Por Sebastião Catequista*
Caruaru, situada no Agreste pernambucano, com mais de 350 mil habitantes e a 136 km do Recife, é uma cidade com um comércio bastante intenso. Por ela passam transeuntes de toda a região circunvizinha e das mais variadas regiões do país dada a sua cultura e ao seu comércio. Aqui, a qualidade de vida é razoavelmente considerável para os seus cidadãos , e para aqueles que chegam em busca de uma oportunidade. Mas Caruaru também tem seus problemas, próprios de uma cidade em via de desenvolvimento: problemas que vão desde a pobreza, desemprego, drogas, violências, problemas estruturais e sociais, etc. Contudo, há esperança, vivência de utopias, mãos criativas, mãos solidárias, mãos fraternas que lutam por “outro mundo possível”.
É nesse contexto que desde o início deste ano chegaram os venezuelanos/as, índios e índias da etnia Warao. Eles/elas vieram, até onde sabemos, pela fronteira em Roraima, passando por cidades como Manaus, Belém, São Luiz, Natal e Recife. Famílias que ao chegarem passaram a conviver com a rotina da cidade e chamaram atenção pelo seu estilo de vida, causando estranheza por parte da população que pediu da sociedade e do governo municipal uma atitude.
No contato das instituições locais com o Povo Warao, há desafios enfrentados como, por exemplo, o dialeto falado; o fato de mulheres e crianças estarem nos semáforos mendigando; um local coletivo para abrigo; documentação pessoal e mais, recentemente, a inclusão nos programas sociais do governo federal, entre outros. Aliás, sobre esse último, a Caixa Econômica Federal-Escritório de Caruaru tem dado um tratamento “estranho” aos Warao, cuja providência a Rede vem tomando junto às instâncias competentes. E quem é a Rede? É o conjunto das entidades da sociedade civil, religiosa e governamental que se formou em torno dos Waraos no intuito de ajudar. A Rede tem levado muito a sério a questão, como também tem levado em consideração a fala dos Warao. É digno de nota a sensibilidade de grupos, tanto religiosos como da sociedade civil organizada em ajudar com mantimentos de primeira necessidades.
Mas algo pontual e de autonomia mesmo precisa ser feito. E nós do Cebi onde entramos nessa história? Tudo começou quando mantivemos contatos com pessoas das bases que nos informaram da situação dos Waraos. Uma vez que o Cebi estadual junto às escolas bíblicas estava planejando ajuda às famílias pobres no enfrentamento da pandemia, então resolvemoss assumir também essa luta com o Povo Warao. Aí fomos visitá-los! A partir dessa visita, podemos constatar algumas necessidades. Foram entregues por dois meses, cestas básicas com a ajuda de nossos parceiros Missionszentrale der Franziskaner- MZF e, em seguida, passamos a integrar a Rede (grupo de técnicos e entidades que estão acompanhando o caso na cidade de Caruaru). A partir daí começamos a articular uma reflexão enquanto Cebi no grupo da Rede. Nessa reflexão, trazemos a contribuição no sentido de fazer surgir a autonomia dos Waraos e somamos forças com vários profissionais, entidades e grupos para enfrentar os desafios. Além das cestas básicas e produtos de limpeza e higiene pessoal, o Cebi contribuiu com doações de redes (peça que serve para deitar, repousar, dormir) e tem exercitado muito a atitude de escuta e cooperação.
Esse capítulo da migração dos venezuelanos(as) está longe de ter um desfecho, de modo que nós do Cebi – por nossa tradição de lutas populares e da construção de uma reflexão libertadora nas bases, sobretudo entre os marginalizados, excluídos – estamos apostos como testemunhas da criança nascido na periferia de Belém e que um dia teve que migrar para o Egito. E assim nos adverte a Palavra: “Ama o estrangeiro, porque fostes estrangeiro também na terra do Egito” (cf, Dt 10,19).
*É catequista na Paróquia Nossa Senhora Aparecida-Caruaru; representante das Escolas bíblicas do Agreste junto a Coordenação estadual. Há muitos anos é militante das causas sociais.