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Como pensar o modelo de Igreja na América Latina de hoje

Ao debater sobre os diversos modelos de Igreja na América Latina de hoje, o teólogo brasileiro, José Oscar Beozzo, explica que o Cristianismo ocidental latino apresenta diferentes modelos de convivência, sendo fundamental para a Igreja incluir o ecumenismo, as variadas expressões culturais e resgatar a vida e a dignidade das mulheres. Beozzo esteve recentemente no II Congresso Continental de Teologia, em Belo Horizonte (Estado de Minas Gerais).

"Quando falamos em modelos de Igreja não se pode perder de vista a grande diversidade da Igreja cristã”, destaca o teólogo. Segundo ele, a América Latina apresenta uma cristandade diversa da praticada na Europa, em países como Espanha e Itália, pois, no contexto latino-americano, fé e política estiveram indissociáveis, "abraçadas entre si”, "a fé junto com o império”.

Entre as consequências dessa dimensão política da fé, Beozzo cita a exploração dos povos nativos, a escravidão dos negros, bem como a violência simbólica que buscou substituir as expressões culturais por uma forma única dominante. "E a fé era parte desse sistema”.

O teólogo defende que não há modelo novo de comunidade cristã, se não estiver presente a possibilidade das comunidades se expressarem sem perderem suas raízes culturais. Para ele, em processos de evangelização conduzidos sob um único modo prevalece a sujeição.

Sob a mesma perspectiva, Beozzo acredita que não se pode pensar em uma nova experiência cristã (como sociedade, cultura e Igreja) sem passar pelo resgate da vida e da dignidade das mulheres. "Aqui, houve um abuso da dignidade das mulheres indígenas e africanas, com exploração sexual e de trabalho. Construímos a sociedade sobre a exploração dos corpos e das vidas, sob uma herança negada, desprezada, diminuída e proibida”.

Retomando as discussões apresentadas pelo Concílio Vaticano II [1962-1965], o teólogo observa que esse Concílio propôs um modelo de Igreja que devolve a palavra de Deus para a comunidade cristã; que compreende a importância da instituição estar em diálogo com o mundo moderno, com a ciência, a arte e o trabalho; além de reconhecer a existência de outras Igrejas orientais, "que têm muito a nos ensinar”.

Beozzo assinala ainda, como ponto determinante para um novo modelo de Igreja repensar a questão do poder, do clericalismo, que, segundo ele, teria perdido vigor na Convenção de Medellin (1968), mas voltou com força. O teólogo enfatiza também como relevante o respeito às igrejas locais e o direito destas organizarem-se de forma colegial e não piramidal. "Há uma mudança que devemos reivindicar – o sacramento estruturante da Igreja, que é o batismo. Não é o sacramento de ordem que nos dá a chave para entender e situar a igreja, mas o batismo (para mulheres e homens)”.

José Oscar Beozzo é também sociólogo, historiador, assessor das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), além de coordenar o Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (Cesep), em São Paulo. Autor de vários livros, ele deve lançar em breve uma obra sobre o Pacto das Catacumbas.

*Por Cristina Fontenele, repórter

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