por Marcelo Barros*
Para todos os que trabalham pela justiça e pela paz entre os povos e pela igualdade entre todos os seres humanos, este dia (15 de janeiro) é marcado pela memória do pastor negro Martin-Luther King que, há 50 anos, conduzia nos Estados Unidos a luta da população negra pela igualdade social e por seus direitos civis. Enquanto ele vivia, a grande mídia norte-americana tentou destruí-lo de todos os modos possíveis. Depois que ele foi assassinado, fez dele um herói. O dia do aniversário de seu nascimento, 15 de janeiro, foi consagrado como feriado nacional, celebrado sempre na terça segunda feira de janeiro (neste ano, será no próximo dia 21).
Nesse Brasil de Bolsonaro, o novo secretário da ministra Damaris se declarou pastor na linha do Martin-Luther King. Penso que o mártir norte-americano não deve ter gostado da comparação. O secretário quis comparar que o pastor pode ter um cargo político e ele pode ajudar na questão dos direitos humanos. Como se fará isso em um governo que opta pela violência, discriminação contra minorias e perseguição aos índios e apoio aos latifundiários?
Nos Estados Unidos, apesar da vitória que o pastor Luther King conseguiu contra a discriminação racial, o país não somente não eliminou o apartheid social e econômico, como hoje tem mais gente – cidadãos nascidos no país – abaixo do nível da pobreza e em uma situação de riscos muito maior.
Na América Latina, quase sempre, ser negro é sinônimo de ser pobre. A África do Sul superou o apartheid político, mas mantém uma imensa desigualdade racial, baseada na divisão econômica. Com relação a isso, ainda ressoam as palavras do pastor Martin-Luther King: “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons. Mais do que a violência de poucos, me assusta a omissão de muitos”.
Ele explicava: “Uma pessoa que não descobriu nada pela qual aceitaria morrer, não está ainda pronta para viver”.
Onde ele mais expressou essa causa maior pela qual viver e lutar foi no célebre discurso, considerado por várias pesquisas o discurso mais importante feito nos Estados Unidos, durante o século XX. Nos degraus do Lincoln Memorial em Washington, ao encerrar a marcha por direitos civis e igualdade de emprego, diante de mais de 200 mil pessoas, no 28 de agosto de 1963, o pastor Martin- Luther King começou seu discurso dizendo: “Eu tenho um sonho”.
Apesar de ter sido proferido há quase 50 anos, suas palavras ainda se mantêm atuais e proféticas. O sonho dele era viver em um mundo no qual os seus filhos negros pudessem andar de cabeça erguida e conviver de igual para igual com seus colegas brancos, freqüentar os mesmos colégios e participar dos mesmos ambientes sociais. “Sonho com um mundo no qual possa ver meus filhos julgados por sua personalidade e não pela cor de sua pele”.
Era o sonho de ver o mundo superar as divisões raciais e sociais que ainda tornam esta terra um vale de lágrimas e injustiças.
Há quem se pergunta: Será que a humanidade de hoje ainda é capaz de sonhar? Apesar de todas as repressões e violências, inclusive das derrotas que sofremos, podemos sim responder que temos um grande sonho e o estamos começando a realizá-lo. Também, em vários países de todo o mundo, boa parte da juventude e da humanidade mais sadia têm se manifestado a favor de uma nova organização social e econômica do mundo. Acreditamos que esse sonho é possível e urgente de ser realizado.
Para quem vive uma busca espiritual, seja em alguma religião organizada, seja de forma mais independente, a espiritualidade é a capacidade de sonhar e a opção de viver para tornar realidade aquilo que sonhamos. Toda a Bíblia pode ser lida a partir da revelação progressiva de um projeto divino de paz, justiça e comunhão entre os seres humanos e com a natureza. Em outro discurso, o pastor Martin-Luther King nos recordava:
“Lembremo-nos de que existe no mundo um poder de amor que é capaz de abrir caminho onde não há caminho e de transformar o ontem escuro em um amanhã luminoso”.
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