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Carta da Direção Nacional do CEBI à Missão Ecumênica no Pará

Foto de capa

Um abraço grande a todas e todos que em missão ecumênica gritam contra toda e tanta violência!

“Javé disse: O que foi que você fez? O clamor do sangue do seu irmão grita por mim desde o solo…” (Gn 4,10).

No dia 24 de maio o sangue de nove homens e uma mulher, camponeses/as e trabalhadores/as de Pau D’Arco gritou diante de tamanha violência e injustiça. O sangue de muitos irmãos e irmãs do estado do Pará clama por justiça.

Basta de violência!

O massacre de 24 de maio tem as mesmas proporções de violência, crueldade e descaso que o massacre de camponeses de Eldorado dos Carajás em 1996. Conflitos de terra são legitimados por um Estado que ignora a vida, a lei e a justiça, permitindo que impere a força da bala e a injustiça da justiça.

A palavra da profecia na Bíblia revela um caminho de contestação ao poder do Estado e à violência praticada contra o/a trabalhador/a e sua família. Em 1Rs 21, o verbo “matar” é empregado para falar da ação do rei Acab contra o lavrador Nabote. O rei nem chegou a sujar as mãos com o sangue de Nabote, pois se valeu da justiça. Em Pau D’Arco (e também em Eldorado dos Carajás) os criminosos se valem não só da injustiça da justiça, mas também da prática mercenária e da construção de um “estado sem lei”, porque os fora da lei (a quem a lei não atinge) são os donos da lei.

As denúncias da profecia nos fornecem uma leitura do poder desde os porões da humanidade, desde o grito de trabalhadores e trabalhadoras desterrados/as. Deus fez deste seu povo empobrecido, raiz e medida da denúncia do poder instituído. O sangue de nossos irmãos e irmãs do Pará interpela desde a dor. A Missão Ecumênica apresenta para a sociedade a denúncia desde o âmago da dor.

Denunciada é a violência – último estágio da exploração para quem resiste à subjugação (Am 8,4-6). Desde os tempos da profecia bíblica até nossos dias, a exploração não se dá por satisfeita antes de transformar suas vítimas em cadáveres (Mt 5,10-12), antes de devorá-las (Hab 3,14). Denunciadas são as tentativas de concentração de terras e as injustiças daí resultantes (Mq 2,1-2; Tg 5,4; Mt 20,1s). O Estado e os setores que o sustentam aparecem como os principais interessados na expropriação dos lavradores, cujas terras eram de uso familiar (1Rs 21).

O critério é a defesa dos fracos. É a defesa dos pobres. Ou melhor, os empobrecidos são portadores da denúncia. Esta Missão Ecumênica denuncia o atentado contra a vida e defende os/as trabalhadores/as que resistem na defesa do direito inalienável por terra e pão. Os Deuses e as Deusas estão na luta. Nós estamos na luta pela memória e sangue de nossos irmãos e irmãs. A vida acima de tudo é o que nos ensina a profecia, a sabedoria, os mandamentos, o projeto de Jesus e a caminhada das comunidades.

Irmãos e irmãs que neste momento exercem a missão profética de denunciar, de resgatar a caminhada de conquista da terra, de animar a luta, de enxugar ternamente as lágrimas do povo e transmiti-las como protesto e busca incessante pelo sonho coletivo de vida digna e em abundância. Basta de mortes e violência. Um basta ao latifúndio e à ganância incessante daqueles que se arvoram de um poder intocável, encoberto e assassino.

O CEBI se junta a todos/as que nesta Missão se fazem presentes para se tornarem as vozes e os gritos de tantos irmãos e irmãs que tem suas vozes silenciadas e apagadas. Muitas forças neste caminho e que em cada passo revelem a presença do Deus dos pobres e oprimidos.

“Agradecemos sempre a Deus por causa de todos vocês, recordando-os em nossas orações. Sem cessar, lembramos a obra da fé, o esforço do amor e a constância da esperança que vocês têm no Senhor nosso Jesus Cristo, diante de Deus nosso Pai” (1Ts 1,2-3).

 

Rafael Rodrigues da Silva

Diretor Nacional

Lúcia Dal Pont Sirtoli

Diretora Adjunta

Maria de Fátima Castelan

Diretora Adjunta

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