por CEBI Nacional*
O Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI) abriu as atividades celebrativas de seus 40 anos de existência no último dia 20 de julho, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. O local de encontro foi o Convento do Carmo, lugar que guarda o início da história do CEBI no serviço da Leitura Popular da Bíblia, dos Círculos Bíblicos e na luta por transformar a sociedade. Foi numa das salas do Convento que, 40 anos atrás, se reuniram seus fundadores: Pastor Jether Ramalho, Lucila Ramalho, Frei Carlos Mesters, Pastor Iranildes Dutra e Irmã Agostinha Melo. Das conversas e provocações que ecoaram daquela sala foi se desenhando e construindo a metodologia de estudo da Bíblia de maneira popular e acessível para todas e todos.
O CEBI nasce, cresce e se fortalece ao longo de 40 anos no serviço da Palavra e da educação popular, da caminhada das comunidades e do povo organizado nos movimentos sociais e pastorais. O impulso para o nascimento do CEBI em 1979 se deve às provocações e, posterior articulação com a CPT na luta pela e na terra; com a CPO na luta e defesa dos direitos dos trabalhadores; com o CIMI na luta em defesa das tradições e dos territórios indígenas; com a CPP e a defesa dos direitos dos pescadores.
A leitura da Bíblia com o jeito do povo e em defesa da vida é a marca do CEBI e o seu jeito de interpretar a BÍBLIA na COMUNIDADE para transformar a REALIDADE. Na perspectiva do serviço do CEBI e da Leitura Libertária, Popular e Ecumênica da Bíblia, este tripé revela o que Deus pede, os pobres precisam e o Evangelho do Reino exige. É Palavra Acontecida na Vida.
Angra dos Reis recebe a festa do CEBI
Mística inicial: “tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais…”
O dia 20 de julho foi escolhido para celebrar essa história por conta da data de fundação do CEBI. Lúcia Dal Pont, da Direção Nacional fez a acolhida a todas e todos e convidou a cantar a poesia Palavra Acontecida, de Irmã Agostinha; Maria de Fátima Castelan, pela Direção Nacional lembrou as Entidades (Rede Jubileu Sul Brasil; Conic; Pastoral da Juventude Nacional; CESE); Agências (Igreja da Suécia, Adveniat, Fastenopfer, KerkinActie, Elo, Pão para o Mundo, DKA, Comunidade Horn, ZMÖ, Missão Franciscana), Igrejas (Dioceses e comunidade da Igreja Católica, Dom Giovane; Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Aliança de Batistas do Brasil) e companheiras e companheiros do CEBI dos Estados que estavam presentes e que enviaram suas mensagens.
Rafael Rodrigues da Silva lembrou que celebrar os 40 anos ecoa em nossas memórias a imagem do vento novo que balançou as janelas das Igrejas, Movimentos Sociais, e entrou levantando poeiras, e provocou que pudéssemos em cada espaço varrer a casa e encontrar um novo jeito de ler a Bíblia. Celebrar estes quarenta anos na certeza que “quem toma gosto pela Palavra de Deus inserida na vida do povo, torna-se incansável na luta pela construção do Reino”.
A programação se estendeu durante todo o dia, sempre com muita música para animar, começando com a abertura, que ocorreu no meio da manhã. Na mística inicial foi marcada com a invocação e bênção feita pela Reverenda Lúcia Dal Pont (IEAB), pela Pastora Helivete Ribeiro (ABB) e Frei Fernando (Carmelita). Seguida da prece ecumênica, foi realizada uma caminhada no entorno do Convento do Carmo, chamando as pessoas da rua para participar da festa. Sempre entoando músicas da caminhada popular, cebianos e cebianas seguiram para o segundo momento do encontro, onde cada um e cada uma pode dizer em uma palavra o que aquele momento de celebração significava:
Gratidão! Resistência! Ecumenismo! Fé! Diálogo! Superação!
A Leitura da Palavra contou com a leitura da Ata de Fundação do CEBI, feita por Rafael Rodrigues da Silva, e da memória que Frei Carlos fez da oração do Salmo 146, feita por ele e pelo pastor metodista Iranildes numa das salas do Convento. Frei Carlos rezou novamente o Salmo com Sahara de Oliveira e Noemi Dayse, esposa e a filha do Pastor Iranildes.
