
A reportagem é de Carlos Eduardo Cherem, publicada por Portal Uol, 05-01-2015.
Foi com essa carga emocional que Santos, auxiliar técnico de manutenção na mina de Alegria, voltou ao trabalho nesta segunda-feira (4). E encontrou um ambiente muito diferente no trabalho."O negócio é o medo. Mudou tudo na empresa. O ambiente mudou demais. O pessoal tem medo de outro desastre. Antes a gente não pensava nisso."
O pai, o motorista de caminhão-pipa Aílton Martins dos Santos, 55, empregado de empresa terceirizada da Samarco, desapareceu na lama da barragem rompida de Fundão, que fica a cerca de 25 quilômetros da mina de Alegria, onde Santos trabalha há nove anos.
O complexo de Alegria, por sua vez, a exemplo da Samarco, também pertence à brasileira Vale e à anglo-australiana BHP Billiton, e enviava rejeitos para o reservatório da barragem que ruiu. O acidente matou 17 pessoas e duas estão desaparecidas, entre elas Aílton dos Santos.
"Voltar ao trabalho foi muito difícil, e piorou muito quando encontrei um pessoal que participou das buscas (em Mariana)", lamentou Emerson.
Conformado, ainda acredita que poderá encontrar o corpo do pai. "Acho que está dentro ou próximo do caminhão soterrado. A Vale prometeu arrumar um detector de metais para ajudar nas buscas, realizadas até hoje por bombeiros de Minas Gerais." Emerson chegou a sobrevoar a área atrás de seu pai.
A vida praticamente parou para o auxiliar de manutenção em 5 de novembro, o dia das barragens. Liberado imediatamente para ir a Mariana, correu em busca de alguma pista do pai. Apesar de ter recebido o salário normalmente durante o período, Emerson teve de gastar dinheiro do próprio bolso para se hospedar na cidade da barragem.
"Até 11 de dezembro, fiquei hospedado num hotel em Mariana. Depois disso, comecei a ir e voltar para casa todo dia", afirmou. Ele mora em Catas Altas (MG), a cerca de 40 quilômetros de Mariana.
Catas Altas, por sua vez, fica a aproximadamente, 45 quilômetros da mina de Alegria, onde ele trabalha de 7h30 às 16h30, de segunda-feira a sexta-feira. Sua remuneração mensal é de R$ 2.293. É casado e não tem filhos. "Minha mãe, por enquanto, está recebendo o salário do meu pai, mas nunca recebi nenhuma ajuda da Samarco".
Mesmo com as dificuldades e a dor do desaparecimento, Emerson Santos não se queixa. "A Vale é uma empresa muito boa para trabalhar. Tem estabilidade, plano de saúde. É claro que vou ficar. Comecei lá aos 21 anos, a família ficou orgulhosa."
Para a família – a família, a mãe Mirtes Rodrigues dos Santos, 57, e dois irmãos solteiros -, foi um alívio e uma alegria quando, em 8 de outubro de 2015, Aílton, após alguns meses desempregado, começou o trabalho na barragem de Fundão. "(Meu pai) não tinha completado nem um mês no serviço. Minha mãe recebeu o primeiro salário (R$ 1.600) após o acidente e o desaparecimento."
A Vale informou nesta terça-feira (5) que os empregados da companhia são constantemente informados sobre as questões do desastre por meio de seus informativos internos e do site valeesclarece.com.br. Ainda de acordo com a mineradora, funcionários com cargos de chefia do complexo Mariana, onde fica a mina de Alegria, fizeram cerca de 70 conversas com os empregados da mina de Alegria, quando se colocaram à disposição para tirar dúvidas.
"Após o acidente na Samarco, a Vale fez uma verificação detalhada das condições estruturais de suas barragens. Nenhuma anomalia foi detectada", informou a mineradora.
Em relação às barragens da Samarco que ainda correm risco, embora pequenos, a mineradora informou "que estão sendo realizadas intervenções para reforçar as estruturas remanescentes e ampliar o fator de segurança".