devocional, as pessoas, em círculo, falaram sobre como acontecem as relações de gênero nas suas instituições, nas suas igrejas. Analisou-se as relações de conflito, de poder de um grupo sobre outro, ou sobre uma pessoa. Falou-se sobre violência, desrespeito, segregação e imposições que impedem o livre exercício da espiritualidade.
Foi questionado se acontece desse modo por querer de Deus, e, por unanimidade, se percebeu que todas essas condições de violência não são inspiradas pela Ruah Divina, aquela que ouve, vê e se relaciona com a vida.
Seguiu-se uma outra questão: que Deus é esse, usado para legitimar relações de violência? E, de outro modo, que Deus é esse a nos dizer que relações desiguais não são inspiradas por Ele?
Após essa reflexão, e com as perguntas ecoando, foi “compartilhado o pão”, nesse caso, uma sopa deliciosa e farta, em meio à palavra, perguntas e conversas de duplas, trios ou pequenos grupos, bem próprio do estilo CEBI de ser.
Fome saciada, ou em pernambucanês, “sopa no bucho” e perguntas na cabeça, refez-se a roda com a fala de Valeria Vilhena sobre narrativas e de como podem ser instrumentos de agregação ou segregação. Partilhou narrativas familiares que sempre agregaram, e apresentou a bíblia como uma metanarrativa que, infelizmente, tem sido utilizada para legitimar discursos opressores a serviço do domínio econômico e político, revestidos de “pregação religiosa” defensora da moral e dos bons costumes e da família.
Por fim, Valeria propõe a formação de comunidades que, a partir dos textos bíblicos, desvele hermenêuticas, interpretações, aplicações libertadoras, e através da tessitura do afeto promova a paz, transformando o mundo e construindo o reino de justiça e paz.
Com preces e bençãos, a roda vai se ampliando, estendendo-se até às comunidades onde está cada pessoa que celebrou a Ruan Divina que nos vê.