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CHILE – Mapuches: ‘nossa luta é contra o extrativismo florestal e jamais contra os trabalhadores’

CHILE - Mapuches: ‘nossa luta é contra o extrativismo florestal e jamais contra os trabalhadores’
Entrevista com o líder da Coordenadoria de Comunidades Mapuche em Conflito sobre a ‘espontânea’ mobilização de uma fração dos trabalhadores florestais em território Mapuche em resistência.

A militarização por parte do Estado chileno no território onde a resistência Mapuche tem cobrado superiores níveis de luta frente aos interesses da indústria florestal, propriedade do grande capital, adota novas e perigosas estratégias contra a vida das pessoas. Bem como, pelas costas da cidadania, se promove uma lei que contempla ‘o controle preventivo de identidade’ para menores de idade, tal como existiu na ditadura, na zona Mapuche em luta, as madeireiras e sua acumulação capitalista baseada no extrativismo (cujo objetivo é a ganância à custa da superexploração do povo trabalhador, a destruição de comunidades indígenas e da natureza) agora usa uma fração dos próprios assalariados da zona em conflito, com a finalidade de alentar uma maior militarização da Araucanía.

Tanto o Povo Mapuche, em geral, como a CAM há quase 20 anos resistem historicamente à violência militar hispânica, primeiro, e, depois, à violência militar do capitalismo, que empregou e emprega as armas do Estado chileno para seu exclusivo beneficio. Em todo o planeta, é conhecida a causa justiceira do Povo Mapuche pela defesa e recuperação do seu território ancestral. Trata-se de uma luta antiga e que supera a atual contingência marcada pelo saque privado dos recursos naturais e do solo. Nesse marco, o que há por trás da recente e ‘espontânea’ mobilização de um segmento dos assalariados, que vende sua força de trabalho para as madeireiras?

Não cabe dúvida que a mobilização de um setor dos trabalhadores é parte de um conjunto de medidas impostas pelas autoridades atuais com o objetivo de seguir salvaguardando os interesses empresariais, neste caso, da indústria florestal. Basta se perguntar quem são os beneficiados com uma mobilização assim. A minoria de cima move suas peças e recursos para a realização dos seus interesses: garantir o normal funcionamento dos seus circuitos econômicos, para a sua reprodução e ganância. Ao capital madeireiro jamais lhe interessou os direitos dos trabalhadores nem o futuro de suas famílias. Ou já esqueceram o assassinato policial do trabalhador Rodrigo Cisterna, em 2007, baleado enquanto participava de una greve de trabalhadores subcontratados por uma madeireira de propriedade do grupo Angelini?

A presente situação aprofunda ainda mais a militarização das zonas em conflito. Uma militarização que protege as madeireiras e é destacada contra nossas reclamações históricas.

Qual é o resumo dessas demandas históricas?

O direito à territorialidade, que tem nosso Povo-Nação Mapuche e que se eleva sobre fundamentos irrebatíveis para todos os sectores envolvidos no conflito.

"Como CAM, daremos continuidade ao processo empreendido, apesar das novas medidas que apontam para a militarização e repressão para com o Povo Mapuche”

Os dirigentes dos trabalhadores dizem que necessitam de ‘segurança’. Mas o conceito de segurança militarização, cárcere, são parte do repertório clássico da fração mais fascista e regressiva dos grandes capitalistas. Nunca se fala de segurança social, de pleno e seguro emprego, e menos das causas que provocam a conflitividade social, que sempre são a precariedade e flexibilidade trabalhista, o subemprego, a ausência de direitos sociais…

Por isso nos parece altamente preocupante que uma parte dos trabalhadores, ou talvez da sua direção, não considere a origem profunda do conflito e da justeza da nossa luta, na hora de falar de ‘maior segurança para os seus trabalhadores’.

Sobretudo, considerando que a luta do nosso Povo-Nação é basicamente de ordem territorial e autonômica, da reivindicação de certos territórios hoje nas mãos principalmente das madeireiras. Essa situação concreta é a que cria todo um quadro de confronto com o empresariado madeireiro. Nós sempre sustentamos que nossa luta é contra essa porção capitalista e jamais contra os trabalhadores. Isto demonstramos na maioria dos atos de resistência, os quais são dirigidos à economia capitalista, seus métodos, seus insumos, etc., e não contra as atividades propriamente dos trabalhadores. Menos ainda contra a sua integridade física e psicológica. É um verdadeiro contrassenso que se argumente que os trabalhadores estariam em risco quando trabalham em prédios que se encontram em zonas de conflitos e que constituem reclamações territoriais históricas das comunidades.

