A VERDADE VOS FARÁ LIVRES!
Eu sou da Estação Primeira de Nazaré
Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher
Moleque pelintra no buraco quente
Meu nome é Jesus da gente
Nasci de peito aberto, de punho cerrado
Meu pai carpinteiro desempregado
Minha mãe é Maria das Dores Brasil
Enxugo o suor de quem sobe e desce ladeira
Me encontro no amor que não encontra fronteira
Procura por mim nas fileiras contra a opressão
E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão
Eu tô que tô dependurado
Em cordéis e corcovados
Mas será que todo povo entendeu meu recado?
Porque de novo cravejaram o meu corpo
Os profetas da intolerância
Sem saber que a esperança
Brilha mais na escuridão.
Favela pega a visão
Não tem futuro sem partilha
Nem messias de arma na mão
Favela pega a visão
Eu faço fé na minha gente
Que é semente do seu chão
Do céu deu pra ouvir
O desabafo sincopado da cidade
Quarei tambor, da cruz fiz esplendor
E ressurgi no cordão da liberdade
Mangueira
Samba, teu samba é uma reza
Pela força que ele tem
Mangueira
Vão te inventar mil pecados
Mas eu estou do seu lado
E do lado do samba também.
Este é o samba da Mangueira e que já incomodou as elites, o governo e os religiosos conservadores, fundamentalistas e intolerantes. A Estação Primeira de Mangueira traz à memória as andanças e a mensagem do jovem e sua família da Estação Primeira de Nazaré. Não faz muito tempo que se ousa teológica e humanamente falando retratar a memória de Jesus de Nazaré a partir dos porões da humanidade e os muitos rostos do “Jesus da gente”. Esta dimensão teológica mexe com os andaimes estabelecidos da teologia do controle e neste desgoverno que se assentou em Brasília com os seus apoios fundamentalistas que apregoam o Jesus dos cofres e das pomposas coletas bilionárias. Vale lembrar que o lema deste desgoverno em sua campanha foi “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,32) e toda a ação foi justamente o contrário e de uma clara negação de tudo o que está na Boa Notícia de Jesus narrada nos Evangelhos.
A Direção Nacional do CEBI e o Conselho Nacional se veem representados teologicamente, evangelicamente e ecumenicamente pela crítica e a ousada teimosia profética da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Muitas escolas de samba neste carnaval ousaram em suas críticas sociais e na defesa das etnias afro e indígena, das mulheres e dos pobres violentados e atacados em seus direitos. A mangueira com ousadia provoca e desestabiliza profeticamente muitos que desde os altares e púlpitos se calam diante das ações de uma política podre e destruidora; outros tomam o púlpito e os altares para defender o que não é o Evangelho de Jesus de Nazaré. Pelo samba-enredo que provoca profeticamente, o CEBI se sente representado e damos nota 10 (DEZ) para a Estação Primeira de Mangueira.
Direção Nacional: Lucia Dal Pont, Maria de Fátima Castelan, Rafael Rodrigues da Silva