O coletivo Vozes Marias promoveu nos dias 22 e 23 de setembro, o III Seminário de Discurso religioso e Violência contra a Mulher e a I conferência de Mulheres Evangélicas pelo Direito de Viver.
Os eventos, que aconteceram simultaneamente, foram sediados na Universidade Católica e na 1ª Igreja Batista de Bultrins, em Olinda.
Coletivo de mulheres
O coletivo Vozes Marias é um coletivo de mulheres acadêmicas evangélicas de várias denominações, que promove discussão de gênero nos espaços religiosos.
Para Bárbara Arguiar, coordenadora do coletivo:
“o que a gente vê no cotidiano das mulheres de igreja é que muitas vezes elas não ocupam espaços de protagonistas. Quando existe essa luta, essa tensão, somos vistas como rebeldes que desobedecem a ordem”, reflete Bárbara.
O CEBI Pernambuco colaborou com o evento do dia 23, com a assessoria de Josélio Silva, em uma oficina que abordou a “Lei Maria da Penha, tipos de violência contra as mulheres e masculinidades”. Também tivemos a participação efetiva da pastora Helivete Ribeiro, integrante do Vozes Marias, da 1ª Igreja Batista de Bultrins, e do CEBI Pernambuco.
“Para mim é um sonho antigo que estamos realizando. Há 15 anos fazemos um trabalho com as mulheres aqui na comunidade. Esta conferência superou a nossa expectativa, recebendo mulheres não só da nossa igreja, mas de outras também. As mulheres estão mudando. A linguagem está diferente. Espero muita libertação para essas mulheres. Que elas se encham de coragem para lutar pelos seus direito”, disse Helivete.
Para Josélio Silva foi uma oportunidade de desconstruir a chamada “ideologia de gênero”, termo que se contrapõe à teoria de gênero e as lutas feministas por justiça de gênero. A estrutura do poder masculino sobre as mulheres e as crianças encontrou o seu apogeu no Império Romano, onde o pater familias era senhor dos escravos (famulus), das mulheres, dos filhos adultos e das crianças.
Tal modelo familiar copiado e adotado desde o Brasil Colônia, arrastou-se com modificações até meados do século XX, quando finalmente o Estatuto da Mulher Casada permitiu uma maior liberdade à mulher, e posteriormente, a Constituição Federal de 1988 buscou igualar os direitos entre homens e mulheres, sem distinção de sexo.
Atualmente, metade dos lares são chefiados por mulheres. Entretanto, são elas que ainda sofrem violências físicas, psicológicas e simbólicas. Se faz urgente que os homens repensem seu papel na sociedade. Deus criou homem e mulher sob sua imagem e semelhança (Gn. 1, 27), e esse modelo machista e patriarcal não reflete a imagem de Deus.
Foi mais uma oportunidade de estarmos presentes no trabalho das Vozes Marias que muito se assemelha com o trabalho de gênero realizado pelo CEBI.
Recomendamos:
Noviças rebeldes: Quando o convento era a liberação
Feminismo camponês e popular
Na Igreja, as mulheres não têm reconhecimento
Construindo o futuro da luta contra o racismo [Angela Davis]
–
Fonte: Texto e fotos enviados por José Josélio da Silva e Helivete Ribeiro, do CEBI-PE, 28/09/2017.