Câmeras de segurança filmaram a violência contra o indígena, que chegou a perder os sentidos após a agressão, e testemunhas já identificam os agressores como estudantes de engenharia da UFRGS e da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS).
“Esses [agressores] seguem com os nomes em sigilo e, provavelmente, frequentando as aulas normalmente como se nada tivesse acontecido. Já Nerlei, pelo contrário, segue abalado e sem frequentar as aulas”, afirma a nota dos estudantes indígenas da UFSC.
“A agressão física foi a gota d’água, o extremo das agressões sofridas diariamente, essa não é a primeira vez que nós Povos Indígenas sofreremos com ato semelhante”, complementam os estudantes.
Na nota, os estudantes indígenas afirmam que situações de racismo e preconceito são corriqueiras contra cotistas indígenas e já vêm sendo denunciadas há tempos, sem que providências de combate a essas práticas sejam tomadas por parte das instituições.
“Nossa presença em universidades públicas vem acontecendo de forma crescente e tem incomodado a elite conservadora e causado desconforto em todos aqueles que perpetuam ideias estereotipadas sobre nós. Há muito tempo estamos alertando sobre casos de racismo contra nós, mas as universidades vêm sendo omissas aos fatos, compactuando com tais atos”, diz a nota.
“Esse é o momento de questionar que universidade queremos, qual é seu papel diante de crimes como esse e reafirmar que a inclusão não é apenas dispor de vagas, precisamos discutir permanência”, concluem os indígenas, que cobram uma postura mais firme das universidades no combate à discriminação racial e a expulsão dos envolvidos no crime contra Nerlei.
Um inquérito para investigação do ocorrido e identificação dos suspeitos já foi aberto na Polícia Federal e um procedimento interno para apurar o caso também foi aberto na UFRGS.
Leia, abaixo, a íntegra da carta dos estudantes indígenas da UFSC e apoiadores:
Em caso recente nós estudantes indígenas da UFSC também fomos alvos de racismo, por meio de um grupo do facebook que leva o nome da instituição, tivemos nossa imagem exposta, nossa presença na universidade questionada e ainda fomos alvo de chacotas. Tais atos não são incomuns a nós, mas não vamos naturalizar, não foi um mal entendido, foi crime, prescrito na Constituição Federal. Esse é o momento de questionar que universidade queremos, qual é seu papel diante de crimes como esse e reafirmar que a inclusão não é apenas dispor de vagas, precisamos discutir permanência. Fazemos coro a expulsão desses criminosos, não podemos aceitar conviver com pessoas que cometem esse tipo de crime. Que sirva de exemplo, a violência não é apenas física, o racismo não é só o explícito, mas a nossa resistência é certa, casos como esse não serão esquecidos e muito menos abafados.
Toda solidariedade ao parente Nerlei Kaingang e ao seu sobrinho, que Ãgglenẽ e os espíritos da natureza conforte sua alma, nossos Aggõnhka sempre nos protegerão, nós somos povos guerreiros e isso não vai nos silenciar. Isso não vai acabar em branco.
Força! Luta! Resistência! A Universidade vai ser Indígena!