Milhares de cidadãos saíram às ruas neste 7 de Setembro para protestar contra o presidente Michel Temer, alçado ao poder após a destituição de Dilma Rousseff pelo Senado, e para pedir a convocação de novas eleições. Realizados em dezenas de municípios brasileiros e em algumas cidades do exterior, os atos pegaram carona na 22ª edição do Grito dos Excluídos, organizado anualmente por movimentos sociais e pastorais católicas para dar visibilidade à causa das populações vulneráveis.
Em São Paulo, o protesto reuniu cerca de 15 mil participantes, de acordo com a Frente Brasil Popular. A Polícia Militar não divulgou uma estimativa. Além dos militantes de partidos políticos e movimentos sociais, o Grito dos Excluídos atraiu grande número de mulheres, jovens e famílias. Em uníssono, os manifestantes entoaram diversas vezes o coro “Fora, Temer”. A bandeira pelas “Diretas Já” também se fez presente durante o ato, nos cartazes e nos discursos.
A concentração começou às 9h na Praça Oswaldo Cruz. Depois, a multidão marchou pela Avenida Paulista, seguiu pela Avenida Brigadeiro Luis Antônio, até chegar ao Parque Ibirapuera, por volta do meio dia e meia. O prefeito e candidato à reeleição, Fernando Haddad (PT), participou do protesto, na companhia do ex-senador Eduardo Suplicy. Candidato a vereador e ex-secretário dos Direitos Humanos da prefeitura, Suplicy voltou a defender a convocação de novas eleições como "solução mais sensata" para a crise política no Brasil.
O protesto transcorreu de forma pacífica até o final. No domingo passado, um ato contra o governo Temer terminou em confusão, quando a Polícia Militar disparou bombas de gás lacrimogênio contra os manifestantes no momento da dispersão. Vinte e seis jovens, 8 deles menores de idade, foram detidos antes do início da manifestação.
“O Brasil como Estado Democrático de Direito não pode legitimar a atuação policial de praticar verdadeira ‘prisão para averiguação’, sob o pretexto de que estudantes reunidos poderiam, eventualmente, praticar atos de violência e vandalismo em manifestação ideológica. Esse tempo, felizmente, já passou”, afirmou o juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo, ao determinar a soltura dos manifestantes no dia seguinte.
São Paulo também registrou outro protesto na tarde desta quarta-feira, 7 de setembro. Os manifestantes concentraram-se na Praça da Sé e, de lá, iniciaram uma passeata pelas ruas da capital paulista. A deputada federal Luiza Erundina, do PSOL, candidata a prefeita de São Paulo, estava presente. Até o fechamento dessa matéria, a marcha, puxada majoritariamente por jovens e estudantes, prosseguia em clima pacífico e sem incidentes.
No centro do Rio de Janeiro, milhares de manifestantes ocuparam a Avenida Presidente Vargas e seguiram em marcha até a Praça Mauá. Um enorme cartaz com a frase "Este sistema é insuportável, exclui, degrada, mata!", lema da atual edição do Grito dos Excluídos, guiou a multidão, a empunhar faixas contra o golpe e contra o governo Temer.
Candidatos à prefeitura da capital, Marcelo Freixo (PSOL) e Jandira Feghali (PCdoB) participaram do ato no centro do Rio. Também presente, o senador petista Lindbergh Farias afirmou que as mobilizações provam que não vai ser fácil para os "golpistas" dilapidar os direitos sociais.
Em Belo Horizonte, o ato do Grito dos Excluídos se converteu em um grande protesto contra o governo Temer. Os manifestantes se marcharam da Praça Raul Soares até a Praça da Estação, no centro da cidade. Contrários ao processo que levou ao impeachment de Dilma Rousseff, a multidão também reivindicava a convocação de eleições diretas.
"Não se trata de um deslocamento do Grito dos Excluídos. Todos nós, povo brasileiro, classe trabalhadora, juventude, pobres e negros, estamos excluídos. Esse golpe excluiu as mulheres do poder e dos ministérios, excluiu a diversidade, excluiu a perspectiva de futuro. Portanto, é natural que os excluídos peçam a saída de Michel Temer", disse Beatriz Cerqueira, presidenta da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais.
A organização calcula que 10 mil pessoas participaram do ato na capital mineira. A Polícia Militar não apresentou uma estimativa. Ex-ministro dos Direitos Humanos e atual titular da secretaria dedicada ao tema no governo de Minas Gerais, Nilmário Miranda celebrou o êxito da mobilização no estado. “Michel Temer está mudando o projeto de País que foi escolhido nas urnas. E está estimulando esse movimento, pois as pessoas não vão aceitar esse golpe. Ano passado tiveram 500 pessoas no Grito dos Excluídos. Esse é o maior grito da história dos gritos”.
