Nos dias 27 e 28 de julho, aconteceu o Seminário “Juventudes e Adultocentrismo (e um exercício de hermenêutica juvenil)”, promovido pelo CEBI Sul, no Instituto Salette em Curitiba/PR, que contou com a presença de jovens e adultos dos três estados da região sul do Brasil e três representantes do CEBI Jovem do Nordeste.
A temática do encontro foi conduzida por José Luiz Possato Jr., especialista em juventudes e coordenador do CEBI-RS. Este, utilizando a metodologia do Ver, Julgar e Agir, provocou uma análise sobre a construção histórica e cultural da categoria “juventude” dentro da sociedade contemporânea, cujo contexto é marcado pelo sistema neoliberal e pelo patriarcado. Nesse contexto, algumas características são atribuídas aos jovens, como a vitalidade e a virilidade. Mas, conforme nos lembra Bourdieu, esta é só uma maneira de colocar os adultos como o centro, a referência das discussões, atribuindo-lhes o dom da sabedoria, logo, o poder.
Abordando os aspectos da realidade juvenil no cenário brasileiro, foram apresentados e analisados dados demográficos e estatísticas da violência presentes na sociedade na última década, de acordo com o IBGE. Cruzando os dados, pode-se observar que os jovens são as principais vítimas da violência, uma vez que as vítimas, pertencentes majoritariamente a minorias oprimidas, especialmente mulheres e negros, são compostas na sua maioria pelas juventudes.
Neste sentido, houve a provocação: “a quem interessa o processo de silenciamento dos jovens, que teve seu início no século XIX, e que objetivava tornar os jovens disciplinados e que amassem, acima de tudo, a sua pátria?”; e, “quais as forças atuais que investem no discurso do empreendedorismo, sequestrando a pauta do protagonismo juvenil e vislumbrando potencial econômico e desenvolvimento social nas juventudes exploradas?”
Passo seguinte, foram realizados exercícios de hermenêutica juvenil com leituras bíblicas contendo termos do hebraico que costumeiramente são traduzidos, na Bíblia, por “jovem”. Percebemos que, por exemplo, o termo “na’ar” refere-se não só ao indivíduo mais jovem, que ainda mora na casa do pai, mas também ao servo, ao soldado, à criança e a todas as categorias que vivem sob o domínio de um patriarca. Assim, chegamos ao entendimento de que, olhando para os originais, as traduções bíblicas optaram por tratar como jovens aquelas pessoas que, na sociedade dos tempos bíblicos, eram vistas, geralmente, como propriedade de um patriarca e, por isso, inferiores ou incompletas.
Atualizando os textos, pudemos constatar, por meio de diálogos e debates, que o adultocentrismo, prática que coloca o adulto como centro e referência da sociedade, é um desdobramento do patriarcado. Dentro da lógica do pensamento capitalista neoliberal, a vitalidade da juventude tornou-se um negócio lucrativo. Sua rebeldia, porém, é um empecilho. Por isso, o protagonismo juvenil é assumido, pelas instituições privadas e até mesmo pela BNCC (documento principal da educação básica no Brasil), como um meio de “solucionar problemas”, sem um questionamento crítico da estrutura e do tecido social que os gera. Mas a transformação do mundo, de acordo com Paulo Freire, vem da práxis, que é ação e reflexão, e da luta contra o sistema. Ora, a palavra “protagonismo”, vinda do grego, significa justamente “lutador principal”. Combater as estruturas vai ao encontro do pensamento freireano, para quem os oprimidos devem se engajar na luta como sujeitos, isto é, como seres autônomos, conscientes, e não como objetos (massa de manobra). Querer controlar a forma como os jovens devem agir é reproduzir a lógica adultocêntrica. Para superá- la, é preciso que os adultos estejam junto com os jovens, respeitando-os na sua condição de sujeitos, e não somente como sujeitos “tarefeiros”, bem como a necessidade de uma leitura bíblica que liberte tanto jovens, quanto adultos, do “adultocentrismo”.
Como encaminhamento do Seminário, os jovens, sob a condução e inspiração dos representantes do CEBI Jovem NE – Carlos, Nathy e Kefren – construíram algumas propostas de ação conjunta, sendo uma delas a realização de um encontro da juventude do CEBI Sul para o ano de 2025. Para tanto, foram escolhidos três jovens responsáveis por esta articulação, um de cada Estado: Marcelino (IECLB-PR); Bruna (IEAB-RS); Lara (ICAR-SC). Já os adultos assumiram o compromisso de, além de caminhar ao lado dos jovens, estudar e discutir modelos de adultícia, construindo e vivenciando ações que não sejam “adultocêntricas”.
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