por Tomaz Hughes, sobre Jo 6,41-51
Neste texto nos encontramos no meio do discurso de Jesus sobre o “Pão da Vida”. O gancho que João usa para pendurar o discurso é o pedido dos judeus em v. 35: “Senhor, dá-nos sempre desse pão”. Em resposta Jesus começa o seu grande discurso.
Divide-se em duas partes. Na primeira parte (vv. 35-50), que inclui o texto de hoje, o pão celestial que nos nutre é a revelação ou o ensinamento de Jesus (o tema sapiencial); na segunda parte (vv. 51-58) será a eucaristia (tema sacramental). O redator da comunidade joanina combinou “o pão do céu” com o material eucarístico da Última Ceia e assim formou a segunda parte do discurso como texto paralelo à primeira. Isso explica a ausência de um relato da instituição da Eucaristia nos textos da Ceia em João – pois o seu conteúdo básico foi colocado aqui.
Como os seus antepassados murmuravam no deserto contra o pão que Deus mandava – o maná – agora eles se queixam do novo maná. Aqui logo aparece uma característica do João – a ironia. Os judeus (aqui se entende as autoridades judaicas e não o povo judeu) dizem que conhecem a origem de Jesus, pois só pensam na sua família de origem; Jesus mostra que na verdade não a conhecem, pois eles não viram o Pai, a sua verdadeira origem. Aqui também aparece em v. 47 mais uma característica joanina – a “escatologia realizada”. Enquanto para os Sinóticos o juízo é algo que acontece no último dia, para João, frequentemente, já aconteceu, pois a pessoa é salva ou condenada já, pela sua aceitação ou não de Jesus como o Filho de Deus.
Aqui, de novo, João nos dá o que talvez seja uma variante das palavras da instituição da Eucaristia:
“O pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha a vida” (v. 51).
João enfatiza que o Verbo Divino se tornou carne e tem entregado a sua carne como alimento da vida eterna.
O texto não é fácil, pois é extraído de um discurso muito mais comprido e que forma uma unidade. Mas, está ligado em cap. 6 à multiplicação dos pães – a participação eucarística no Corpo e Sangue de Jesus exige uma vivência de partilha e solidariedade. Esse tema é caro a João e é retomado na sua Primeira Carta.
–
Texto partilhado pelo autor. Em memória.