No Chile, o Estado cumpre uma função de subsidiário do capital. E juntamente com a mineração e os bancos, o extrativismo florestal é um dos máximos beneficiados com os recursos do conjunto das e dos trabalhadores no país. Em última instância, quem é o responsável pela militarização em território Mapuche?

O que mais aporta à militarização é o Estado chileno e, particularmente, a atual administração, que ainda quer impor a que se dê lugar a um modelo de governança ultraliberal. Seguindo o manual da violência e da guerra contra os povos que resistem em todo o mundo, a administração executiva do Estado do Chile se viu na necessidade de cooptar a parte da direção dos trabalhadores florestais com a finalidade de utilizar seu protesto como argumento para proteger os interesses econômicos florestais, deixando os trabalhadores em meio ao fogo cruzado nesse confronto entre as nossas forças Mapuche e as empresas madeireiras.

Nossa entrevista anterior se deu no contexto do protesto dos proprietários de caminhões, ocorrido no fim de agosto de 2015. Existe alguma relação entre essa situação e a atual?

"Se então questionamos a utilização dos grêmios de donos de caminhões para atuarem como ‘cavalos de batalha’, com o propósito de salvaguardarem os interesses econômicos madeireiros, agora, nos parece ainda pior a instrumentalização dos sindicatos florestais, para justificar políticas repressivas em território Mapuche. Seus dirigentes, em especial os dos caminhoneiros, realizam declarações sobre fatos consumados e eles são os que, na prática, convertem os trabalhadores em ‘bucha de canhão’.

Também é preciso deixar claro que a responsabilidade por alguns acontecimentos indesejados, que afetem os nossos irmãos trabalhadores, é do Estado e das autoridades atuais porque estão querendo usá-los perversamente contra o Povo Mapuche mobilizado.

Qual seria o cenário lógico para a causa Mapuche?

Que a ação dos trabalhadores florestais fosse de um questionamento profundo das injustiças cometidas contra o nosso povo, demandando uma solução de tipo política de alto nível, que repare, pelo menos em parte, as reclamações políticas e territoriais do nosso povo e em defesa da sua fonte de trabalho, mas fora das zonas de conflito. Isto é, uma demanda concreta de paralisação de serviços ou de negação de todos os termos de trabalho em todos aqueles prédios com reclamações históricas das comunidades. Incluindo uma sorte de reparação de parte das madeireiras e do Estado em caso de que suas fontes de trabalho sejam afetadas, mas não omitindo nunca que os mapuche temos razões históricas, políticas e culturais para recuperar nossos territórios, hoje nas mãos de empresas, e que são vítimas da mais atroz depredação que executa o capitalismo extrativista no Wallmapu. Exigimos respeito e consideração para com as nossas reivindicações, baseadas no direito ao território e na autonomia para a Nação Mapuche.

O movimento mapuche autônomo leva no corpo cerca de duas décadas de mobilização e luta por seu território e autonomia, e, neste contexto, jamais agimos contra os trabalhadores.¿Por que? Porque temos plena consciência, como povo oprimido, que as e os trabalhadores são igualmente dominados e explorados pelo modo de reprodução capitalista.

O que fará, agora, a Coordenadoria de Comunidades Mapuche em Conflito, CAM?

Como CAM, daremos continuidade ao processo empreendido, apesar das novas medidas que apontam para a militarização e repressão contra o Povo Mapuche. A causa nossa se assenta sobre a base da reconstrução nacional e da resistência, seguindo nossas normas como mapuche, baseadas no ad mapu ka nor mongen e na nossa ética de ação política, que resguarda a vida e a integridade da nossa gente e de todos aqueles que se vejam envolvidos indiretamente.

Portanto, como organização Mapuche autonomista, seguiremos no âmbito da resistência territorial, desenvolvendo ações contra os investimentos capitalistas, principalmente do tipo florestal, devido às consequências nefastas que a sua presença significa na vida Mapuche em geral, bem como em seus aspectos econômicos, sociais e culturais. Em consequência, se terá o máximo cuidado quando exista a presença de trabalhadores.

 
* Por Andrés Figueroa Cornejo, jornalista.
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