As religiões constituem uma pedra angular da convivência social e de organização política. De entidades residuais, como foram consideradas durante a afirmação do secularismo, voltaram a ocupar o espaço público, levantando muitas questões novas.
Hoje, as longas ondas da globalização vêm causando a miscigenação das culturas, impondo uma pluralidade de formas de fé. Falar da religião significa enfrentar a pluralidade de diferentes crenças, cada uma portadora de suas próprias histórias, tradições e identidades.
A “diversidade religiosa” modela cada vez mais as relações e as dinâmicas do Ocidente. Não é coincidência que o termo “sociedade pós-secular” entra cada vez mais nas características da contemporaneidade, mas essa imagem ainda precisa ser aprofundada, descrita e ajustada. Uma confirmação de que o sagrado não é facilmente marginalizável, ou até mesmo suprimível, como o positivismo costumava acreditar.
A emancipação, a racionalidade, a ciência não substituem a fé, mas se integram com ela, pois a demanda pela verdade, pelo absoluto e pelo eterno nunca morre e só se torna mais premente à medida que o homem progride.
Um mundo plural por “diversidade religiosa” levanta questões teóricas sobre a natureza da fé individual e sobre a legitimidade da pretensão de verdade que cada religião avança em relação às outras; porém, insta também escolhas práticas a partir da convivência na mesma sociedade. Depois, há o grande tema de como o Estado deve tratar uma religião: que liberdades permitir, que limites impor.
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Dimensões filosóficas e políticas dessa complexa e multifacetada problemática são tratadas com clareza e profundidade por Roger Trigg, filósofo britânico, que leciona nos Estados Unidos na Universidade de Georgetown e está envolvido em um projeto sobre a liberdade religiosa no Berkeley Center. Se atualmente a atenção do Ocidente está focada no fanatismo religioso, com suas derivações fundamentalistas ou sobre as formas impróprias para fazer valer a própria pretensão de verdade, não podem ser negligenciadas ou tratadas sumariamente as questões colocadas pelas religiões.
Trigg alerta principalmente contra um erro: classificar o fenômeno da “diversidade” como um mero “pluralismo religioso”, no qual todos os credos são iguais, afirmando uma visão e uma interpretação relativista das realidades. O “relativismo religioso” impede de perceber as especificidades de cada fé e de estabelecer prioridades: aspectos cruciais quando chega o momento das escolhas concretas que afetam a convivência social e o espaço público.
O relativismo ameaça banalizar as religiões e anular o uso correto do princípio da tolerância. Questões bastante significativas.
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Fonte: Comentário de Giovanni Santambrogio, publicado por Il Sole 24 Ore, 27/08/2017. A tradução é de Luisa Rabolini, por Instituto Humanitas.
Foto de capa: Portal das Comunidades Eclesiais de Base