por Narcizo Machado*
Com arte e debates Regional Nordeste reflete sobre patriarcalismo e comemora os 40 anos do Cebi
Entre os dias 11 a 14 de julho, o estado de Sergipe recebeu representantes dos estados do nordeste e de estados convidados, membros do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI). Nas terras do Cacique Serigy, o encontro ocorreu na capital, Aracaju. Sob a condução da pastora metodista, Nancy Cardoso, o grupo refletiu sobre o patriarcalismo e seu projeto ainda atual e presente em nossa sociedade.
Nancy fez um apanhando histórico, e levou o grupo a um passeio por vários períodos do povo de Deus, tendo como auxílio passagens bíblicas. Mostrou a permanência da cultura de superioridade dos homens nas relações sociais, e o quanto a mulher é propositadamente anulada nos registros históricos.
As reflexões levantaram debates importantes e ajudaram os homens presentes no evento a entrarem em questionamento. Esse movimento, favoreceu o início de um processo de desconstrução quanto aos conceitos aprendidos e impregnados em suas práticas, consequências da cultura patriarcalista que impulsiona o machismo, a misoginia e uma série de outras atitudes preconceituosas e racistas, que se opõem a plena implantação do Reino de Deus.
A dinâmica usada por Nancy favoreceu a integração entre os participantes. Assim avaliou a jovem estudante Ana Beatriz, do Cebi de Maceió-AL: “Achei bem dinâmica a força que ela trabalhou, não teve aquilo de cada um fica com o grupo que veio, ela simplesmente misturou todos e foi isso, amei” analisou.
As mulheres aproveitaram o encontro para reforçar suas lutas, reafirmar sua organização e fortalecer a unidade em torno das pautas feministas que buscam superar a cultura patriarcalista ainda presente nos dias atuais.
Não bastava simplesmente teorizar, era necessário fazer a experiência. Com auxílio de técnicas de trabalho em grupo e de metodologia de integração através do teatro, a assessora Nancy Cardoso desafiou o grupo a experimentar realidades vividas pelas mulheres e nem sempre percebidas pela nossa crítica diária.
Os homens foram convidados a experimentar o uso da burca e as formas de sentar culturalmente exigidas das mulheres. “Essa formação me possibilitou aprofundar a reflexão sobre as lutas das mulheres e também a me colocar no lugar delas. É muito diferente ouvir falar do que sofrer na pele. Através das leituras e dinâmicas, pude perceber os desafios que as mulheres têm, cotidianamente, assim como percebi que é tarefa de homens e mulheres construir uma sociedade mais justa, fraterna e participativa”, afirmou Carlos Nunes, que é baiano e atua em Sergipe na articulação da Pastoral da Juventude.
Presente no evento, a diretora do CEBI Nacional, Fátima Castelan comemorou o resultado obtido com o seminário nacional realizado no Nordeste. “Foi uma oportunidade de praticar a Leitura Popular da Bíblia, com um grupo muito disposto a participar, interagindo de forma plena, de corpo inteiro, no processo de interpretação dos textos da Bíblia e da vida. Foi lindo ver a integração das juventudes com as pessoas de mais tempo no Cebi. Saímos todas e todos com o desafio de seguir fazendo a Leitura Popular Libertária da Bíblia, praticando a crítica, autocrítica e criatividade”, analisou.
Prestação de contas
A diretora Fátima Castelan e a representante do nordeste na direção nacional, Silvia Maria, fizeram uma prestação de contas da caminhada do triênio que se encerra em 2020. Desde a realidade financeira, até a atual realidade em que os membros do Conselho Nacional e da Direção são chamados a, mais que representar, são chamados ao serviço efetivo, se pondo em ação para as ações administrativas e coordenação de todos os campos de ação do Cebi.
Integração e Celebração
Na noite do sábado, dia 13, foi realizada a celebração dos 40 anos de caminhada do CEBI. Cada estado presente apresentou seu jeito próprio de fazer ecoar a leitura popular. Cada estado do nordeste teve espaço para lembrar passos de sua caminhada, lembrando dificuldades e superações.
Os estados convidados também fizeram apresentações, a exemplo do Paraná, que teceu uma verdadeira colcha de retalhos trazendo detalhes de sua firme caminhada. Os fundadores do Cebi em 1979 foram lembrados por todas e todos com carinho e a missão do Cebi foi reforçada, levando o grupo a lembrar do “primeiro amor” e da necessidade de reforçar o trabalho na e com a base.
As apresentações foram coloridas, cantadas, dançadas e musicadas, a celebração do Cebi Nordeste usou a arte como veia de transmissão, por onde passaram os 40 anos de história do Cebi por todo Brasil.
Música militante
Do talento de uma jovem professora e militante, Amanda Luiz, surgiu a música que detalhou a história do Cebi Ceará.
Confira o áudio da música de Amanda Luiz:
Aquecidas e aquecidos pela humanidade e pela paixão da defesa da vida, mulheres e homens celebraram o encerramento do encontro reconfirmando o compromisso com este novo ciclo da caminhada do CEBI no Brasil. Pisando no chão desse Brasil desigual e ainda patriarcal, todas e todos que fazem o CEBI-Nordeste assumiram o desafio de permanecerem tentando levar e receber luz através da leitura popular e libertadora da Bíblia.
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Partilha de Narcizo Machado.