Leia o comentário de Marcos Aurélio dos Santos, reflexão sobre o sermão do monte a partir de uma leitura popular e libertadora em Mateus 5. 1-12.Boa leitura!
Os pobres
Felizes são os pobres, quando decidimos lutar ao lado deles por libertação, igualdade e justiça. Felizes são os pobres que encontram nas palavras de Jesus um caminho libertador, que os anima para uma nova caminhada na busca por respeito, liberdade e dignidade. Felizes são os pobres que encontram pessoas de espírito comunitário, cheios de bondade, que decidem partilhar o pão, mas que também perguntam a si mesmo e à sociedade porque há tanta riqueza no mundo e ao mesmo tempo milhões de famintos e esfarrapados. Felizes são os pobres (de espírito) que são reconhecidos como pessoas especiais, escolhidas por Deus para serem participantes do seu Reino, um Reino, incomparável, que não é deste mundo, mas que foi enviado pelo Eterno para que o mesmo esteja entre nós, de forma concreta, aqui e agora.
Os que choram
Felizem são os que choram por amor a seus irmãos e irmãs, que tanto sofrem as opressões por parte dos impiedosos e desumanizados, daqueles que colocam como centro da vida o dinheiro e o poder, homens e mulheres movidos pela ambição, domínio e ostentação. Felizes são os que choram de maneira comunitária, que juntos compartlham da dor dos pequeninos, que em meio aos prantos e desesperanças, lhes oferece ombro amigo, acalento e palavras ternas, ajudando-os a trilhar um novo caminho de fé e esperança. Perguntam a si mesmo a causa de tanto sofrimento e angústia, partilha a mesa com os famintos sem reservas. Felizes são os que choram por um mundo melhor e fraterno, que acreditam em utopias, que sonham, na esperança utópica do Cristo ressuscitado. Esse choro não é motivado pelo desespero, ingratidão, murmuração e ódio, mas é um choro com lágrimas de fé, amor e esperança. Estes serão sempre consolados no colo do Pai, que é também mãe, que acolhe, que enxuga toda a lágrima dos seus filhos e filhas.
Os mansos
Felizes são os que aprendem de Jesus a prática da mansidão, que não são vingativos, nem se exaltam diante de situações de conflito. Não invocam o deus da vingança e do ódio, esperando uma falsa justiça, ao contrário, esperam com paciência o agir do bondoso Deus. Felizes são os que respondem às acusações levianas e injustas com espírito manso, lutando sempre pela paz e fraternidade entre seus irmãos e irmãs. Não se desesperam, o seu refúgio vem das palavras de Jesus que conforta e anima. Felizes os que lutam por terra, presente de Deus, a grande casa comum, abrigo sem dono, pois tudo é de todas e todos.
Os famintos por justiça
Felizes são os discípulos e discípulas que não se cansam na caminhada de libertação, que são persistentes e corajosos na luta por justiça. Felizes são os que acolhem os injustiçados, gente de coragem, que no exemplo de Jesus, estão sempre sob perigos de prisões e morte, mas o amor e a fome por justiça transcende, o Espírito do Jesus libertador os encoraja, e por isso não recuam no meio do caminho. Felizes são os que demonstram indignação e revolta ao ver o sofrimento do injustiçado, estes não se contentam em uma simples comoção, palavras ou sentimentos, mas agem de maneira concreta diante das maldades imputadas aos pequeninos, nossos irmãos e irmãs. Os famintos por justiça não são justiceiros que esperam os aplausos da sociedade, antes, são inimigos da fama, buscam a simplicidade e o anonimato. Fazem sem a pretensão de serem reconhecidos pela mídia. Suas ações são discretas, os pobres e injustiçados são os protagonistas. Os que caminham na luta por justiça jamais devem usar os pobres para sua auto-promoção, o que torna um ato de justiça em injustiça.
