Leia a reflexão do evangelho para o próximo domingo, dia 25 de março. O texto é de Mercedes Lopes e frei Carlos Mesters.
Boa leitura!
Abrir os olhos para ver
Esse texto fala da grande manifestação popular em favor de Jesus no Domingo de Ramos. Sentado num jumento, animal de carga, Jesus entra em Jerusalém, capital do seu povo. Os discípulos, as discípulas e povo romeiro, vindos da Galiléia, o aclamam como messias. Mas o povo da capital não participa. Apenas assiste, e as autoridades nem aparecem.
A romaria termina na praça do Templo, a praça dos poderes. Parece uma passeata que termina diante da catedral e do Palácio do Planalto. Também hoje há manifestações populares. As suas reivindicações revelam o sofrimento do povo e a sua indignação frente às injustiças. Nem todos participam, pois têm medo. A maioria apenas assiste.
Situando
Finalmente, após uma longa caminhada de mais de 140 quilômetros, desde a Galiléia até Jerusalém, a romaria está chegando ao seu destino. Neste quinto bloco (Mc 11,1 a 13,37), tudo se passa em Jerusalém, símbolo central da religião (Sl 122,3). No início do bloco, está o gesto simbólico de Jesus: aclamado pelo povo peregrino, ele entra na cidade montado num jumentinho, animal de carga.
A caminhada de Jesus e seus discípulos era também a caminhada das comunidades no tempo em que Marcos escrevia o seu evangelho: seguir Jesus, desde a Galiléia até Jerusalém, desde o lago até o calvário, com a dupla missão de denunciar os donos do poder que preparam a cruz para quem os desafia e de anunciar ao povo sofrido a certeza de que um mundo novo é possível. Esta mesma caminhada continua até hoje.
Comentando
Marcos 11,1-3: A chegada em Jerusalém
Jesus vem caminhando, como romeiro no meio dos romeiros! O ponto final da romaria é o Templo, onde mora Deus! Em Betânia ele faz uma parada. Betânia significa Casa da Pobreza. Era um povoado pobre fora da cidade, do outro lado do Monte das Oliveiras. De lá, Jesus organiza e prepara a sua entrada na cidade. Ele manda os discípulos buscar um jumentinho, um jegue, animal de carga, para poder realizar um gesto simbólico.
Marcos 11,4-6: A ajuda dos discípulos e das discípulas
Os discípulos fazem como Jesus tinha mandado, e tudo acontece conforme o previsto. Eles encontram o jumentinho e o levam até Jesus. E alguns dos que ali se encontravam perguntaram: “Por que vocês estão soltando o jumentinho?” E eles responderam: “Jesus está precisando!” Todos nós somos como o jumentinho, animal de carga. Jesus precisa de nós.
Marcos 11,7-10: A entrada solene na Cidade Santa
Jesus monta o jumentinho e entra na cidade, aclamado pela multidão de peregrinos e pelos discípulos. Na cabeça deles está a ideia do messias rei glorioso, filho de Davi! Eles acreditam que, finalmente, o Reino de Davi tenha chegado e gritam: “Bendito o Reino que vem de nosso pai Davi!” Jesus aceita a homenagem, mas com reserva. Montado no jumentinho, ele evoca a profecia de Zacarias que dizia:
“Teu rei vem a ti, humilde, montado num jumento. O arco de guerra será eliminado” (Zc 9,9-10).
Jesus aceita ser o messias, mas não o messias rei glorioso e guerreiro que os discípulos imaginavam. Ele se mantém no caminho do serviço, simbolizado pelo jumentinho, animal de carga. Jesus ensina agindo. Os discípulos, que procurem entender o gesto de Jesus, mudem de ideia e se convertam!
Alargando
As romarias do povo e os salmos de romaria
As romarias para Jerusalém se faziam três vezes ao ano, nas três grandes festas: Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos (cf. Ex 23,14 e 17). Dos lugares mais distantes os romeiros vinham caminhando. Alguns faziam cinco, seis ou mais dias de viagem. Vinham para Jerusalém, a capital, “a cidade grande e bela, para onde tudo converge” (cf. Sl 122,3-4). As romarias eram momentos de confraternização e de muita alegria: “Fiquei foi contente, quando me disseram: Vamos para a Casa do Senhor!” (Sl 122,1).
Nestas longas viagens, o povo rezava e cantava os Salmos de Romaria. Jesus também os rezou, junto com os peregrinos da Galiléia, nesta sua última romaria para a Casa de Deus, em Jerusalém.
Os “Salmos de Romaria” formam uma coleção de 15 salmos dentro do saltério, do Salmo 120 até o Salmo 134. São salmos pequenos. O povo que rezava quando subia para o Templo de Jerusalém em peregrinação. Por isso chamados “Cânticos das Subidas”. Eles diziam: “Vinde! Vamos subir ao Monte de Javé!” (Is 2,3). “Vamos subir a Sião, a Javé, nosso Deus!” (Jr 31,6).
Apesar de pequenos, os Salmos de Romaria possuem uma grande riqueza. São uma amostra de como o povo rezava e se relacionava com Deus. Eles ajudam o povo a perceber os traços de Deus nos fatos da vida. Transformam tudo em prece, mesmo as coisas mais comuns da vida de cada dia. De um jeito bem simples, revelam a dimensão divina do quotidiano. Ajudam a perceber e a rezar a dimensão divina do humano.
Também eram chamados “Cânticos dos Degraus”. Provavelmente por causa da majestosa escadaria de 15 degraus que dava acesso ao Templo de Jerusalém. Daí, talvez, a razão de a coleção ter exatamente 15 salmos.
A subida pelos 15 degraus da escadaria do Templo era uma imagem e um resumo da própria romaria, desde o povoado até Jerusalém. E ambas, tanto a subido como a romaria, eram um símbolo ou uma imagem da caminhada de cada pessoa em direção a Deus.
Quando, finalmente, após longa caminhada, o romeiro chega ao Templo e experimenta algo da presença de Deus, as palavras já não bastam para dizer o que se vive. Então, o gesto das mãos completa o que falta nas palavras. Isto transparece nos Salmos de Romaria. Assim, no último salmo, gesto e palavra se unem para expressar o que se vive: “Levantem as mãos para o santuário e bendigam a Javé!” (Sl 134,2).
Ao longo dos salmos de romaria, os mesmos pensamentos e sentimentos aparecem e reaparecem, do começo ao fim. Eles indicam a direção da oração, o rumo do Espírito. Eis uma lista que pode servir como chave de leitura para nós.
- O pano de fundo que percorre estes salmos é a experiência libertadora do Êxodo e do Exílio;
- São orações em que agricultores expressam e rezam a sua vida e os seus problemas;
- Transparece nas imagens usadas uma situação de violenta opressão e de exploração do povo;
- Em alguns destes salmos, se passa do eu para o nós, o que revela a integração na comunidade;
- Neles se expressa a alegria intensa da confraternização dos romeiros em Jerusalém;
- O Templo ocupa um lugar importante na vida do povo, lugar de encontro com Deus;
- A ambivalência da monarquia e da cidade de Jerusalém: centro que atrai e que oprime;
- Um grande desejo de paz e de liberdade percorre quase todos estes salmos;
- Não usam ideias rebuscadas, mas transformam em prece as coisas comuns da vida;
- No centro de tudo, no começo e no fim, está a fé em “Javé que fez o céu e a terra”.
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Fonte: Extraído livro Caminhando com Jesus – Círculos Bíblicos de Marcos – II Parte, de Carlos Mesters e Mercedes Lopes.