O dia doze de novembro de 2023, um Domingo de temperaturas elevadas e de um sol escaldante, reunimo-nos na casa do casal de educadores e missionários Cris e Jair. O Jair é coordenador da sub-região do CEBI Maringá e foi dele que veio o instigante convite para um encontro da sub-região com o coordenador estadual do CEBI-PR. Falando em nome do grupo que há anos caminha e celebra junto, ele disse: queremos fazer um encontro de estudo e celebrativo. Queremos conhecer e partilhar novas metodologias ou mesmo novas formas de se praticar e de se viver as antigas e tão caras metodologias que fizeram de nós homens e mulheres mais conscientes, engajados e comprometidos com as causas do povo, com as causas do Reino, com as causas da vida. A saber: o método VER-JULGAR-AGIR; os Círculos Bíblicos; a Ação-Reflexão-Ação que representa uma práxis libertadora. Ah, é fundamental que reflitamos, como comunidade, sobre a guerra injusta e descabida (o massacre/genocídio) de Israel contra o Povo Palestino. Por fim, buscamos fortalecer a amizade social e o cuidado de nossa Casa Comum.
Ufa! Tudo isso em um único dia? Não! A gente vai continuar um processo que já existe e será aperfeiçoado. Então, está bem. Assim estamos de acordo. Que tal, refletirmos sobre “A Palestina somos nós em busca de paz?”. E assim se deu. A amizade social como exigência para que a gente não apenas sobreviva ou viva, mas conviva: viva com as diversidades em harmonia e colaboração. Para concluir a nossa reflexão sobre a Palestina eu disse assim: “Dentro de nós, às vezes, mora um Israel… O Israel que habita em nós, vive bombardeando os palestinos que vivem do outro lado dos muros feitos de preconceitos, de autoritarismos e arrogâncias, que nós mesmos construímos”.
O Jair que formulou o convite, mobilizou o grupo, abriu as portas de sua casa e nos acolheu, sempre em sintonia fina com sua doce Cris. Iniciamos o nosso encontro de forma alegre, meditando e cantando, carismas estes reconhecidamente abundantes no Jair. A partir do jardim do quintal de sua casa, da ornamentação feita na garagem de sua casa, em procissão e cantando, chegamos ao local da celebração partilhada, a sala, igualmente ornamentada com flores, imagens e símbolos de luta. Cantamos “Javé o Deus pobres e do povo sofredor, aqui nos reuniu para cantar o seu louvor, pra nos dá esperança e contar com sua mão, na construção do Reino, Reino novo, povo irmão”. Sim, é em nome de Deus que nos reunimos. É para construir o seu Reino de Amor, aqui e agora, e vivermos a amizade social, que lutamos. Cantamos também, “É bonita demais, é bonita demais, a mão de quem segura a bandeira da paz”. Sim, nós não apenas cantamos, mas acreditamos no que dizemos cantando. E, sob as bênçãos de Deus, de Sara e de Agar, iniciamos a reflexão temática proposta e organizada por mim.
Vamos então, retomar o itinerário de um Círculo Bíblico? Um texto bíblico que nos facilite o juízo e ilumine as nossas mentes (Romanos 12,2-8); um passo adiante, encontrando a vontade de Deus e o que lhe agrada nas palavras da comunidade paulina, na passagem de (Efésios 11,2-22); vamos refletir sobre a nossa micro realidade (interna e externa) à luz dos textos lidos, buscando sempre encontrar um lugar para o nosso agir transformador. Vivência e convivência em comunidade. E concluiremos este itinerário meditando sobre este texto que expressa o auge da Teologia do Amor na obra de Paulo de Tarso (1Coríntios 13). Um hino ao amor. Tudo isso recheado de conversa, de partilha, momento em que todos os participantes disseram a sua palavra. Enquanto comentava sobre as riquíssimas contribuições vindas do grupo, eu ainda motivei que cantássemos: “Me chamastes para caminhar, na vida contigo… Decidi para sempre seguir-te e não voltar atrás. Me puseste uma brasa no peito e uma flecha na alma… É difícil agora viver sem lembrar-me de ti”. Trouxe presente neste momento os estudos que faço com o Conselho Nacional de Leigos e Leigas do Brasil – CNLB -, nas aulas virtuais, sobre a natureza do chamado. “Quem chama acende uma chama no peito do chamado”. Cada um e cada uma de nós recebeu um chamado e é nossa intenção mantê-lo presente e sempre atual. Manter essa brasa ardendo no peito e essa tocha acesa.