A programação contou com apresentações culturais da região: grupo de Jongo e grupo Ciranda de Tarituba.
Tarde de estudos bíblicos
A Tarde foi dedicada às tendas de conversa, memória e estudo das hermenêuticas:
Quatro tendas foram organizadas:
- Étnico racial;
- Feminista;
- Juventudes e
- Ecumenismo.
Muitas reflexões e o levantamento de frutos da caminhada e desafios enfrentados e que ainda temos pela frente. Cada grupo partilhou os seus frutos e desafios na conversa sobre Leitura Popular da Bíblia e memória da caminhada do CEBI com Frei Carlos Mesters, que apontou caminhos de superação dos fundamentalismos e intolerâncias no Brasil governado pelo ódio de um governo contra os trabalhadores, as mulheres, o povo, a juventude. As suas palavras trouxeram esperança e instigaram a reflexão e com o seu jeito cativante e simples animou a todas e todos.
>> Veja um trecho da fala de Frei Carlos Mesters durante o evento:
“Às vezes tínhamos que andar mais de horas em estrada de chão, lá onde o vento faz a curva, para fazer reunião (encontros de estudos bíblicos). E o pessoal começava a falar no encontro, e aí você acaba descobrindo esta lenta redescoberta de Deus. Cada pessoa dos grupos de leitura e estudo bíblico vai dizendo o quanto é bom poder ver a cara um do outro, poder conversar e comentar a Palavra de Deus. E assim começa a nascer este colírio, que vai melhorando os olhos e, pouco a pouco, vai nos fazendo perceber que tudo o que se diz sobre a vida é o que está na Bíblia. Tem gente que se agarra na Bíblia, mas a Bíblia não foi escrita para ficar no lugar da vida. A Bíblia foi escrita como resultado da experiência. Foi Deus, não foi?”
A celebração de 40 anos do CEBI terminou com música, abraços de despedida e um bolo comemorativo, partilhado por todas e todos.
Agradecemos o envolvimento das pessoas. Os grupos de Círculos Bíblicos de Angra nos presentearam com a memória de sua caminhada e nela está marcada a caminhada do CEBI; os freis Valter e Fernando do Convento do Carmo que nos acolheram e se dedicaram para que a nossa celebração pudesse acontecer no nosso jeito cebiano de ser.
Sobre o resultado do encontro e a avaliação da festa, a Direção Nacional partilha que vivenciamos momentos de muita alegria e afirmação de que “quem toma gosto pela Palavra de Deus, inserida na vida do povo, torna-se incansável na luta pela construção do Reino”.
“Cada pessoa e grupo que chegava, de longe e de perto, trazia a certeza de que a Leitura Popular da Bíblia está viva e provocando transformações nas diferentes realidades do Brasil e em outros países. Destacamos a importância do encontro. Foi bonito ver o entrosamento, a integração e a sintonia. No CEBI é assim: gostamos de estar entre irmãs e irmãos. E estávamos ali, gente do sudeste, centro oeste, sul, norte e nordeste. No canto, na animação, na profundidade das palavras e até nos silêncios, estava demonstrada a importância de celebrar a vida, com suas lutas, renovando a esperança: ‘ninguém solta a mão de ninguém'”.
Completar 40 anos no atual cenário marcado por fechamentos e ondas de ultraconservadorismos e intolerâncias religiosas, fascismos e violências, é, certamente, um caminho de desafios e busca de ações permeadas pela profecia e pela sabedoria. A leitura da Bíblia e o serviço do CEBI devem caminhar em parceria com diferentes atores sociais na construção de uma agenda comum de luta e transformação.
“É fundamental também inserir a leitura da Bíblia nas lutas sociais e dar um passo decisivo para sair do biblicismo e fazer dos cursos espaços para formação política, cidadã e consciente. O CEBI deve se apresentar como instrumento que provoca em diferentes grupos a sua autonomia. Nesse sentido, o caminho trilhado por esses grupos, na medida em que vão se formando e crescendo, é seguir em direção ao ‘desaparecimento’ do grupo para fortalecer a comunidade como espelho da vivência do Evangelho, da Profecia, da Sabedoria e da Comensalidade aberta.”