Reunid@s nas plenárias, oficinas e encontros cotidianos, bebemos de fontes de nossas vidas e realidades juvenis; de teologias da libertação; da memória de tantas mulheres e homens e de tantas experiências que foram vividas antes de nós.
É com essas águas que alimentamos o nosso cotidiano. Reconhecemos que a espiritualidade libertadora é um modo de viver, de expressar o apelo radical feito por Jesus quando assumiu a nossa humanidade. Essa espiritualidade perpassa nossos corpos, o nosso "coração de carne?, nossas entranhas, ante as provocações da realidade que nos oprime, permeada por sinais de morte e cruzes fixas nas esquinas de nossas casas, nas vielas de nossas comunidades, nos espaços eclesiais. Elas nos provocam para uma opção pelas pessoas excluídas e à margem do neoliberalismo, sistema idolátrico que pede vítimas. A espiritualidade deve nos levar à boa notícia da vida plena e abundante para todas as pessoas e toda a Criação. Uma vida sem muros, sem as barreiras do individualismo, fundamentalismos e intolerâncias.
Com este espírito, com humildade e rebeldia amorosa, nos comprometemos a:
– denunciar e lutar contra o extermínio da juventude negra, pobre e periférica, configurado como verdadeiro genocídio;
– enfrentar a homofobia, a lesbofobia e transfobia, que negam o direito de expressar a vivência de uma sexualidade marcada pela pluralidade e pelas diferenças;
– combater o capitalismo, o patriarcado e o machismo, que (des)estruturam a nossa casa-comum e destroem e ceifam as vidas de tantas mulheres e desumanizam os homens;
– contestar a influência do fundamentalismo religioso no exercício da política institucional, um modo de agir que testemunha uma religião arrogante, preconceituosa e excludente, que compromete a garantia do Estado Laico;
– participar ativamente no processo da reforma do sistema político brasileiro;
– sensibilizar e assumir a defesa de uma justiça socioambiental que garanta a vida do nosso planeta e de seus habitantes, assegurando os recursos naturais para as futuras gerações;
– engajar-se na luta pela justiça no campo, pela realização de uma reforma agrária popular, pela demarcação das terras indígenas e das terras ancestrais d@s quilombolas e outras comunidades tradicionais, como também pela integridade de suas culturas. Essas dimensões são fundamentais para evitar o genocídio destas populações;
– lutar contra todo tipo de atitude ou expressão de intolerância religiosa e assumir a profecia de uma vivência ecumênica que testemunhe o Mistério atuante na diversidade reconciliada;
Que a nossa espiritualidade se alimente da mesma mística de Jesus e da sua fidelidade ao sonho maior do bem-viver. Vinho novo em odres novos nos reúna na festa que já celebramos na fé do que há de vir, antecipado na alegria de nossos corpos, de nossos encontros, brincadeiras e danças na construção de mundos novos, possíveis e imaginados, numa esperança organizada.
Amém, Axé, Aleluia, Awiri.
Fortaleza, 1º a 4 de maio de 2014.