CEBI Colunistas

Reino de Deus, Amor e Utopias

A realidade do amor (João 12.1-8)

texto de Marcos Aurélio*

Texto base: Mateus 6: 24-33

Os ensinamentos de Jesus no sermão da montanha apontam para uma nova ordem, uma desconstrução da velha maneira de viver a vida. São novos desafios com base no amor, e isto está bastante claro nas bem-aventuranças que fala sobre justiça, mansidão, pacificação, humildade e misericórdia. Jesus estabelece um novo paradigma que transcende o velho modo de pensar e viver a espiritualidade, esta, fruto de uma manipulação doutrinária com base nos ensinamentos dos doutores da lei, que conduziam o povo a uma espiritualidade individualista e excludente, que desprezava os que não se alinhavam aos velhos moldes da sua sã doutrina, resultado de uma leitura fundamentalista da lei e dos profetas.

Jesus falou muito sobre vida comunitária, partilha, compaixão, serviço, misericórdia, perdão. Mas não se limitou apenas em falar. Os evangelistas nos contam também, que os ensinos de Jesus estavam sempre arraigados à sua prática. Jesus não ensinava a parir dos livros da lei, nem se valeu de filosofias do oriente, mas confirmava os escritos da lei e dos profetas na vida, em sua caminhada libertária com os discípulos e discípulas. Por isso, as pessoas que se ajuntavam para ouvir seus ensinamentos ficavam maravilhadas e edificadas pois sua fala era contundente e honesta, cheia de amor e verdade. Jesus falava do que ele vivia (Lc.4,32).

Lucas nos conta que um dos temas mais debatidos entre Jesus e os do caminho era o do amor ao dinheiro (v.24). Jesus desafia seus discípulos/as a tomar uma posição e escolher o lado. Eles deveriam decidir a quem de fato queriam servir. A Deus ou ao dinheiro. Jesus argumenta que quem quer segui-lo não pode deixar que o dinheiro seja o seu senhor, que o domine, que o escravize, e isto implica em uma relação: amar ou odiar. Se amarmos o dinheiro, odiamos a Deus porque Deus não é avarento, nem egoísta, nem capitalista. Deus é comunitário.

A advertência de Jesus é bastante clara: “não se preocupem com as suas próprias vidas” (v.25). Esta frase de Jesus é um indicativo importante pois é a base para a prática comunitária dos cristãos/ãs. Jesus vai além da doutrinação judaica dos escribas, doutores da lei. Jesus ensina que a vida vale mais que as coisas, quer dizer: “Preocupe-se com as vidas das outras pessoas, no que elas necessitam! ”

A prática de acolher e repartir é uma resposta revolucionária aos que insistem em valorizar as coisas em detrimento da partilha.

Deus cuida de todos nós, por isso Jesus nos adverte a não perder noites de sono pensando no que podemos acumular no dia seguinte; ou que roupa vamos vestir; ou o que vamos comer. De que vale acumular se tudo está sujeito e se deteriorar, sob o perigo dos ladrões e traças? Antes, ajuntemos os tesouros do céu, aqui e agora, que é o amor a todos que estão próximo de nós, em suas múltiplas manifestações (Mt.6.19-21).

Jesus segue ensinando sobre o cuidado de Deus para com todos nós. Jesus usa o exemplo dos pássaros e como são alimentados. Deus cuida dos seus filhos e filhas como uma mãe. Basta ver como os diversos tipos de pássaros alimentam seus filhotes. Alimentam e cuidam do ninho com amor e carinho, protegem os pequeninos indefesos de predadores e voam quilômetros para buscar comida. Os pássaros são animais livres, buscam alimentos em lugares diversos e não precisam de um lugar para acumular comida. Jesus também toma o exemplo dos lírios com sua beleza, que de tempos em tempos murcha e seca, mas Deus sempre renova sua beleza. Os lírios não precisam de roupas de luxo para demonstrar sua beleza natural, o próprio Deus o faz belo a cada manhã. Uma fé pequena, como Jesus fala no texto, é uma fé alienada e egoísta e desonesta, que não acredita no cuidado de Deus e não busca a partilha. (vs. 25-32).

No final de sua fala sobre o cuidado de Deus e partilha, Jesus ensina que para superar os males desta vida, devemos buscar intensamente o reino de Deus e a sua justiça. (v. 33-34). Este reino começa aqui e agora, não em uma dimensão distante da realidade da vida das pessoas. Os dramas da vida acontecem aqui, em nosso contexto, no lugar onde estamos, nas trincheiras de luta, nos caminhos de resistência e libertação, caminhos onde devem trilhar os discípulos e discípulas de Jesus. Caminhos libertários e revolucionários, caminhos de amor demonstrados em uma prática concreta. Buscar o reino de Deus e sua justiça é assumir um compromisso de amor com o pobre e acreditar em utopias. O reino de amor e justiça é manifesto no amor a Deus e aos pobres. Toda a riqueza, o que é acumulado ao longo da vida apodrece e é devorado pelas traças, e furtado pelos ladrões, ao contrário, o amor permanece para sempre.

Quais são os nossos sonhos? Qual a nossa visão e comportamento em relação ao dinheiro e bens? Temos buscado o reino de Deus e a sua justiça? Temos incluído o pobre em nossa prática de espiritualidade?

Texto de Marcos Aurélio para o projeto Voz Popular, que apresenta novos/as colunistas do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos.

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