Bíblia

Pentecostes: o vento subversivo do Espírito Santo…

por Rev. Cláudio Márcio (IPU) via CONIC*

… como filhos do Reino de Deus, somos parte da rebelião dos tempos atuais. Devemos estar na vanguarda dos movimentos de transformação do mundo contemporâneo. (João Dias de Araújo – Conferência do Nordeste)

Nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre todos os povos, os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os jovens terão visões, os velhos terão sonhos. (At 2.17)

A promessa do derramamento do Espírito proporciona outra relação com o divino, uma vez que, agora, não se trata de espaços geográficos, objetos sagrados e ou povos exclusivos, mas, a dimensão corpórea entra em cena e Deus faz morada em (e entre) nós. Esse deslocamento de percepção gera uma outra experiência de vida, pois, o corpo é sagrado. Como aponta Leonardo Boff em sua obra Igreja: Carisma e Poder, “o que há de mais sagrado do que a pessoa humana? O sagrado da pessoa é mais importante que o sagrado dos objetos e espaços sagrados” (BOFF, 2010, p.63).

De fato, o logos se encarnou e habitou entre nós e o sacramento eucarístico revela: “isto é o meu corpo dado por vós” (Lc 22.19). Ora, sabe-se que o fenômeno religioso é cheio de ambivalências, logo, tanto o corpo pode ser regularizado, isto é, castrado, controlado, docilizado, mas, também pode ser liberto, encorajado, empoderado.

O teólogo Rubem Alves, falando sobre a religião, aponta que: “Ela se presta a objetivos opostos, tudo dependendo daqueles que manipulam os símbolos sagrados. Ela pode ser usada para iluminar ou para cegar, para fazer voar ou paralisar, para dar coragem ou atemorizar, para libertar ou escravizar” (ALVES, 2003, p. 104). Neste sentido, a questão não é se o fenômeno religioso é “ópio” ou “suspiro do oprimido”. Não se trata de dicotomias e, muito menos, uma leitura fundamentalista da Bíblia. Minha sugestão como chave hermenêutica é pensar a dinâmica do Espírito Santo como ato de subversão, ou seja, de reorganização social em defesa da vida e justiça social diante das estruturas estruturadas e estruturantes da morte.

Com efeito, a relação Igreja e Sociedade, assim como, Fé e Política exige de nós (cristãos progressistas) uma tomada de posição. É preciso coragem e discernimento para perceber o sopro misterioso do Espírito para além das comunidades eclesiásticas. Aliás, cabe a provocação: diante da mercantilização da fé e da instrumentalização da Bíblia para manipular e oprimir, o Espírito Santo frequenta essas igrejas e instituições?

Honestamente, tenho encontrado sinais do Espírito Santo no meio de organizações sociais, no meio dos sindicatos, no chão das fábricas, nas praças da cidade e, não menos, no campo religioso. Como abaliza Rubem Alves sendo parafraseado, o pássaro encantado não pode ser capturado, o que se tem, por vezes, é um pássaro empalhado, isto é, um ídolo. Sabemos que o Espírito é dinâmico (Gn 1.2) e que gera vida onde só havia morte (Ez 37), desta forma, defendo e proponho um movimento pela vida em sua multiplicidade.

Acredito que impulsionados pelo sopro do Espírito devemos assumir uma espiritualidade do serviço, pois, o maior é o que serve (Mt 23.11). A fé cristã celebra em pentecostes o sopro do Espírito Santo que (re)cria todas as coisas animando e capacitando todos(as) que estão no caminho para a grande missão. Desta maneira, é chegado um novo tempo de abertura, fraternidade, justiça e libertação.

O Espírito Santo não pode ser controlado, silenciado, e não é propriedade exclusiva de nenhum grupo eclesiástico. O Espírito se movimenta no mundo! O Espírito é contra-hegemônico no que se refere à bancada da bíblia, do boi e da bala. Diante deste contexto caótico e complexo, é necessária a figura do profeta, logo, como abaliza Boff: “porque a Igreja vive esta contradição, sempre é possível nela a irrupção do profeta e do espírito libertário que a faz se encaminhar na direção daqueles grupos que buscam relações mais justas na História e se organizam nos marcos de uma prática revolucionária” (BOFF, 2010, p. 235).

É neste aspecto que o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) assumiu no Brasil a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) com o tema inspirado em Deuteronômio, “Procurarás a justiça, nada além da justiça” (Dt 16.11-20) conclamando cristãos e cristãs a celebrarem em comunhão e respeito a diversidade e, não menos, “acertar o tom” de uma voz profética e libertadora que não pode se calar e ou omitir, pois, é o Espírito que diz e quem tem ouvidos precisa ouvir.

Será que ao som da flauta tocada você não irá dançar? (Mt 11.17) Com efeito, você ainda tem sonhos e visões? Você acredita que outra realidade mais justa e equânime pode ser estabelecida? Se sim, o que efetivamente tem sido sua contribuição para que o Evangelho seja proclamado? Saiba que só teremos êxito e seremos felizes sendo capazes de perceber o agir misterioso do Espírito Santo. É preciso fé e sensibilidade para compreender os sinais do Senhor na caminhada, todavia, lembre-se: não sabemos de onde o vento vem e para onde vai. Que assim seja nossa disponibilidade, pois, nascemos do Espírito (Jo 3.8).

Nossa oração neste dia: que o vento subversivo do Espírito Santo traga vida, consolo, esperança, libertação e cura existencial. Sopra Espírito e nos faz olhar para cima e ao redor livrando-nos da dicotomia e ou alienação. Que cada um(a) seja capaz de ouvir hoje: “tu és meu filho(a) amado(a)” (Mc 1.11).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Rubem. O que é religião. 5° ed. São Paulo: Edições Loyola, 1999
BOFF, Leonardo. Igreja: Carisma e Poder. 2° ed. Rio de Janeiro. Record, 2010

Cláudio Márcio é reverendo da Igreja Presbiteriana Unida (IPU) de Muritiba – cidade serrana do Recôncavo da Bahia. Publicado originalmente por CONIC.

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