O paradoxo é que a maioria das mensagens institucionais das últimas semanas estão destinadas às elites das cidades, que deixaram de sofrer o conflito em carne própria há anos e são os mais relutantes com os acordos com as FARC, além de, dizem os analistas, os que menos vão se mobilizar na hora de votar na consulta. Uma mensagem muito ilustrativa foi feita na segunda-feira pela ministra das Relações Exteriores, María Ángela Holguín, peça fundamental na fase final das negociações, talvez uma das poucas pessoas entre os negociadores que conseguiu estabelecer uma espécie de empatia com os guerrilheiros, o que não deixa de ser surpreendente se levarmos em conta que pertence a uma das famílias mais tradicionais da Colômbia: “Começamos a pensar o que acontece conosco pois ficamos opinando do conforto de casa ou de um clube, o que falamos jogando golfe ou bebendo uísque. Quem é que vai realmente ser ajudado e vai ter uma oportunidade diferente? Pessoas que viveram a guerra. É o que temos que pensar, se é a comodidade que nos leva a dizer sim ou não, ou a necessidade de mudança para voltar a ser um país normal”.
A intensidade do conflito tinha diminuído significativamente nos últimos anos, mas o fim dos ataques entrou em vigor a partir da meia-noite da segunda-feira. O Governo pediu para a ONU que, na medida do possível, agilize os protocolos de verificação do cessar-fogo. Em 23 de junho foi decidido que isso aconteceria após o ato de assinatura final, entre 20 e 26 de setembro, sem que tenha sido decidido o dia ou lugar. A ministra de Relações Exteriores abriu a possibilidade de que seja realizado um evento especial no marco da Assembleia Geral das Nações Unidas, que será realizada nessas datas. O Alto Comissário para a Paz, Sergio Jaramillo, confirmou, no entanto, que os protocolos decididos em junho com a guerrilha para o cessar-fogo estão em vigor desde segunda-feira. Ou seja, depois de décadas trocando tiros, o Exército e as FARC agora trabalham em conjunto – e compartilham informações – para coordenar o movimento das diferentes frentes para as áreas de verificação. Quando chegarem a esses lugares, a guerrilha terá 180 dias para completar o desarmamento e iniciar o processo de reintegração na vida civil.
A confusão jurídica que significa muitas das partes do acordo final, 297 páginas de uma prosa complicada para os cidadãos, certamente joga contra os interesses do sim. Por isso Jaramillo foi categórico na segunda-feira com uma “tradução” dos esforços dos negociadores que todo mundo possa entender: “Se não morrer mais nenhum colombiano por conta deste acordo, terá valido a pena”.
Nesses dias de mensagens simbólicas há uma, certamente, que marca um antes e um depois na história da Colômbia, por ser impensável há não muito tempo. A do líder máximo das FARC, conhecido como Timochenko, o mesmo que vestido com uma camisa verde-oliva encheu de verborreias durante anos seus comunicados das montanhas da Colômbia. No domingo, ele lançou uma mensagem de reconciliação, usando camisa e do Nacional, um hotel cinco estrelas em Havana: “Aos soldados, marinheiros, pilotos da força aérea, policiais e agências de segurança e inteligência do Estado, queremos manifestar a vocês nossa clara e definitiva vocação pela reconciliação. As rivalidades e rancores devem ficar no passado. Hoje, mais do que nunca, lamentamos tanta morte e dor causada pela guerra”.