Artigos e Reflexões

Defender o retorno da ditadura é torturar o Cristo, é levá-lo ao flagelo e morte novamente

Por Marcos Aurélio dos Santos *

 

A ditadura militar no Brasil ficou marcada na história como um período de horrores e medo. Foram tempos sombrios, chamados anos de chumbo, tempos de opressão, tortura e morte. Muitos foram assassinados, muitos corpos até hoje nunca foram encontrados, algumas das vítimas dessa cruel ditadura estão vivos para contar suas histórias, contam sobre cenas de desespero e horror, pessoas que resistiram às torturas em seus corpos e mentes, ainda que, carregando em suas vidas fortes sequelas das diversas crueldades que sofreram. Pensar que muitos líderes de Igrejas cristãs apoiaram a ditadura, a ponto de entregarem seus irmãos e irmãs de fé para as forças de repressão do governo nos causa tristeza e indignação. Traidores do Cristo!

O AI-5 foi um mecanismo fascista que buscou impor uma ditadura aos direitos do povo. Permitia fechar o congresso, cassar mandatos políticos, reprimir a imprensa, prender e torturar os subversivos, instrumento de fortalecimento do DOI-CODI, lugar onde aconteciam torturas e em muitos casos, mortes. Os alvos foram os opositores políticos, imprensa, uma repressão a todos que fossem considerados subversivos aos olhos do governo. O AI-5 foi um mecanismo próprio dos que odiavam a vida, que desprezavam o bem e a paz entre as pessoas, dos que exaltavam a barbárie, dos se esforçavam na prática da desumanização da sociedade. Preferiam torturar e matar, isso em nome da “pátria amada” e de Deus.

É preciso dizer que os seguidores do Cristo devem trilhar por outro caminho. Caminho de libertação que exalta a paz, a democracia e a justiça. Como voz profética, devemos denunciar o avanço do mal com corageme e fé. Ora, por ventura Cristo não sofreu as mesmas opressões sofridas pelos nossos irmãos e irmãs nos anos de chumbo? Por ventura o Cristo não foi preso, torturado e assassinado por seus opositores? Jesus sofreu o flagelo, método de tortura aplicado aos inimigos do império, no caminho do gólgota, sofreu os horrores da crucificação, a maneira mais cruel de execução dos inimigos de Roma.

Jesus foi vítima de um sistema opresor que torturava e assassinava seus opositores. Seu movimento de libertação foi uma ameaça a esse sistema, que olhava para Jesus com temor e ódio. Jesus foi uma ameaça aos poderosos, expôs as víceras de um sistema corrupto e opressor, que explorava os pobres, gerando uma profunda desigualdade social, sobretudo na exploração dos trabalhadoras e trabalhadores camponeses, na cobrança de impostos abusivos e o desprezo pelos doentes, viúvas e outras minorias oprimidas.

Em tempos sombrios em que vive o país, é preciso questionar sobre qual o posicionamento de grande parte dos cristãos quanto às declarações do governo Bolsonaro em favor da ditadura, sua arrogância junto a imprensa, sobretudo seus ataques às instituições democráticas, sua bajulação, amizades e exaltação a ditadores. É preciso perguntar de que lado estamos, do Cristo torturado e assasinado, ou dos que exaltam a tortura, violência e morte? A quem estamos seguindo?

 

*Integra o CEBI Rio Grande do Norte

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