No decorrer da tarde mantivemos uma Conversa Grande que, como diz o Frei Carlos Mesters vira Conversão. Valdereza Soares trouxe-nos o exemplo de iniciativa da Casa de Nazaré, que acolhe e dá assistência às mulheres que estão no mundo das drogas. É uma das iniciativas que tem a participação e o reconhecimento de membros do grupo e que merece ser destacada. Descobri também que o Chico é irmão do Dito – Benedito Clovis da Silva -, ex-coordenador do CEBI-Sul e que já fez a sua Páscoa. Fizemos uma importante memória de sua história de vida, de luta e de fé. O Chico nos fez um emocionado e emocionante relato biográfico de seu irmão que certamente faz parte daqueles que deram suas vidas. “Vidas pela vida. Vidas pelo Reino”. Jair e Chico relataram a importância do Grupo de Estudos e Ações Comunitárias – GEAC – entre as ações que se interlaçam com as ações do CEBI e das lutas sociais.
Partindo dos olhares jovens de Edilaine e Renata, fizemos um retrato daquilo que esperamos ver acontecer como CEBI: os verbos e as sentenças são fecundos e provocadores, iluminar os caminhos da luta; capacitar nossas inteligências para as ações concretas e transformadoras; criar com mais frequência oportunidades como esta de diálogo fraterno, transparente, horizontal e que todos e todas podem falar e serem ouvidos; fortalecer a esperança e a fé na caminhada do povo de Deus; divulgar as conquistas e potencializar as ações locais. São pequenas ações, em pequenos grupos, mas que transformam realidades e salvam vidas, salvam o planeta e a criação. Por fim, participar com dignidade do CEBI. Que todas as pessoas participem e possam participar das atividades do CEBI e saibam o que está acontecendo e possam contribuir com seus dons e talentos.
Além dos dois grupos de estudos bíblicos que são acompanhados em Maringá, está surgindo outro em Sarandi. Chico e Valdereza propuseram organizar um encontro com todos no início do ano de 2024 e o grupo gostou e apoiou a ideia. “Esses grupos não fazem parte da ‘estrutura’ do CEBI, por dificuldades conceituais e de aceitação”, disse Chico. “Eu nunca deixei de trabalhar com pequenos grupos e de estudar a Bíblia”, disse o Chico. Que continuou: “Eu apenas não estou na estrutura as vezes verticalizada e autoritária do CEBI”. Eu lembrei-lhes de que o CEBI dedicou uma Assembleia Nacional para dizer que não quer e não será uma estrutura de poder ou administrativa, burocratizada e centralizadora. Entretanto, os rigores nos relatórios e nas prestações de contas, são mais que uma exigência, são princípios.
O CEBI, ao contrário, dito pela direção nacional, será cada vez mais fiel à sua identidade original e à sua gênese: ser um Centro de Formação Bíblica. Fazer e promover formação bíblica. Combinamos que, como diz Drummond, “Não nos dispersaremos muito e nos manteremos pertinho uns dos outros”. Vamos manter a comunicação em dia, vamos participar dos momentos coletivos, presenciais e virtuais. O grupo reconhece e apoia a representação do Jair como coordenador da sub-região e quer contribuir mais para que o CEBI cumpra a sua vocação. Eu disse-lhes que estamos preparando um Extensivo, um programa de formação nacional que substituirá o DABAR e que é de fundamental importância que ganhe capilaridade e chegue a todos os grupos de base. Minha mais sincera gratidão a vocês pelo convite, pela oportunidade de aprender tantas lições de vida com um grupo assim.
Curitiba, 13 de novembro de 2023 – segunda feira.
João Ferreira Santiago
Teólogo, Poeta e Militante.
Coordenador Estadual do CEBI-PR.
Doutorando em Teologia pela PUCPR