As três cenas das tentações descrevem Jesus como Filho de Deus, obediente à vontade do Pai. Por essa razão, ele não cede à sedução de usar seus poderes ou sua autoridade de Filho para uma finalidade distinta da que é a sua missão. A tentação é a de utilizar a sua condição de Filho de Deus em benefício próprio.
As três cenas fazem alusão às tentações do povo de Israel ao longo da travessia pelo deserto. O relato não visa nos fazer compreender que as tentações aconteceram num único momento da vida de Jesus; ele só pode ser lido e compreendido no conjunto do evangelho, pois as tentações acompanharam Jesus ao longo de toda a sua vida terrena.
Como Moisés, que antes de escrever as palavras da aliança jejua, assim também Jesus, antes de começar o seu ministério público. Depois de dias de jejum, a fome não aparece como uma tentação surpreendente. Ainda que o pão seja necessário para a vida, a vida do ser humano não se reduz aos seus bens, nem se resolve com um passe de mágica.
A segunda tentação é a da ambição da realeza humana, que Jesus rejeita. Depois da multiplicação dos pães, querem fazer Jesus rei: "Jesus, porém, sabendo que viriam buscá-lo para fazê-lo rei, retirou-se, de novo, sozinho, para o monte" (Jo 6,15; Mc 8,31-33; Mt 27,42-43). Na cruz zombavam dele e gritavam: "Rei de Israel que é, desça agora da cruz e creremos nele!" (Mt 27,42).
A terceira tentação é a de realizar um sinal espetacular para ser crido e reconhecido. Em Jo 6,30s, temos uma questão do mesmo tipo: "Que sinal realizas para que vejamos e creiamos em ti?" A tentação de se fazer valer aos olhos dos homens e de buscar a sua própria glória é algo presente em toda a vida de Jesus.
No entanto, a pedagogia de Jesus é de outra sorte para conduzir as pessoas à fé nele. A fidelidade de Jesus ao Pai, a clareza da vontade de Deus para a sua vida, a convicção de sua missão, a força do Espírito Santo recebida no batismo, permitem a Jesus não sucumbir nem cair no poder da tentação.