No encontro do mês de setembro/2017, o Grupo de Vivência Ecumênica de Goiânia refletiu sobre as Reformas que as igrejas necessitam atualmente. Iracides Quixabeira, da igreja Batista e facilitadora do dia, ponderou que para se pensar sobre as reformas atuais, é necessário fazer uma breve contextualização do ambiente propício ao Movimento da Reforma, que culminou em 1517.
Feito isso, Iracides partilhou que, diante de tantas denominações cristãs e variados estilos de lideranças religiosas, parece não haver sentido falar em uma Reforma padronizada, mas em “Novas Reformas”. Ela diz:
“contudo, se quisermos apontar caminhos para um reavivamento deste multifacetado cristianismo que vivenciamos, parece ser adequado partir da reafirmação dos cinco princípios defendidos pelo Movimento da Reforma”, sendo assim ressignificados:
Sola Scriptura: somente a Escritura encarnada. Sola Fide: somente a fé evidenciada pelas obras (Tiagao 2:17). Sola Gratia: somente a graça, pela cruz. Solus Christus: somente Cristo, caminho que dá acesso universal ao Pai. Soli Deo Gloria: Glória somente a Deus, de modo que nossa fé se torne conhecida pelas nossas obras de amor (e não pela igreja que congregamos).
A Pastora Patrícia Bauer (IECLB) adverte para não se fazer do princípio Solus Christus, a causa de fortalecimento das intolerâncias contra as religiões não cristãs, sobretudo as de matriz africana e indígena.
Iracides continua dizendo que mais do que olhar para a Reforma como algo estático, é importante observá-la como um Movimento. Tanto o é, que entre os seus princípios, consta esta declaração:
“ECCLESIA REFORMATA ET SEMPER REFORMANDA EST”.
Ou seja, as igrejas precisam estar em reformas constantes. Para isso, precisam nutrir-se das Escrituras. Esse estar em Movimento, bebendo na fonte da Palavra Encarnada, aponta para os seguintes desafios:
- Reforma como Movimento do clero para a comunidade. No centro da vida das igrejas deve estar a comunidade de fé e não “um poder” que controla e alimenta as igrejas e seus modos de ser (empoderamento da comunidade de fé).
- Reforma como Movimento do dogma para a fé do dia a dia. A fé, a partir do encontro com a Palavra, deve ser discernida e afirmada na vivência comunitária. Todavia, alguns aspectos impactam fortemente a fé cotidiana e devem ser observados, pois as igrejas precisam reconhecer que estão transformando-se num espelho da sociedade e não em um espelho do Reino de Deus.
Entre estes aspectos, destacam-se como problemas a serem enfrentados:
- A crença na supremacia branca (ainda vigente nas igrejas, mesmo que dissimulada). Essa crença legitima o descaso, a exclusão e o extermínio que o povo negro vive na sociedade.
- A crença vigente na supremacia masculina. O desafio é a construção da mulher autônoma, o que implica ser ela mesma, em sua totalidade. Desse desafio decorrem outros, como a desconstrução da violência contra a mulher, seja esta violência doméstica ou não.
- Descuido com a Natureza (modelo econômico que trata os recursos naturais como mercadoria e fonte de lucro). É preciso lembrar que Deus nos deu a missão de cuidar da Criação (Gn 2:15). E, a plenitude da Vida requer reconciliação com Deus, o próximo e a criação.
- O desafio da unidade na diversidade, porque é o projeto de Deus em Jesus. Nenhum ramo do Cristianismo é uma expressão completa e inalterada do Evangelho.
- O desafio de refletir sobre as questões relativas aos gêneros (população LGBT), a fim de romper com linguagens e posturas que reforçam preconceitos.
Por fim, Iracides assinala que “Novas Reformas” exigem mudanças constantes, as quais devem contribuir para que nos afastemos das incoerências entre discurso e práticas diárias que inviabilizam nosso testemunho.
O encontro contou com a participação de sete pessoas. Sendo quatro mulheres e três homens. Do total, uma pessoa jovem.
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Fonte: Grupo de Vivência Ecumênica/CEBI, 26/09/2017.