Na cidade de Rio do Oeste, entre os dias 7 e 9 de setembro deste ano, realizou-se a 2ª etapa da 11ª Escola de Facilitadores/as de Leitura Popular da Bíblia, onde participaram 17 integrantes das representativas Sub-regiões do estado, visando o estudo para posterior repasses nos encontros bíblicos nas suas comunidades e/ou grupos de base.
Tivemos o prazer em ter como facilitador e mediador da Escola, o biblista Ildo Bohn Gass. Após preciosos momentos envolvidos pela mística maravilhosa que sempre precede estes encontros, e a avaliação de como ocorreram os repasses da 1ª etapa nas respectivas sub-regiões, penetramos numa intensa reflexão acerca dos temas Espiritualidade e Ecumenismo.
Conhecer a profunda espiritualidade de Jesus sob um novo olhar… Olhar de comunhão com Deus e interação com seu povo. Jesus nos convida a entender através de sua espiritualidade a vontade de Deus na construção do seu Reino aqui na Terra.
A Espiritualidade não se reduz ao cumprimento de ritos religiosos e práticas de piedade, tão somente, mas se estende a campos de transformações sociais mais amplas em busca da defesa da vida e da vida em abundância para todos e todas.
Espiritualidade é vista como a forma, o canal que integra o homem à Deus e Deus ao homem possibilitando então às pessoas, e toda criação Divina viver e conviver em harmonia.
A partir da comunhão efetiva com Deus (experiência de Deus) precisamos compreender de corpo e alma que a vida não se limita somente a satisfação das necessidades materiais e individuais. É o modo de viver diante de Deus e de sua criação, em solidariedade e partilha com os irmãos, principalmente os excluídos, os oprimidos pelo sistema que impõe o lucro e o capital acima da vida. (Lucas 4-16,19).
Tomamos conhecimento de que através do Batismo já somos portadores (as) da Vida Eterna. Deus nos chama ao compromisso da implantação do seu Reino, é de sua vontade que esta construção se faça no presente…Somos responsáveis e coparticipantes na implantação do Reino de Deus uma vez que Ele nos convida à transformação e a ação. O Reino de Deus, desta forma, deve-se iniciar neste mundo se projetando à eternidade, pois somos portadores da vida e temos que lutar pela vida em abundância para todos os filhos e filhas de Deus, que são nossos irmãos e irmãs em Cristo. Implantar um mundo justo e fraterno é reconhecer a Vontade Plena de Deus!
Numa analogia entre a chuva (espírito de Deus) e a semente (nós) devemos nos abrir, deixar-nos envolver pela chuva e antes de tudo é necessário o desejo desta transformação que germina em nós e nos faz frutificar. (Isaias 50, 1-11).
Para o apóstolo Paulo toda esta movimentação chama-se fé!
E investidos na fé e no escutar a Vontade de Deus temos a missão de desempenhar o encorajamento aos desanimados/as. Animar os corações dos cansados e as consciências enfraquecidas no caminho para a realização do Projeto de Deus, deixando-nos guiar por seu Espírito. (Gálatas 5, 16 e 25).
É possível construir uma espiritualidade profética, ecumênica, da liberdade do espírito e da obediência ao Mistério. Fomos convidados a uma pratica de discipulado, de segmento de Jesus com abertura ao outro, de missionaridade e de valorização da vida em todos os aspectos. Quando a dimensão mística da fé é articulada com a visão profética, a Bíblia não é idolatrada, nem meramente contemplada, mas lida de forma integrada. Ao mesmo tempo, a centralidade da Palavra na reflexão sobre a fé requer uma visão global da Bíblia e não fragmentada.
A espiritualidade ecumênica, mesmo vivida em diferentes formas e expressões converge para os ideais marcados pelo despojamento, pelo respeito e antes de tudo pela solidariedade que é o cerne da vontade Divina que precisa habitar em nós. “Vem a nós o vosso Reino”
A espiritualidade ecumênica requer capacidade de diálogo e profunda sensibilidade para a afirmação da vida e para a promoção da paz. Nesse sentido, a missão cristã consiste em anunciar o evangelho que se fez carne em determinada cultura.
É possível vivermos uma espiritualidade ecumênica nos dias de hoje? Como realizar tal feito em meio a tantas tentações individualistas, sectárias e consumistas?
A cultura firmada no lucro a qualquer preço, na exploração e na coisificação do ser humano, no individualismo e na indiferença é oposta à fé cristã e ao espírito ecumênico. A Religião e a Espiritualidade se destinam à vida, ou seja, representam a ajuda para que as pessoas e comunidades vivam de forma melhor a realidade atual. Mas suas práticas mostram “espíritos diferentes”, convicções, motivações, valores que levam a viver de modo diferente. Por serem livres e possuírem o livre-arbítrio concedido a todos e todas nós por nosso criador, as escolhas que fazemos marcam nosso espírito. Faz com que cada pessoa tenha “um bom espírito” ou que tenha “espírito de porco” no dizer popular. (Gl 5,13. 16-25. Rm 8,5-7 e Rm 8, 12-14; Is 32. 15-20)
A complexidade que move as diferenças nos diversos seres humanos e sua percepção de mundo e de Deus nos coloca diante de grandes desafios em busca do viver ecumênico na construção do Reino de Deus precisando aceitar a diversidade da Criação no caminho para construção de um Reino fraterno, solidário, humano e justo!
Ao mesmo tempo em que a religião torna-se causa de divisão e conflito entre povos em todas as partes do mundo, ela também abre caminho para o diálogo e para a promoção da paz. Elas devem igualmente contribuir para consensos públicos, debates regionais e nacionais que podem formar a base de uma comunidade melhor em liberdade, igualdade, justiça, fraternidade e paz! Visto que a fé deve ser expressão do amor e da Graça de Deus.
E é desta forma e com este objetivo que a Escola Estadual do CEBI avança na promoção destes encontros, dos quais ansiosos/as e sedentos/as por transformação ficamos no aguardo do próximo encontro.
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Partilhado por Rosimary Biasotto, Xaxim/SC.