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Nono domingo comum – “Nem em Israel encontrei tanta fé” (Lc 7, 1-10) [Tomaz Hughes SVD]

Nono domingo comum - “Nem em Israel encontrei tanta fé” (Lc 7
Voltando às celebrações dos domingos do Tempo Comum, o nosso texto de hoje abre uma seção de Lucas que vai de 7,1 até 9,6.  A mensagem dessa parte do Evangelho tinha muita relevância para as comunidades lucanas, constituídas em grande parte de pessoas provenientes do paganismo.  As narrativas deste bloco demonstram que Jesus atravessava as fronteiras criadas pelos homens para separar os considerados “puros” dos taxados de “impuros”, e assim restaurar a vida ameaçada.  Inicia-se com duas narrativas que relatam como Jesus curou um homem doente (o empregado do centurião) e ressuscitou um homem morto (filho único da viúva de Naim) em 7, 1-17, e termina com a cura de uma mulher doente (com fluxo de sangue)  e a restauração da vida a uma moça morta, a filha de Jairo (8, 40-56).
O relato de hoje prevê a futura missão da Igreja aos gentios.  Gira ao redor de um centurião romano em Cafarnaum (talvez a serviço de Herodes Antipas) cujo empregado está à beira da morte. Tem certo paralelo com a história, também lucana, da conversão do primeiro gentio, no livro de Atos, de um centurião chamado Cornélio (At 10).  Nesta Cornélio também é elogiado como homem que respeitava o povo judeu e dava esmolas (At 10, 1-2).
O texto de hoje fala de uma comitiva de anciãos judeus que pedem que Jesus atenda o centurião porque ele tinha feito boas obras em favor da comunidade do povo judeu.  Assim eles o consideram digno de ser atendido, como se fosse judeu e não gentio impuro.  Em contraste, o próprio centurião manda dizer que ele não é digno nem merece que Jesus fira a Lei de pureza entrando na sua casa. Ele reconhece o poder da palavra de Jesus de vencer o poder da morte.  Jesus afirma que ele é digno de ser atendido não porque tivesse feito boas obras em favor da comunidade judaica local, mas porque ele acredita que Deus vence a morte através de Jesus e da sua palavra.  Ele, fora da comunidade religiosa de Israel, tem essa fé enquanto os que podiam e deviam ter não a tem.
Como muitos textos de Lucas, especialmente os tocantes à questão da ação misericordiosa de Deus, este trecho no fundo desafia a mentalidade muitas vezes embutida em pessoas religiosas, sem que elas notem.  Mesmo quando se dá a impressão de estarmos agindo movidos pela fé, na verdade subjaz a mentalidade de “troca” ou de “merecimento”.  No texto de hoje, por exemplo, embora os anciãos judeus tomem atitude ousada em favor do centurião pagão, é só porque “ele merece”.  A misericórdia de Deus, porém não funciona por “merecimento”, mas por gratuidade.  É o que se demonstra também no Cap. 15 na parábola do Pai misericordioso e dos dois filhos.  O “pródigo” não pede para ser aceito como filho, pois “não merece” – mas o pai nem lhe responde… Porque a lógica do perdão e da compaixão é outra.  É um grande desafio para a Igreja e para todos nós nos libertar dessa mentalidade no fundo quase que “comercial” e entrar na lógica de misericórdia e compaixão, como o Pai e também Jesus, nas suas relações com a realidade de homens e mulheres em diversas situações de fraqueza.  Esta é a grande intuição do Papa Francisco, pois é o fundamento da “Boa Nova” – O Evangelho – e por isso cria tantas dificuldades para muitos cristãos que não são conscientes de quanto faltamos com a gratuidade e a compaixão.  Que o nosso modelo seja o verdadeiro Deus de Jesus “cujos caminhos não são os nossos, cujos pensamentos não são os nossos” (Is 55, 8-9).

Por Tomaz Hughes SVD, e-mail: [email protected]

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