Famílias produtoras de alimento são agentes decisivos de mudança na busca por segurança alimentar sustentável e na erradicação da fome mundial no futuro. Segundo informe recente da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), nove em cada 10 dos 570 milhões de cultivos agrícolas são geridos por famílias, figurando estas como o elemento predominante do setor.
A organização aponta que os cultivos agrícolas familiares produzem em torno de 80% dos alimentos do planeta e correspondem a 75% de todos os recursos agrícolas mundiais, figurando como chaves para melhorar a sustentabilidade ecológica e de recursos naturais. De acordo com o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, essa produção predominante é vital para solucionar a fome que aflige mais de 800 milhões de pessoas no Globo.
Ao mesmo tempo, a agricultura familiar está entre as mais vulneráveis às consequências do esgotamento dos recursos e da mudança climática. Enquanto que terras geridas por agricultores familiares geram excelentes rendimentos, muitas pequenas fazendas não alcançam produzir o suficiente para proporcionarem meios de vida dignos para as famílias.
"A agricultura familiar se encontra, assim, diante de um triplo desafio: o aumento do rendimento para satisfazer a necessidade mundial de segurança alimentar e uma melhor nutrição; a sustentabilidade ambiental para proteger o planeta e garantir sua própria capacidade produtiva; e o crescimento da produtividade e diversificação dos meios de vida para sair da pobreza e da fome”, destaca a FAO. De acordo com a organização, todos esses desafios pedem que os agricultores inovem seus modos de produção.
A FAO faz um chamamento para que o setor público, trabalhando conjuntamente com os agricultores, organizações da sociedade civil e o setor privado, melhore os sistemas de inovação para a agricultura. "Os sistemas de inovação agrícola incluem todas as instituições e atores que apoiam os agricultores no desenvolvimento e adoção de melhores formas de trabalho em um mundo cada vez mais complexo”, justifica.
A organização propõe ainda que a capacidade de inovação deve promover-se em vários níveis, com incentivos para camponeses, investidores e provedores de serviços e assessoramento, além de cadeias de valor integradas para interatuar e criar redes e associações para compartilhar informação. "Em todos os casos, os agricultores têm de ser protagonistas da inovação, já que somente assim poderão tomar posse do processo e assegurar-se de que as soluções que se oferecem respondem às suas necessidades”, asseverou Graziano da Silva.
A organização destaca que os responsáveis pelas políticas públicas do setor devem levar em conta a diversidade da agricultura familiar em termos de tamanho, tecnologias utilizadas e a integração dos mercados, assim como seus entornos ecológicos e socioeconômicos. Esta diversidade implica que os agricultores tenham diferentes necessidades dentro de um sistema de inovação. "Ainda assim, todas as fazendas necessitam de uma melhor governança, estabilidade macroeconômica, infraestrutura física e institucional do mercado e educação, assim como pesquisa agrícola básica”, ressalta a FAO.