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SOUC 2020: pela primeira vez, pastora prega no Convento da Penha

A Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC), edição 2020, foi especial por vários motivos. Um deles é este: pela primeira vez na história, uma pastora pregou no Convento da Penha, em Vila Velha, no Espírito Santo. Pastora Odete Liber de Almeida Adriano¹, representando a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), encerrou a participação de pastores de Igrejas Cristãs nas Missas da tarde promovidas no Convento, por ocasião da SOUC. Foi um momento ímpar!
Afirmando que “o Reino de Deus é dos que, pelas regras sociais estabelecidas, estão à margem” a pastora também enfatizou o papel do amor na abertura para a unidade. “É o amor que nos proporciona esse encontro, amor que é intenso e, que, por isso, rompe barreiras. Amor que faz servir, que nos torna servos e servas, razão pela qual mesmo sendo os últimos, somos os primeiros, pois no Reino de Deus há lugar para todos e todas”, disse.
A missa foi presidida pelo Frei Pedro de Oliveira que, recordando o tema da Semana de Oração, falou da importância da comunhão cristã na promoção da gentileza e dos dons comuns entre as pessoas que professam a fé em Jesus Cristo.
A seguir, confira a prédica da pastora Odete na íntegra:
Gentileza gera gentileza – a gentileza fora do comum
A gentileza é o tema desta Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. A gentileza nos trouxe aqui. Eu digo: como é bonito quando nos reunimos em nome de Deus, como irmãs e irmãos da fé. Cada um de nós, de lugares diferentes, de formas diferentes de crer e amar a Deus e de adorá-LO. É o amor que nos proporciona esse encontro, amor que é intenso e, que, por isso, rompe barreiras. Amor que faz servir, que nos torna servos e servas, razão pela qual mesmo sendo os últimos, somos os primeiros, pois no Reino de Deus há lugar para todos e todas.
Na primeira leitura de hoje, no livro de Atos dos Apóstolos, durante a viagem de Paulo para Roma, depois de traumas e conflitos, da tempestade no mar, o cuidado oferecido pelos habitantes da ilha foi percebido como uma gentileza fora do comum pelos que estavam encharcados na praia. A fogueira expressa a solidariedade humana, gentileza própria da nossa humanidade. O Evangelho nos ensina que, quando cuidamos das pessoas que estão sofrendo, demonstramos amor pelo próprio Cristo (Mateus 25,40).
A segunda leitura, Lucas 14,15-24, nos mostra que Jesus estava numa ceia festiva, na casa de um dos líderes dos fariseus, era observado por todos e observava a todos (Lucas 14,1). Ele notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares e, naturalmente, numa conversa, contou-lhes uma parábola: “Um certo homem fez uma grande ceia, e convidou a muitos…” Diz o texto que esse homem, provavelmente rico e distinto, convidou um grupo seleto para um banquete, um jantar. Foi o convite: “Vinde, porque agora está preparado”. O que aconteceu? Como se tivessem combinado entre si, de uma só vez, todos recusam o convite. Qual a reação do hospedeiro? De desgosto. E o dono da casa manda seu empregado convidar os primeiros que encontra na rua: pobres, aleijados, cegos e mancos. São os tapas buracos, pessoas excluídas da sociedade. E como a casa não ficou cheia, o dono da festa manda seu servo buscar os andarilhos e desabrigados. Surpresos por tal convite, os convidados resistem. O servo recebe a ordem de puxá-los pelo braço: “obriga a todos a entrar” (Lucas 14,23). Os primeiros foram substituídos pelos doentes, pobres, andarilhos e desabrigados. Como os primeiros desprezaram esta honra, os desprezados passam a receber tudo o que fora preparado. O banquete era agora para eles.
Jesus utiliza uma situação cotidiana para trazer uma mensagem que ultrapassa uma simples história de um jantar malsucedido. Ele fala sobre o Reino de Deus, pão, mesa, partilha. O reino de Deus não admite discussão sobre quem é o maior, o mais importante ou quem merece o primeiro lugar. O núcleo é a questão dos últimos e dos primeiros, de quem serve e de quem é servido. Jesus ensina os valores do Reino de Deus, dos primeiros e últimos, radicalizando ao absurdo, para mostrar que estes valores invertem as regras estabelecidas pela sociedade. O Reino de Deus é festa, é o banquete da ressurreição dos pobres, dos aleijados, coxos e cegos. O Reino de Deus é dos que, pelas regras sociais estabelecidas, estão à margem, dos tolos e desvalidos, dos loucos e estropiados, das crianças, das mulheres, dos que fazem um carnaval escatológico invertendo as regras, vivendo a impossível exceção. O reino de Deus é pão, é mesa na qual todos sentam-se juntos.
