“Uma flor rasgou a rua, desafiando a inércia cinza do ódio…”
Com essas palavras, o jovem João Damásio, de denominação Espírita, conduziu o Grupo de Vivência Ecumênica de Goiânia. Nesta etapa, João construiu em grupo as memórias que nos mantêm vivas e vivos na caminhada pessoal e coletiva.
Para desafiar a inércia cinza do ódio é preciso fazer a hora; caminhar, cantar, dar os braços e seguir a canção. Assim, outro instrumento que contribuiu com a construção das memórias, foi a música: “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré.
À medida que se escutava a música, escreviam-se palavras que ela fazia ecoar em nós.
E para falar de flores, é preciso deixar-se conduzir pelo Espírito e não por legalismos e moralismos que matam os corpos. Nesse sentido, a Pastora Patrícia, da Igreja de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), provocou o grupo a refletir sobre os frutos do Espírito, a partir do pequi.
O que o pequi tem a ver com os frutos do Espírito?
O pequi nos ensina a perseverança, a resiliência, a resistência, a transparência. E também a sermos pessoas portadoras de sabores e cheiros, e não de ódio e violência. O fruto se desenvolve livremente em solo seco e árido, com a colaboração de outros seres; não basta a si mesmo.
O pequi tem um gosto vivo, provoca dedicação e cuidado.
Assim é o amor: exige delicadeza, amabilidade e paciência no preparo (conforme o jeito que pega, toca, ele amarga e já não fica tão saboroso). O pequizeiro é uma árvore de múltiplos valores: ecológico, cultural, gastronômico, medicinal, econômico e ritualístico. Essa diversidade só realça a sua simplicidade e autoridade.
O pequi faz parte da identidade dos povos do Cerrado; identidade que congrega, convida para a festa, ao fortalecimento da cultura, à liberdade de servir por amor.
O pequi não é medido pela rapidez na produção e no lucro, mas pela constância e fidelidade em ser o que é, em se doar (até a amêndoa!), apesar do seu tronco e galhos tortuosos. Aliás, um pequizeiro pode demorar até 28 anos para começar a dar frutos. Percebe-se que o desmatamento desenfreado do Cerrado, entre outras coisas, prejudica por muito tempo a produção de novos frutos e impacta gerações.
A flor do pequi é frágil; a qualquer vento ela se desgruda do caule, como um ser chamado para a liberdade. Conforme a carta aos Gálatas “é a liberdade que recebemos de Deus que nos faz produzir frutos e não a lei” (Gl 5:22). A lei mata, o Espírito vivifica (2Cor 3:6). E, segundo as memórias que as comunidades fizeram de Jesus, ele nos chamou para a liberdade, para que nos deixemos guiar pelo Espírito.
O Espírito sopra onde quer e não se deixa prender nos parâmetros que as sociedades constroem culturalmente como verdades. O Espírito é a flor do pequi – flor que se desprende do caule, que rasga a rua e desafia a inércia cinza do ódio.
Dessa vez, o Grupo de Vivência Ecumênica de Goiânia se encontrou no dia 27 de novembro de 2017. Contou com a participação de nove pessoas, sendo quatro mulheres e cinco homens. Do total, um jovem.
–
Fonte: Texto e fotos de Múria, Goiânia, 28/11/2017.