Reflexão do Evangelho

Reflexão do Evangelho: É Tempo de Dar Meia-Volta

Leia a reflexão sobre Marcos 1,1-8, texto de João Batista de Souza.

Boa leitura!

Introdução

Animar a comunidade e pregar no 2º. Domingo de Advento, data que coincide com o Dia da Bíblia para as igrejas oriundas da Reforma religiosa do séc. 16, será, sem dúvida, uma tarefa gratificante.

A Bíblia é para os cristãos a palavra de Deus que corta profundo, que perfura, que divide, que toca na mente, na alma e no espírito, tornando claros os propósitos do coração (Hb 4,12). Assim, a celebração de hoje traz à nossa memória um dos pilares do movimento dos reformadores, que afirmavam que somente as Escrituras é que contêm a orientação correta e firme para a prática da fé cristã.

Neste domingo, a motivação da Palavra é um convite ao arrependimento, a uma mudança de mentalidade. É hora de dar meia-volta e caminhar na contramão da história. É hora de ir contra as falsas ideologias dominantes, pois o reino de Deus é chegado e precisamos vivenciar este momento novo na história da humanidade.

É Tempo de Dar Meia-Volta

Vivemos hoje entre o já e o ainda não do reino de Deus. Isto é, o Reino já irrompeu com o advento de Jesus, mas ainda não está estabelecido de forma definitiva. Neste período de espera, como é natural, vivemos entre tensões: de expectativa do segundo advento, medo, indecisões mescladas com alguns momentos de tomada de posição mais firme. É um tempo marcado por altos e baixos na caminhada da Igreja. Isso ocorre porque nem sempre entendemos o tempo de Deus (2 Pd 3,8-13). Mesmo assim, somos a esperança de salgar e iluminar a sociedade.

Outro fator que contribui para o aumento da tensão na caminhada é o fato de que estamos inseridos numa sociedade, agora pós-moderna, onde proclamam o fim da história com a hegemonia do capitalismo neoliberal, que apresenta um falso reino de paz. Nesta conjuntura, muitas vezes a Igreja se encontra contaminada por essas ideologias, perdendo de vista os valores do verdadeiro reino de Deus.

Quando João Batista percebeu que era chegado o tempo de iniciar sua missão, começou seu movimento de precursor, conclamando o povo ao arrependimento, como um momento de preparação para começar a viver o novo tempo de Deus que estava para chegar. Da mesma forma, somos chamados hoje como Igreja a esse momento de arrependimento e penitência. Precisamos buscar o perdão e adquirir as forças do Espírito Santo para que possamos vivenciar e proclamar os valores do reino de Deus. Isto é, mesmo com pequenas ações, começando com os pequenos, os pobres, ir oferecendo alternativas de vida, de política e de economia. Tudo isto, na esperança e expectativa de que essa pequena semente nascerá, crescerá e mudará a sociedade. É hora de dar “meia volta”, mudar de mentalidade e mudar a direção dos nossos passos. É hora de ir para o deserto e resgatar a memória do êxodo, reexperimentando o poder do Deus libertador. Acontecerá, então, o derramar de sua graça perdoadora que nos. moverá à produção de frutos e práticas que assinalem os valores do seu Reino.

Celebrar o Advento de Jesus é celebrar a presença de Deus em nosso meio. É receber seu Batismo que traz o Espírito Santo, que solidifica nossa fé e reanima-nos para a continuidade da caminhada. Receber o seu Espírito é ganhar a coragem dos profetas antigos e sermos os profetas e as profetisas desta geração. Ação profética é ação denunciadora das injustiças sociais, políticas, econômicas e religiosas.

Conhecendo a realidade da falsa proposta de paz e bem-estar social do regime capitalista neoliberal, que possui características da “paz romana”, do “pão e circo” da época da comunidade cristã em Roma, também deparamos com um gigante que obscurece toda a perspectiva de uma reflexão mais libertadora sobre o evangelho a partir da América Latina, que ilude o povo, mantendo-o na ignorância. Muitas vezes, os cristãos também se iludem com esse falso reino e suas bênçãos, deixando de salgar, iluminar e fermentar a sociedade e a história.

A espera do Advento é um convite ao arrependimento, à mudança de mentalidade, à mudança de rumo. É um convite a dar lugar a ação do Espírito Santo que ilumina nossas mentes, nossos passos e nos dá a coragem de profeta para proclamar e implantar o reino de Deus.

Bibliografia

JEREMIAS, Joachim. Teologia do Novo Testamento. São Paulo, Paulinas, 1980. p. 72-77.
KÜMMEL, Werner Georg. Síntese Teológica do Novo Testamento. São Leopoldo, Sinodal, 1983. p. 29-31.
LOHSE, Eduard. Introdução ao Novo Testamento. São Leopoldo, Sinodal, 1985.
MOSCONI, Luis. O Evangelho segundo Marcos. São Leopoldo, CEBI, 1989.

Fonte: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1996 / Volume: 22 – www.luteranos.com.br/conteudo/marcos-1-1-8-1

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