No texto, “últimos” não indica apenas um lugar social, não é apenas o lugar em que se encontram os que são objetos da filantropia e da caridade. Os “últimos” não são um subproduto, dignos de pena, de dó, compaixão. Para o evangelho, os últimos são o eschaton, o fim da história, são a linha do horizonte, o fim de um mundo e o começo de um novo mundo. O lugar dos últimos é o lugar do juízo, onde o velho vira novo e a morte ressurge em vida, o lugar da graça e da maldição, por isso, lugar de epifania. É a margem que vira centro, que se torna o eixo em torno do qual gira o mundo.
A falta de conhecimento dos sábios e a fraqueza dos fortes não está em criar os últimos ou em criar a pobreza, a marginalidade, o desemprego, mas na sua incapacidade de pensá-los como margem, como periferia. Na parábola, os primeiros desprezaram a honra do convite e os desprezados receberam tudo o que fora preparado: festa, pão, bebida, alegria. Pão é “tudo o que pertence ao sustento e às necessidades da vida, como, por exemplo: comida, bebida, vestes, calçado, casa, lar […], paz, saúde […] (Lutero)”. “Pão” diz respeito ao que confere dignidade à vida humana. Os indignos fizeram parte da festa que era para os considerados “dignos da sociedade” daquela época.  
Creio que esta parábola traz para nós um chamado que é o de estar com os últimos, escolher os últimos lugares junto a eles, permitindo que o novo se estenda além da linha do horizonte, pois a vida surge do outro lado de quem vive a morte. Servir no seguimento de Jesus não significa subir e dominar sobre os outros, mas procura-se justamente o orientar-se para baixo. Ou seja, não se pode ter ou haver domínio de pessoas sobre pessoas. Estamos para servir, somos todas/os servos e servas, somos feitos e chamados para servir. Somos chamados para alimentar com gestos concretos a esperança de que é possível construir uma sociedade justa.
Então podemos dizer que toda “mesa de partilha”, é banquete restaurador preparado por Deus (Salmo 23,3.5). De modo semelhante, a Eucaristia ou Ceia do Senhor providencia alimento para nossa jornada e nos reorienta para a vida em Deus. Enquanto nos desafia para a partilha, somos fortalecidos. Servir representa para a Igreja e para as pessoas o esforço de construir mesas, como afirma Rodolfo Gaede Neto:
  • Mesas como espaços abertos, para os quais as pessoas são convidadas sem prévia seleção; ou mesas que superam a barreira da velha lista dos iguais; 
  • Mesas como espaços de partilha do pão, para que todas as pessoas possam comer e se fartar (o banquete da vida);
  • Mesas em que as pessoas se encontram com suas diferenças; aí todos e todas estão na mesma condição de convidados e convidadas do mesmo anfitrião, cabendo-lhes aceitarem-se e respeitarem-se mutuamente como irmãs e irmãos; superadas as atitudes fundamentalistas e a inveja entre irmãos, poderá haver cooperação na causa comum da solidariedade;
  • Mesas como espaços de reconciliação nos níveis social, econômico, político, cultural e religioso; como lugar de testemunho do projeto de Deus de reconciliação dos seres humanos divididos. 
Mas fica ainda a indagação: Como fazer isto no dia a dia? Somos chamados/as a servir. Servir não se resume a assistencialismo, apenas doar alimentos, roupas, dinheiro. Servir significa caminhar com quem sofre, ajudar alguém a levantar-se, ouvir o outro, orar pelo outro, dar um abraço, um sorriso. Lutar para que tenhamos direitos permanentes, leis eficazes, eficientes, que propiciem mudança vida digna para todas as pessoas. 
E mesmo que olhemos para nossa sociedade injusta e desigual, aguardamos o dia em que tod@s @s crist@os poderão partilhar a mesma mesa da Ceia do Senhor e se fortalecer a partir de um mesmo pão e uma mesma taça.
Gentileza gera gentileza. O banquete da parábola foi uma gentileza fora do comum. Estarmos hoje aqui nesta tarde, no Convento da Penha, é uma gentileza fora do comum, que alegra nossos corações, e que incentiva as pessoas a caminharem unidas como irmãos e irmãs, pois ansiamos pela unidade cristã. E a mesa da Vida (que é o Cristo) é para tod@s. É nesse sentido que a prática evangélica se converte para o mundo como um reflexo da antecipação do Reino de Deus. Deus nos abençoe!
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¹Pastora Odete é ordenada pela Igreja Metodista e, atualmente, encontra-se em processo de postulância às sagradas ordens pela IEAB.
Fotos: Reprodução
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