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Reflexão da semana: “E seguia Jesus pelo caminho”

Leia a reflexão sobre Marcos 10,46-52. O texto pertence a Tomaz Hughes (em memória).
Boa leitura!

Estamos no fim da caminhada de Jesus desde Cesareia de Felipe até a sua morte e ressurreição em Jerusalém. Com o texto de hoje, Marcos encerra o bloco da caminhada da cura da cegueira de seus discípulos. A cura do cego Bartimeu é o último milagre de Jesus relatado por Marcos.

O texto começa com um senso de urgência – chegaram a Jericó e logo saíram. Parece que Jesus tem pressa para caminhar até Jerusalém desde Jericó. E lá está o cego Bartimeu. Onde? Sentado à beira do caminho! Enquanto Jesus está “a caminho” com seus discípulos, o cego está à beira do caminho, sentado! Simboliza todos os que não conseguem caminhar no discipulado e estão parados, à beira do caminho do seguimento de Jesus.

Este texto está bem carregado de sentido. Logo que Bartimeu fica sabendo que é Jesus quem passa, ele grita: “Filho de Davi, tem compaixão de mim!” É de novo um dos temas centrais da Bíblia – o grito do pobre e sofrido! Desde o grito do sangue de Abel, passando pelo grito do Êxodo, de Jó, dos pobres nos Salmos, de Bartimeu, de Jesus na Cruz, dos martirizados do Apocalipse, o tema do grito do sofrido perpassa toda a Escritura, com a garantia de que Deus escuta o seu clamor. Mas, a reação dos transeuntes é de que Bartimeu se cale! O poder dominante sempre quer abafar o grito do excluído. Isso não mudou até os dias de hoje. É só verificar o pouco caso que a nossa sociedade faz diante da opressão e massacre dos povos indígenas, diante de sofrimento dos excluídos e marginalizados pela sociedade de consumo. Até nas igrejas existe quem não queira ouvir o grito, e faz de tudo para abafar qualquer iniciativa popular.

Mas Deus escuta!

Com um fino toque de ironia, o texto mostra como, por causa da atitude de Jesus, os mesmos que o mandaram calar, agora têm que convidá-lo para falar com Jesus. Porém, para isso Bartimeu tem que lançar fora o manto, a única coisa que ele possuía, a sua única segurança. É a sua roupa, o seu cobertor à noite, o que ele usa para recolher as esmolas. Ele o joga fora, embora seja cego, sem ter certeza que vai ser curado. Como os primeiros discípulos no lago (Mc 1,18.20), ele aprende que não é possível seguir Jesus sem deixar algo, sem arriscar a segurança humana para experimentar a mão de Deus (cf. Mc 6,8-10).

É bom notar que Jesus não parte imediatamente para a ação. Ele respeita a liberdade do cego e pergunta “o que quer que eu faça por você?” (v. 51). Pois, Jesus não obriga ninguém a se libertar. Há quem prefere ficar sentado à beira do caminho, no seu comodismo, quem não opta pela libertação. Mas, Bartimeu quer ver de novo. Diferente do cego de nascença em João 9, Bartimeu enxergava anteriormente e tinha perdido a visão. Aqui ele simboliza a comunidade marcana por volta do ano 70, que tinha perdido a clareza da fé. Mais uma vez, precisava o toque de Jesus para que voltasse a ver claramente.

Curado, Bartimeu recebe licença para ir, para seguir a sua vida. Mas, ele faz outra opção: “no mesmo instante o cego começou a ver de novo e seguia Jesus pelo caminho” (v. 52).

Ele usava para Jesus um titulo não muito adequado: “filho de Davi”. Em Mc 12,35-37, Jesus fez restrições a este título messiânico. Bartimeu, embora não tivesse clareza na mente, tinha a prática certa: seguir Jesus pelo caminho. Aqui, Marcos faz contraste com a figura de Pedro, que tinha o título certo para Jesus: “Tu és o Messias” (Mc 8,29). Tinha, porém, a prática errada, pois não queria que Jesus caminhasse a Jerusalém para a doação total da sua vida, na Cruz. Aqui, o modelo de discípulo não é Pedro, mas Bartimeu. Pois, mais importante do que os títulos e expressões teológicas, sem negar a sua importância, é a prática do seguimento de Jesus. É um alerta para todos nós, para que a nossa prática seja coerente com a nossa fé, no seguimento de Jesus, em favor do Reino de Deus e seus valores.

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