Lideranças de 12 religiões e suas comunidades resolveram mostrar que é possível combater a intolerância e o preconceito fazendo o bem. Católicos, budistas, evangélicos, hare krishnas, umbandistas e muçulmanos, entre outros, se uniram na manhã deste sábado para promover uma grande doação de sangue ao banco do Hemorio.
A iniciativa foi do Instituto Expo Religião que nos últimos dois anos vem realizando uma série de ações de combate ao preconceito religioso, como as voltadas para inserção de mulheres muçulmanas no mercado de trabalho e contra ataques a templos de umbanda e candomblé.
“Com isso (a doação) a gente leva o intolerante a pensar. Se amanhã ou depois ele ou algum membro da sua família precisar de um sangue não vai saber se vem de uma pessoa de uma religião contra a qual ele cometeu ato de intolerência. Mas esse sangue vai salvar a vida dele. Então Isso para nós é muito importante. Por isso reunimos esse grupo de religiosos e hoje estamos aqui doando sangue e doando vida” — defendeu Luzia Lacerda, a diretora do instituto.
A estudante de biologia Vanessa Xavier, de 28 anos, que segue a religião muçulmana disse que por onde passa chama atenção pelo uso do hijab, o véu característico das seguidoras da doutrina islâmica. Ela conta que além dos olhares atravessados é comum ouvir xingamentos. Por isso, para a jovem, que doou sangue pela primeira vez, foi tão importante participar de uma ação que tinha entre os seus objetivos chamar atenção para o preconceito religioso.
“Fisicamente nunca fui atacada. Mas percebo muitos olhares estranhos. Muitas pessoas que estão caminhando normalmente na rua, às vezes param, ficam olhando com cara feia e, em alguns casos, soltam palavras baixas, coisas ruins para gente. Mas quando percebem que só queremos paz acabam mudando de atitude” — contou a jovem que relatou ainda casos de amigas que enfrentaram dificuldades no mercado de trabalho, por conta da religião.
Luciene Pereira, adepta do candomblé é outra que também conhece de perto os efeitos da intolerância religiosa. Segundo ela, não raro, os candomblecistas são vítimas do preconceito. Há inclusive registros de vários casos de ataques a templos com destruição de imagens religiosas.
“Eu acho que esse ato (de doar sangue) além de humano, mostra que a intolerância não faz sentido. O sangue que vou doar, sendo candomblecista, pode servir para uma outra pessoa que é intolerante e ela nem vai saber disso. O ato de doar é fundamental na vida de todo mundo e quem está recebendo sangue está recebendo vida. Nós (os candomblecistas) gostamos de ajudar as pessoas. Somos um povo de pacífico, de paz amor e esperança.”
O diácono Nelson Águia, da Arquidiocese do Rio defendeu a iniciativa afirmando que todas as religiões pregam o bem e o amor ao próximo. Segundo ele, a ação deste sábado, além da união das religiões contra a intolerância, era um chamamento pela vida em nome de todos os credos.
“O que estamos fazendo aqui é unir todas estas religiões em prol do próximo.”
Raga Bhunmi, do movimento Hare Krishna, viu a iniciativa como uma oportunidade de combater o preconceito e ajudar a salvar vidas. Já o budista Hakueishi Cardoso defendeu a aproximação entre seguidores das diferentes religiões.
“O preconceito gera sofrimento e afastamento das pessoas. Queremos que a vida prevaleça com esse ato.”
Dois segmentos não religiosos — maçonaria e ciganos — também participaram da campanha de doação de sangue.
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Fonte: texto de Jornal Extra, 02/09/2017.
, paraFoto de capa: Foto: Geraldo Ribeiro / Extra.