O Grito dos Excluídos também teve recorde de público no Recife. Segundo os organizadores, cerca de 20 mil pessoas participaram da manifestação pelas ruas do centro da cidade. A Polícia Militar não divulgou números. Em Pernambuco, o evento é organizado pelo Fórum Dom Hélder Câmara, que reúne cerca de 25 movimentos sociais e pastorais católicas.
Neste ano, o movimento decidiu se posicionar contra o governo Temer. Numerosas faixas pediam a “volta da democracia” e classificavam o impeachment de Dilma como um golpe. Fotos de parlamentares pernambucanos que votaram pelo afastamento da presidenta eleita foram expostas em faixas, acompanhadas da designação “golpistas”.
“Este grito está recheado de muita luta, pelo ‘Fora Temer’, não vamos admitir um governo golpista que quer retirar direitos dos trabalhadores. Por isso, este ano ele une todos os movimentos populares e sociais em defesa da democracia, em defesa das conquistas de mais de cem anos da classe trabalhadora”, afirmou Carlos Veras, da Central Única dos Trabalhadores, ao Diário de Pernambuco. Cerca de 650 famílias sem-terra, que estavam acampadas na sede local do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), uniram-se ao ato.
Na capital baiana, os participantes do Grito dos Excluídos pediram a saída de Temer da Presidência da República e a convocação de novas eleições. Coordenador das Pastorais Sociais da Arquidiocese de Salvador, o padre José Carlos Silva disse que a pauta do evento anual permanece pelos pobres e menos favorecidos, mas este ano é também pela democracia.
“A gente tem que lutar pelos mais pobres e se, neste momento, os pobres ficam cada vez mais excluídos, a Igreja tem que estar do lado deles, e apoiando. É por isso que hoje, no Grito dos Excluídos, a gente diz também "Fora, Temer”, afirmou o líder religioso. Segundo os organizadores, mais de 15 mil pessoas participaram da passeata em Salvador.
Em Porto Alegre, a marcha do Grito dos Excluídos partiu da sede gaúcha do Incra, que desde segunda-feira 5 está ocupada por camponeses do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Por volta das 9h30 da manhã, os militantes saíram em caminhada pela Avenida Loureiro da Silva, acompanhados por policiais da Brigada Militar.
Uniram-se à manifestação integrantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), de movimentos negros, feministas e da comunidade LGBT. Também os bancários, em greve nacional desde a terça-feira 6. Cedenir de Oliveira, representante da direção nacional do MST, afirma que o ato é o prenúncio de uma grande mobilização popular contra os retrocessos propostos pelo governo Temer. “Já estamos prevendo as medidas desse novo governo, que certamente vai enfrentar a classe trabalhadora, seja pela [reforma da] Previdência, seja pela redução de direitos, seja pelo impedimento de grandes programas que dialogam com as nossas necessidades”.
Em Brasília, Temer seguiu um protocolo de exposição mínima durante a parada militar do Dia da Independência, na tentativa de fugir das vistas e das vaias públicas. Não deu certo. Gritos de “Fora Temer” e “golpista” ecoaram no início e no fim do desfile, disparados por um pequeno grupo situado em local específico na Esplanada dos Ministérios.
As primeiras vaias a Temer surgiram assim que ele desceu, pontualmente às 9h, em frente à área reservada às autoridades. O impopular presidente abriu mão de desfilar em um Rolls-Royce conversível, como é tradição. Optou por ir ao local em carro fechado.
Um grupo maior de manifestantes permaneceu à distância. Reunidos em frente ao Museu da República, eles esperaram o término do desfile oficial para iniciar uma marcha contra o governo até o Congresso Nacional. Convocado pelas redes sociais, o ato reuniu 5 mil participantes, segundo os organizadores. A Polícia Militar do Distrito Federal estimou o público em cerca de 3 mil.
Responsável pela interlocução do Planalto com movimentos sociais no primeiro mandato de Dilma, o ex-ministro Gilberto Carvalho compareceu ao protesto. “Esse é um golpe não só de tirar a Dilma, mas é contra os trabalhadores. Cada medida que eles mandam para o Congresso vai numa direção só: retirar os direitos sociais”, afirmou. “Eles estão dando pauta para nós. E ela será o combustível para os protestos”.
Os protestos se multiplicaram por diversas capitais e cidades do interior e do litoral. No exterior, também foram registrados atos em Londres, Berlim, Frankfurt, Colônia, Dublin, Madri, Buenos Aires e Montreal.
* Com informações da Agência Brasil.