via CONIC*
“Mas Jerusalém, ainda há tempo para a sua salvação.Lave o mal de seu coração e pare de fazer planos pecaminosos” (Jeremias 4:14)
Desde há algum tempo, temos assistido ao desmonte de direitos sociais, trabalhistas e previdenciários que tem trazido imensos prejuízos, especialmente as pessoas mais vulneráveis em nosso País.
Isso por si só já tem sido objeto de preocupação pastoral de nossa Igreja e temos afirmado isso em diversos posicionamentos pastorais na qualidade de Câmara Episcopal da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.
Há, no entanto, fatos novos e ainda mais preocupantes que nos chamam a atenção por seu caráter perverso, insano até, de se estimular a partir da política oficial dos órgãos governamentais, e do próprio Presidente da República em pessoa, a violação do direito à vida, ao meio ambiente e à dignidade intrínseca das pessoas.
O assassinato de liderança indígena Emira Waiãpi por ocasião de uma invasão armada à sua aldeia, devido aos interesses de garimpeiros de explorar a área, mostra bem que este governo patrocina, por omissão e ação, um projeto de morte. As pessoas não são prioridades. A prioridade é o lucro e quem se opor a este projeto será eliminada, não interessa se sejam defensores de direitos humanos, indígenas ou quilombolas. O Presidente ainda tem a coragem de levantar dúvidas sobre a autoria do assassinato, inclusive antes que as investigações apontem os responsáveis. E ainda tenta criminalizar os movimentos de defesa dos povos indígenas.
Outro fato a se considerar seriamente é a afirmação preocupante do Presidente da República contra o Presidente da OAB, dizendo que um dia explicaria a este último como o pai dele, Fernando Santa Cruz de Oliveira, desapareceu nos porões da ditadura. E ao fazer esta afirmação ao vivo, o fez sem esboçar nenhuma empatia, nenhum respeito à família. Não é a primeira vez que isso é feito, mas é a primeira vez que se afirma conhecer a prática de um crime sem cumprir a sua responsabilidade de servidor público número um da Nação.
Isto nos preocupa seriamente porque são atitudes publicamente assumidas por quem deveria ser guardião dos direitos e garantias individuais da Constituição.
Em nosso ministério episcopal, trabalhamos com pessoas, com seus sentimentos, esperanças e angústias. Por esta razão, manifestamos nosso repúdio a esse tipo de comportamento que, lamentavelmente é sublinhado por algumas lideranças religiosas que se afirmam como cristãs.
Este não é o Cristo que confessamos. O Cristo que afirmamos é aquele que encarnou nossa natureza, nos amou profundamente e deu a sua vida exatamente para que a morte não se tornasse a marca da sociedade. Nosso Deus nos convida a estar do lado das pessoas pobres e exploradas. A vida é o fundamento do reino de Deus. Qualquer regra ou prática que banalize a vida, a natureza e a dignidade de todos os seres, deve ser condenada como obra do Maligno.
Conclamamos nosso povo a orar e a vigiar. A testemunhar por palavras e obras o nosso compromisso com o Reino de Deus.
Com nossas orações e bênçãos,
Câmara Episcopal
- Bispo Naudal Alves Gomes, Diocese Anglicana do Paraná e Primaz Bispo Maurício Andrade, Diocese Anglicana de Brasília
- Bispo Renato Raazt, Diocese Anglicana de Pelotas
- Bispo Francisco de Assis da Silva, Diocese Sul-Ocidental Bispo Humberto Maiztegui, Diocese Meridional
- Bispo João Câncio Peixoto, Diocese Anglicana de Recife
- Bispo Eduardo Coelho Grillo, Diocese Anglicana do Rio de Janeiro
- Bispa Marinez Rosa dos Santos Bassotto, Diocese Anglicana da Amazônia Bispo Clóvis Erly Rodrigues, Emérito
- Bispo Almir dos Santos, Emérito Bispo Celso Franco, Emérito
- Bispo Jubal Pereira Neves, Emérito Bispo Orlando Oliveira, Emérito Bispo Filadelfo de Oliveira, Emérito Bispo Saulo de Barros, Emérito
–
Publicado originalmente no site do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil.