por Tomaz Hughes*
“Se vocês não se converterem, vão morrer todos do mesmo modo” (Lc 13,1-9)
Essa passagem somente se encontra no Evangelho de Lucas e ensina os discípulos que Jesus é compassivo com as falhas, fraquezas e limitações humanas; mas, que também tem exigências para quem quer segui-lo. Ele nos convida à conversão, antes que seja tarde demais!
O trecho começa com o relato feito por algumas pessoas referente ao fato ocorrido em Jerusalém, quando Pilatos matou um grupo de galileus durante o sacrifício no Templo (não temos informações sobre esse acontecimento de outras fontes). Na época, sofrer desgraças como doença, pobreza ou morte prematura, era visto como castigo de Deus por ser pecador.
Podemos lembrar a pergunta feita a Jesus sobre ao homem cego de nascença, no Evangelho de João: “Os discípulos perguntaram: Mestre, quem foi que pecou, para que ele nascesse cego? Foi ele ou os pais dele?” (Jo 9, 2). É a “Teologia da Retribuição”, onde Deus premia ou castiga segundo os méritos da pessoa, ou melhor, segundo o que o sistema vigente entende por mérito. Assim se anula a gratuidade e a bondade misericordiosa de Deus; e, os excluídos da sociedade são vistos como culpados do seu próprio sofrimento.
Infelizmente essa teologia, tão anti-evangélica, está muito presente hoje, quando a prática religiosa, ou o dízimo, são entendidos como “investimento” para receber retornos de Deus. É claro que também essa teologia funcionava, e funciona, em favor da elite dominante, pois a sua riqueza é explicada como proveniente da bênção de Deus, e não como, frequentemente, resultado da exploração e/ou de um sistema econômico injusto. Jesus não autoriza tal interpretação, e falando também de outro acidente em Jerusalém que matou dezoito (v. 4), mostra que Deus não castiga assim. Esses acontecimentos trágicos podem servir para que todos pensem na insegurança da vida, e na urgência de conversão, enquanto ainda há tempo! Todos nós precisamos estar preparados para enfrentar o julgamento de Deus, através de uma vida digna de discípulos.
Os versículos 6-9 formam a parábola da figueira. Muitas vezes as parábolas comportam mais do que uma explicação válida. A parábola de hoje tem dois lados – como parábola de compaixão e como parábola de crise! Na primeira interpretação, Deus sempre dá ao pecador (simbolizado no texto pela figueira que não dava fruto) mais uma chance.
Assim toca em um tema central de Lucas, que é a misericórdia e a compaixão de Deus. Na segunda interpretação, mexe com os acomodados e desligados entre os discípulos, que só “esgotam a terra” (v. 7), ou seja, estão na comunidade como peso morto, sem contribuir nada a ela. Tais pessoas devem converter-se para dar os frutos de uma vida do discipulado, ou correr o risco de serem cortados da vinha do Senhor!
Quaresma é um tempo oportuno para uma reflexão sobre a nossa vida cristã, tanto como indivíduos como participantes de uma sociedade, cujas estruturas muitas vezes também não estão de acordo com a vontade de Deus, destruindo a nossa “casa comum”, o nosso Planeta, por exemplo. É claro que todos nós somos pecadores, e, então, em permanente necessidade de conversão.
A parábola nos anima diante das nossas fraquezas, pecados e tropeços na caminhada, pois Deus é compassivo, e Jesus sempre nos convida a voltar ao bom caminho. Do outro lado, a Quaresma também deve nos estimular para que busquemos na verdade os caminhos de conversão, descobrindo onde e como somos “figueiras sem frutos”, buscando o “adubo” (v. 8) da oração, da Palavra de Deus, dos sacramentos, da Quaresma, para que voltemos a produzir os frutos devidos a verdadeiros/as discípulos/as de Jesus.
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Artigo de Thomaz Hughes (em memória), partilhado pelo autor.
Foto de capa: Sharon Cummings & Sheri Davenport