Os misericordiosos
Felizes são os que, no amor de Jesus buscam uma espiritualidade libertária, em entranhas de compaixão e misericórdia. São os que seguem o caminho do Jesus comunitário, que não impõe a lei em detrimento do amor, discípulos e discípulas de corações livres das amarras do sistema religioso com seus religiosos, que em vez de demonstrar misericórdia, impõe o determinismo, fardos pesados do legalismo, submetendo as pessoas a prisões e medo, sob duras penas de exclusão. Os misericordiosos seguem o caminho do subversivo da Galiléia, que das suas entranhas, transborda misericórdia. Seu julgo é suave como o voo das aves, seu fardo é leve como as plumas do ganso. Os misericordiosos sempre oferecem acalento e ternura, sem aplicar punição condenatória aos supostos “errantes”. Ao contrário dos detentores da lei, preferem o caminho do amor libertador. Estes certamente encontrarão a misericórdia de Deus.
Os limpos de coração
Felizes são os que cultivam o amor e o perdão, que não alimentam ressentimentos e raízes de armagura. Antes, se deixam levar pela ternura e sensibilidade, perdoando uns aos outros, em uma concreta demonstração do amor libertador de Jesus. É um desafio imenso, e não é muito fácil de se viver. Por isso precisamos da ajuda do Espírito, que é cheio de misericórdia, mansidão e bondade, é o Espírito de Jesus que nos convence a retomar o caminho do amor, sem Ele permaneceremos com o coração maculado pelo recentimento e ódio, o que nos impede de certa forma prosseguir no caminho da esperança. Felizes são os que abrem o coração para Jesus, para que ele habite de maneira abundante, com liberdade em entranhas de compaixão. Felizes os de coração quebrantado, humilhado, corações animados para realizar a vontade do Pai. Corações cheios de amor e de esperança, que realizam a missão libertária de Jesus de Nazaré.
Os pacificadores
Felizes são os discípulos e discípulas que promovem a paz e a vida plena. É certo que nem todos querem viver em paz, muitos preferem viver em constante conflito, fazendo da vida um guerra diária, alimentando o ódio e a divisão. Estes não tem respeito pela vida, acreditam que o mundo é um grande campo de batalha, se envolvem facilmente em conflitos desnecessários com a intenção de destruir o outro. Como o leão que ruge para proteger o seu clã, demarcam seu território, impedindo a entrada de opositores que pensam e agem de maneira diferente da sua. São infelizes, secos e sem alegria. Preferem a guerra em vez da paz. Os pacificadores trilham por outro caminho. São amantes da conciliação, estão abertos para suportar o outro com seus limites, diferenças e defeitos, demonstram um espírito dócil, cheios de paciência e mansidão, acalmam os conflitos e sempre buscam um caminho conciliador. Estes encontram a felicidade, onde a discórdia e a divisão não acharão lugar.
Os perseguidos por causa da justiça
Felizes são os que se doam pela causa do reino de Deus. É uma missão dolorosa, contudo nos enche de alegria e fé. Este são os que ao longo da vida tem optado por rupturas em vez de reformismos. São irmãos e irmãs de coragem, que não deixam calar a profecia. São felizes porque decidiram lutar ao lado dos pobres, dos pequeninos, dos que em um mundo de opressões não tem vez nem voz. Suas vidas estão em constante perigo, sob ameaças de exclusões, prisões e morte, por isso o reino de Deus é também a boa nova de alegria para os que têm ousadia e coragem para enfrentar os sistemas opressores. Felizes são os que não negociam o Evangelho de Jesus, não se vendem, nem se deixam levar facilmente pelas armadilhas e astúcias dos religiosos. Os perseguidos por causa da justiça são livres, assim como os profetas e profetizas, não participam das festas dos reis, nem comem na mesa com religiosos. Seguem a subversão do Nazareno, que em seu caminho de libertação, desobedeceu o sistema político-religioso por amor ao povo. Estes devem sempre se alegrar em saber que seus irmãos e irmãs, na história, também sofreram pelos mesmos motivos, muitas perseguições. Os perseguidos por causa da justiça são revolucionários do amor, e por isso sempre serão odiados por seus inimigos.
A Felicidade não está nas vantagens, prazeres e seduções oferecidos pelo sistema opressor, que satisfazem apenas a nós mesmos, alimentando nosso egoísmo, nem tão pouco nos que almejam um projeto pessoal de poder. Felizes são os do caminho da profecia, levados pelos ventos da esperança utópica, no amor revolucionário de Jesus de Nazaré.
–
Texto com autoria de Marcos Aurélio dos Santos.