por O Peregrino*
2018 é mais um ano em que o Brasil vai às urnas. E o que me surpreende é que as caras são as mesmas dos últimos quatro pleitos nacionais. Pergunto-me: onde está a juventude e por que não surgem novos nomes (mesmo após os inúmeros escândalos)?
Baseado no primeiro capítulo de Daniel, pensei ter encontrado alguns pontos que podem iluminar a resposta dessa questão.
Espaço
A narrativa do livro de Daniel começa apresentando um espaço de formação para jovens poderem aconselhar o rei (hoje diríamos votar e decidir o futuro da nação) e nesse local receberiam os conhecimentos intelectuais e também a alimentação para o corpo. Afinal, somos mente e corpo; não se pode querer cuidar de um ou de outro porque é impossível separá-los.
Eis aqui o primeiro problema que constatamos, poucas pessoas jovens conseguem acesso ao conhecimento intelectual (infelizmente a escola pública é um espaço onde não se ensina, simplesmente cumpre-se o currículo e ‘aprenda quem quiser’) e à alimentação que é deficitária (basta ver que até ‘ração’ já foi proposta como alimento na escola e, em outros lugares, pode se servir somente uma vez, como se a fome fosse igual para todos).
Aliás, a alimentação é um problema sério a ser resolvido. Lemos no escrito bíblico que os jovens que iam ser educados comiam da mesa do rei, ou seja, comiam os melhores alimentos e também bebiam do melhor. Penso que é necessário construir novamente um espaço onde possa haver educação de qualidade para jovens, porque não são o futuro de uma nação. Não, eles são o presente.
De tanto falarmos que eles eram o futuro, chegamos a esse ponto em que não vemos rostos jovens decidindo o futuro da nação (e refiro-me aqui ao aspecto político institucional e não aos movimentos sociais).
Até quando veremos a falta desse espaço e não questionaremos? Até quando vamos assistir o desmonte da vida de quem pode mudar o país e ficaremos discutindo o passado como se ele fosse o único culpado?
Aprendamos que ou (re) construímos esse espaço ou continuaremos sendo um país que olha para o passado buscando encontrar o futuro.
Propósitos firmes
Chega-se então ao segundo ponto: propósitos firmes. Dentro daquele grupo, o autor nomeia quatro judeus que hoje chamaríamos de ‘piedosos’. Eles não querem se contaminar com o que vem da mesa do rei porque sabem que não seria agradável ao Senhor. Também devemos lembrar que, para os antigos, comer com alguém era sinal de aliança. Então, o que eles estão mostrando é que não desejam compactuar com o sistema vigente. Eles desejam continuar vivendo como judeus (filhos de Deus) e não querem ser súditos do rei (obediência humana). O chefe dos eunucos (hoje seria o diretor da escola) combina que, por dez dias, vivessem como desejavam. Depois, os compararia com os demais.
Resultado: ao término do combinado, eles eram os mais saudáveis de todo o grupo.
O que podemos perceber aqui é que quanto mais firme for nosso propósito em nossas decisões, maior é a probabilidade de conseguirmos os objetivos. Porém, o que se deseja hoje é que a juventude siga o sistema e não o questione. É tempo de aceitar que jovens façam suas escolhas, que mostrem novos caminhos e que, inclusive, apontem que estamos seguindo um caminho errado e que nós nos convertamos. Não podemos mais enxergar a juventude como uma massa de barro que nós moldamos.
Ora, se conquistam um espaço para que aprendam, também é um direito que tenham propósitos e que os apoiemos a cumpri-los. Não podemos usar os velhos argumentos de que já foi feito assim um dia e não deu certo. Que abram caminhos, como diz Isaías:
“Preparai um caminho (…) aplainai a estepe (…) que o tortuoso se endireite” (cf. Isaías 40,3-4).
Mas para isso é preciso o terceiro ponto.
Crença no sobrenatural
No final do primeiro capítulo, lemos que Deus concedeu um profundo conhecimento aos quatro jovens. Percebe-se aqui a mão de Deus agindo. Atualmente, o ser humano acha-se autossuficiente e pensa que não precisa do espiritual. Fazem-nos crer que Deus é um relojoeiro que fez um relógio (mundo) e o abandonou. Mas não. Deus continua nos convidando a cuidarmos do mundo com Ele. Por isso, não podemos desprezar a crença no sobrenatural. Há coisas que parecem impossíveis a nós, mas que Deus nos ilumina para fazer e cumprir.
É impossível que a humanidade volte a viver. Porém, Cristo mostra o poder de uma nova vida (tanto espiritual quanto material). Lembremos de suas palavras a Nicodemos:
“Da carne nasce carne, do Espírito nasce espírito” (João 3,6).
Se a juventude conquista espaços e mantém propósitos firmes, só nos resta crer no sobrenatural e confiar de que ela seguirá o caminho correto.
Que a luz do primeiro capítulo de Daniel e do renascimento de Nicodemos nos ajude a fazer o nosso melhor. E também a acreditar que Deus, que iniciou a boa obra, também irá terminá-la. Assim, chegaremos finalmente ao lugar que mana leite e mel, onde ‘não haverá mais tristeza nem dor, porque o velho mundo passou’.
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Fonte: Texto de O Peregrino, colunista do projeto Voz Popular, do Centro de Estudos Bíblicos.
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