Hoje, 20 de julho, se comemora o Dia do Amigo
Amizade à primeira vista existe: nosso cérebro age exatamente da forma como nos apaixonamos
Não importa se você tem muitos ou poucos amigos. Lembra-se de como eles entraram na sua vida? Claro que as formas de fazer amizade são tão variadas quanto as histórias de cada um. Mas é provável que sua trajetória englobe relações que surgiram do nada, como uma fagulha: você foi apresentado a uma pessoa e soube logo de cara, antes mesmo de ela abrir a boca, que se dariam bem.
Essas conexões especiais e fulgurantes existem – e a ciência, buscando uma explicação, concluiu que são como enamoramentos. Paixões à primeira vista. Para entender o processo, é preciso partir de uma ideia básica: quase todo mundo gosta de fazer novos amigos. “O ser humano é sociável por natureza e precisa da amizade desde que nasce, passando por todo o processo da vida até o envelhecimento”, explica o psicólogo Juan Cruz, membro da Ordem de Psicólogos de Madri.
Estamos, portanto, predispostos a abrir a porta a pessoas que nos tragam o que pedimos à amizade. “Esse vínculo é um espaço em que podemos nos mostrar como realmente somos”, diz Cruz. “Onde podemos nos expressar emocionalmente com confiança, afeto e humor. Um amigo aceita você como é. Isso se vincula com a nossa própria essência, com a nossa autoestima.”
Um estudo publicado pela Universidade do Estado da Califórnia, San Bernardino (EUA), classificou essas amizades que surgem subitamente no grupo de relações de “química interpessoal”, um conceito desenvolvido na última década no terreno da psicologia e que se refere a “uma conexão emocional e psicológica entre dois indivíduos”, afirma o estudo. Essa química estaria por trás das relações românticas… e da amizade.
Assim responde nosso cérebro
Para explicar os mecanismos que desencadeiam essa atração, é preciso recorrer à neurologia. Em 2009, pesquisadores da Universidade de Nova York (EUA) averiguaram de que maneira as primeiras impressões são formadas. E publicaram as conclusões na revista Science: quando conhecemos alguém, ativam-se principalmente três zonas do cérebro (a amígdala, o córtex pré-frontal e o córtex cingular posterior), que nos dizem de antemão se vamos nos dar bem com tal pessoa.
“A amígdala é uma região do cérebro muito envolvida na resposta emocional, e tudo o que se relaciona com ela (incluindo a amizade, os desgostos, o medo…) será ativado”, afirma Pablo Irimia, membro da Sociedade Espanhola de Neurologia. “O córtex pré-frontal nos permite estabelecer julgamentos sobre outras pessoas e suas intenções, ajudando-nos a formular uma resposta. O córtex cingular posterior é associado à empatia.”
“Quando conhecemos alguém, ocorre uma alteração em vários neurotransmissores que faz com que tenhamos uma impressão muito rápida sobre se essa pessoa é a que mais combina conosco” (Pablo Irimia, neurologista)
As mesmas regiões do cérebro são mencionadas no estudo Neuroetiologia da Amizade, da Universidade Duke (EUA), publicado em 2014. O trabalho afirma que uma amizade exige a informação da outra pessoa e estabelece os sinais olfativos, vocais e visuais como pistas importantes. Exatamente como ocorre com o amor, revela o estudo A Neurobiologia do Amor, publicado pela University College London (Inglaterra) em 2007. Desse modo, “ocorre uma alteração em vários neurotransmissores que faz com que tenhamos uma impressão muito rápida sobre se essa pessoa é a que estávamos buscando ou a que mais combina conosco”, diz Irimia.
Esse padrão ideal está gravado no cérebro. E quando nossos neurônios o detectam em outra pessoa, soa música celestial. “Esse padrão não é improvisado”, diz o neurologista. “É um processo de aprendizagem do que vivemos em nossa família e nosso ambiente. Vamos criando uma imagem de qual é a pessoa que, em princípio, se encaixaria mais com a nossa forma de ser.” Como diz o psicólogo Juan Cruz, essa imagem ideal se baseia em nossas vivências. “A memória tem um papel fundamental. Quando você se lembra de experiências positivas com seres queridos e encontra pessoas com características similares, o cérebro associa as recordações com elas. E sentimos essa afinidade. Isso ocorre em décimos de segundo.”
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Fonte: texto de Miguel Ángel Bargueño para El País, 20/07/2017.