Memória de luta junto aos movimentos sociais: João Dias Araújo (1930-2014) faleceu há quatro anos, mas as lembranças de sua caminhada continuam vivas.
Neste dia 9 de fevereiro completam-se quatro anos desde a morte do Reverendo João Dias Araújo, um dos fundadores da Igreja Presbiteriana Unida no Brasil.
Quando a ditadura se implantou no Brasil, João Dias foi um dos perseguidos por defender os direitos do povo oprimido e censurado. Servidor dos grupos empobrecidos, foi também escritor e publicou “Inquisição sem Fogueiras”, além de ser o autor do hino oficial da Igreja Presbiteriana Unida, “Que estou fazendo se sou Cristão?”. Entusiasta do diálogo entre igrejas e religiões, foi colaborador junto a órgãos ecumênicos nacionais e internacionais.
Durante os mais de 35 anos de ministério pastoral e ensino teológico, assessorou grupos junto à IPU e ao CONIC. Trabalhou de forma ecumênica entre as igrejas cristãs e tinha muito interesse no diálogo com religiões afro-brasileiras.
Seu compromisso com a democracia era pleno. Trabalhou com temas como:
- economia e políticas públicas
- ênfase na participação solidária com os grupos despoderados e marginalizados
- pessoas sem vez e sem voz
- superação da pobreza e combatente do neoliberalismo e do capitalismo
- colaboração eclesiástica diaconal e ecumênica
- combate ao racismo, à homofobia e à exclusão social
- defesa dos direitos humanos e cidadania insurgente
- luta em defesa do povo sem-terra
- defesa dos povos indígenas
- esforço por manter o culto não-pentecostalizado e a liturgia contemporânea ecumênica
Memória
João Dias Araújo faleceu no dia 09 de fevereiro de 2014, em Feira de Santana na Bahia, aos 83 anos de idade.
Leia a nota publicada pelo CEBI na ocasião.
João foi um dos fundadores da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU) e colaborador de organismos ecumênicos mundiais, tais como Conselho Mundial de Igrejas, Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas (CMI), Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), Aliança de Igrejas Presbiterianas e Reformadas da América Latina (AIPRAL) e Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC).
Confira o depoimento da Pastora Sônia Mota (IPU), Secretária Executiva da CESE:
“Quatro anos sem João, nosso mestre, pastor, amigo, companheiro. Nesses quatro anos vimos e sentimos que seu exemplo de vida, suas palavras animadoras, suas aulas cheias de entusiasmo, seus ensinamentos e sua postura ética continuam inspirando as gerações que o conheceram como pastor, como professor, colega, como amigo. Aquelas pessoas que o conheceram e acompanharam seu trabalho incansável tanto no movimento ecumênico quanto em movimentos populares como no dos trabalhadores e trabalhadoras rurais continuam tendo em João Dias uma inspiração para continuarem sua luta.
A voz profética de João Dias também está alcançando e motivando gerações mais novas em seu compromisso ecumênico e social, até jovens que não o conheceram pessoalmente estão passando a ver em João Dias o entusiasmo da fé que se concretiza no amor ao outro, em especial ao outro necessitado. João Dias Araújo, presente!”
De acordo com o Pastor Cláudio Rebouças (IPU de Muritiba-BA e
Moderador do Presbitério do Salvador):
“a figura do Rev. João Dias tem a capacidade de remontar um modo de produção teológica que passa necessariamente pelo ecumenismo, pela justiça social, pela luta por terra”. Pastor Cláudio lembra que “a voz de João Dias é muito atual neste cenário cheio de conservadorismo político e de crescimento da ‘população evangélica’ em solo brasileiro. Diante de mecanismos onde ocorre um processo de mercantilização da fé, e de espetacularização de líderes religiosos que tentam transformar o Brasil em uma espécie de teocracia, é fundamental testemunhos como o de João Dias”.
Para o teólogo e pastor da IPU, Derval Dasilio:
“João Dias registrou um momento dos mais importantes do protestantismo e da opção calvinista e ecumênica, realçando o papel do grande mestre da Reforma Protestante, matriz do ecumenismo que conhecemos e aplaudimos, hoje. Significativamente, seu livro [“Inquisição sem fogueiras”] rebela-se contra a religiosidade ‘equidistante’, no protestantismo, sem engajamento aparente, político e social – porém, aliado da ditadura militar, a quem evangélicos, na grande maioria, aplaudiram e abençoaram”.
Dentre os livros publicados encontram-se “A Inquisição Sem Fogueiras” e “Sê Cristão Hoje”. É de sua autoria também, o hino “Que estou fazendo?” (nº 297), que foi muito criticado por conservadores durante o Regime Militar.
Leia o hino escrito por João Dias:
Que estou fazendo?
1. Que estou fazendo se sou cristão,
Se Cristo deu-me o seu perdão?
Há muitos pobres sem lar, sem pão,
Há muitas vidas sem salvação.
Mas Cristo veio pra nos remir
O homem todo, sem dividir:
Não só a alma do mal salvar,
Também o corpo ressuscitar.
2. Há muita fome no meu país,
Há tanta gente que é infeliz,
Há criancinhas que vão morrer,
Há tantos velhos a padecer.
Milhões não sabem como escrever,
Milhões de olhos não sabem ler:
Nas trevas vivem sem perceber
Que são escravos de um outro ser.
3. Que estou fazendo se sou cristão,
Se Cristo deu-me o seu perdão?
Há muitos pobres sem lar, sem pão,
Há muitas vidas sem salvação.
Aos poderosos eu vou pregar,
Aos homens ricos vou proclamar
Que a injustiça é contra Deus
E a vil miséria insulta os céus.
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Fonte: Consultas ao site Luteranos, blog de Derval Dasilio e arquivos do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI).