Desde as “Diretas Já” até hoje, nunca estivemos em um momento neste país em que fosse tão urgente um reavivamento das massas. O evangelho deste domingo é um relampejo sagrado sobre a atual conjuntura.
O cadáver de Lázaro estava trancado em uma caverna escura, com uma pedra pesada posta sobre ela. Já era o quarto dia de putrefação, fedia muito e a multidão lá fora chorava. A situação tinha chegado a um ponto irreversível.
A atual conjuntura no Brasil está em um ponto crítico. Direitos historicamente conquistados estão na iminência de se putrefazerem na generalização do sistema de terceirização, o qual será implantado pela lei que se encontra na fase de sanção presidencial. Já o nosso sistema educacional está ferido de morte por uma reforma abruptamente implantada que deslocou o foco do ensino para o empreendedorismo em prejuízo de uma formação com ênfase na cultura humanística e geral.
A reforma da previdência, que se encontra em trâmite no Congresso Nacional, pretende estender para 49 anos o tempo de contribuição necessário à aposentadoria, inclusive suprimindo a condição da mulher, submetendo-a às mesmas exigências da força de trabalho masculina, sem falar no prejuízo subsequente para as pensões, para a aposentadoria rural e indígena. A população de desempregados já chega a treze milhões, há um aumento visível da miséria social, dos roubos, assaltos, linchamentos públicos, há um clima de ódio instalado no país.
Toda essa crise se agrava ainda mais, pois a TV aberta no Brasil com seus programas de auditórios, telenovelas e reality shows alimentam um olhar idealizado para o país, nutrindo diuturnamente uma política de pão e circo, são como os manipuladores das sombras nas paredes do mito da caverna platônico. Por outro lado, a grande mídia brasileira, propriedade de algumas famílias milionárias, nutre uma perspectiva jornalística de adesão ao interesse do empresariado brasileiro em detrimento da classe trabalhadora. O povo está aprisionado em uma caverna, como Lázaro. Que Fazer?
Jesus chega à frente da caverna onde está o cadáver de Lázaro e proclama dois comandos imperativos. O primeiro comando vai para os vivos: “tirai a pedra!”. A ordem para os vivos é para que deslacrem a caverna, tirando-lhe a pedra que lhe veda a saída para o mundo externo.
O segundo comando vai para o cadáver, com grande voz: “Lázaro, sai para fora!”. Tirar a pedra significa tirar o povo da inércia que lhe aprisiona. É um trabalho para quem está vivo, que consegue ver o mundo externo à caverna, é o trabalho do filósofo que volta à caverna e liberta os prisioneiros na alegoria platônica. Sem esse trabalho não há ressurreição, não há reavivamento, não há reenergização. Em termos mais claros, há uma enorme urgência no país hoje de uma reenergização dos movimentos de massa. Precisamos de um ressurgir das teologias da libertação, precisamos de um renascer das utopias, precisamos de uma atitude coletiva que seja tão forte quanto o é a pedra que tranca o povo dentro da caverna.
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Fonte: Ismael é de tradição Batista, e assessor do CEBI em Pernambuco. ([email protected])