A cena da entrada de Jesus em Jerusalém revela a sua identidade como Messias pobre e desarmado. Jesus mesmo toma as providências para entrar na cidade montado num jumentinho, o transporte dos pobres daquela época. Ao narrar este episódio, Mateus se inspira na tradição profética. Para dar à cena o sentido do cumprimento da profecia, ele cita literalmente o texto de Zacarias 9,9: “Dizei à Filha de Sião: eis que o teu rei vem a ti. Ele é manso e está montado num jumento, num jumentinho, cria de um animal de carga!”
Mateus 21,6-7: Acolher Jesus tal como ele se revela e se apresenta
Os discípulos são encarregados de preparar o animal para a entrada de Jesus na cidade. Eles vão e fazem exatamente como Jesus mandou. Por trás desta narração, tem um recado para as comunidades: verdadeiro discípulo é aquele que aceita Jesus do jeito que ele é e quer ser, e não do jeito que elas gostariam que ele fosse. Se Jesus se fez Messias pobre e desarmado, não podem fazer dele um messias glorioso e poderoso.
Mateus 21,8-9: Eles queriam um grande rei
A multidão reage entusiasmada, estendendo seus mantos no chão para Jesus passar, e grita: “Hosana ao Filho de Davi!” Eles reconhecem em Jesus o Messias, o descendente do rei Davi. “Eles queriam um grande rei, que fosse forte e dominador!” Jesus não apreciava muito este título de “Filho de Davi” e chegou a questioná-lo (Mt 22,41-46). Pelo seu jeito de entrar na cidade, sentado num jumentinho, ele dizia que a sua maneira de ser rei era diferente.
Mateus 21,10-11: Quem é este?
A entrada de Jesus em Jerusalém questiona o povo da cidade. Ele fica abalado, agitado e pergunta-se: “Afinal, quem é este que a multidão acolhe como rei messiânico? Por que ele vem como um pobre?”
1. As várias imagens de Messias
A causa do desencontro entre Jesus e o povo tinha a ver com a esperança messiânica. Havia entre os judeus uma grande variedade de expectativas. De acordo com as diferentes interpretações das profecias, havia gente que esperava um Messias Rei (Mt 27,11). Outros, um Messias Santo ou Sacerdote (Mc 1,24). Outros, um Messias Guerrilheiro subversivo (Lc 23,5; Mc 15,6; 13,6-8). Outros, um Messias Doutor (Jo 4,25). Outros, um Messias Juiz (Lc 3,5-9; Mc 1,8;). Outros, um Messias Profeta (Mt 21,11). Ao que parece, ninguém esperava o Messias Servo, anunciado pelo profeta Isaías (Is 42,1; 49,3; 52,13). Eles não se lembraram de valorizar a esperança messiânica como serviço do povo de Deus à humanidade. Cada um, conforme os seus próprios interesses e conforme a sua classe social, aguardava o Messias, livrinho na mão, querendo encaixá-lo na sua própria esperança. Por isso, o título Messias, dependendo da pessoa ou da posição social, podia significar coisas bem diferentes. Havia muita mistura de ideias.
2. Os ramos na festa da entrada de Jesus
Hoje celebramos a entrada de Jesus em Jerusalém com ramos. A origem desta aclamação vem da Festa das Tendas, que era realizada no outono, depois da colheita (Dt 16,13; Lv 23,34). Ela lembrava o tempo em que o povo israelita fazia sua caminhada pelo deserto (Lv 23,43), morando em tendas. Por isso, durante uma semana, eles recolhiam ramagens e formavam tendas por toda parte (Ne 8,14-17). O povo agitava os ramos e dizia: “Bendito o que vem em nome do Senhor”. E os sacerdotes respondiam: “Da casa de Javé nós vos abençoamos” (Sl 118,25-27). A Festa das Tendas era um momento de alegria e de louvor, que mantinha a identidade do povo e lhe dava resistência.