Confira o artigo especial desta semana para o projeto Voz Popular. Quem escreve é Eliete Bezerra, teóloga, colunista do CEBI e pesquisadora da Cultura do Encontro.
Boa leitura!
Encontro de Jesus com a Mulher Samaritana
Despertar do Encontro transformador
O que me motivou a escrever este artigo foi escutar, de forma irônica, de uma mulher e de um homem que, todas as mulheres agora só querem falar e serem “empoderadas”. O que os inco-moda? A participação? Ao olharmos a nossa sociedade escutamos muito falar de empoderamento, o marketing a utiliza para conseguir seus interesses comerciais. Mas, sem ser pessimista, vemos também expressões de Empoderamento abraçando a parceria libertadora, contra todas as formas de opressão seja ela na vida das mulheres e dos homens, nas situações onde a vida se encontra ameaçada por todo e qualquer ato de violência: preconceito, discriminação, falta de liberdade de expressar seu pensamento, entre outros.
Ao olhar para as cenas bíblicas enxergamos uma paisagem de expressão de Empoderamento, sendo que aqui no texto trabalhamos a ideia de Empoderamento com o sentido transformador pessoal, social, comunitário de Paulo Freire.
“Jesus chama o homem da mão seca para o meio, no centro, na participação e inclusão, a cura acontece, o homem fica curado” (Mc 3, 1-6; Lc 6, 1 – 11);
Jesus habita a casa de toda forma de exclusão (Lc 9,1-10); a insistência da Mulher Cananeia abre diálogo de inclusão (Mt 15,21-28; Mc 7,24-28).
No encontro de Jesus com a Mulher Samaritana no relato de João 4, 1-42, a Mulher da Samaria é despertada a acreditar em sua força feminina que a faz deixar, “chutar”, quebrar. O velho cântaro de formas de desencontros que não saciava seu ser feminino marcada pela exclusão da sociedade civilreligiosa. Impulsionada pela Ruah “água viva” experiência a fonte de vida livre e fecunda.
Bíblia na Vida
Olhando para a nossa sociedade encontramos realidades de desencontros com a vida, fontes secas ou poluídas, como resgatar as fontes de vida que rega a vida humana de dignidade? Onde se encontra as Samaritanas e os Samaritanos na nossa humanidade? Pessoas sem nome, excluídos da participação da sociedade humana, sem direito de ir e vir, com fronteiras que a aprisionam sua dignidade?!
No processo de “empoderar-se” a Mulher Samaritana, sem nome, encontra sua identidade no despertar da força feminina, no sagrado que a habita, e “faz jorrar rios de água viva” (Jo 4,14) que encontra no processo dialogal com Jesus. Na beira do poço da proximidade a Mulher Samaritana, vive seu processo transformador.
Vida “escaldante” de preconceitos de cor, gênero, religião, vão sendo transformados pelo acolhimento, respeito, que brota da aproximação do caminho do encontro de relações inclusivas e humanitárias. No caminho do encontro a vida tem nova dinâmica, que a faz perceber e deixa impelir da força da vida que é gerada em seu ser feminino.
Esta força o impulsiona a sair correndo e ser a protagonista, segundo João ao anunciar o Evangelho na Samaria as suas conterrâneas e seus conterrâneos.
Hoje, trazemos à beira do poço do Empoderamento transformador, os acontecimentos de agressões físicas, social, psicológicas, sociopoliticas, misoginia, misangria, feminicidio, realidades de desencontros que violenta o cuidado com a seiva da vida.
No “poço” messiânico a discriminação e a opressão são substituídas por processos de diálogo que fazem-me caminho, método de encontro. Vida dialogal.
Temos sede de relações inclusivas na comunidade humana, que seja tecida pelo respeito e dignidade. Sede de viver o discipulado de iguais” à brisa do sopro da Ruah. Emergir vida nova, na imersão da “água viva”, do caminho do encontro, no seio da vida nova que faz “jorrar” cultura empoderada do despertar, cuidado e cultivo de relações navegadas não na água parada, sem vida, mas no Poço do Encontro, onde todo gênero humano faz a experiência da liberdade no fundamento da vida.
Com a Mulher Samaritana dizemos:
“Senhor, dai-nos sempre dessa água”. Que água? Água que não cria muros, mas cria rios onde a água chega a toda criação. Água que não tem fronteiras, mas é mar aberto onde a comunidade humana navega livremente na sua “casa comum”.
Água, fonte de toda vida. Água onde todas e todos fomos geradas e gerados no útero de nossas mães, lá todas e todos mergulhadas e mergulhados navegávamos na imersão e emergimos no encontro empoderador na força da Ruah que gera vida nova.
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Fonte: Texto de Eliete Bezerra, teóloga, colunista do CEBI Colunistas Voz Popular, pesquisadora da Cultura do Encontro.